31 de janeiro de 2025
A luta pela moradia em Juazeiro do Norte precisa unir a sociedade

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Coluna | Por Rafael Silva – Militante da União Nacional por Moradia Popular

Gostaria de falar sobre um desafio que atinge o coração de nossa gente que é o déficit habitacional na Terra de Padre Cícero. Cidade da fé que move multidões e da resistência do povo nordestino, Juazeiro do Norte carrega também as marcas de uma desigualdade que nega o direito básico à moradia digna. 

Segundo estudos da Fundação João Pinheiro e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o Ceará possui um déficit habitacional de mais de 200 mil moradias e Juazeiro do Norte, como polo econômico e religioso da região, concentra parte significativa desse problema.

Aqui, atualmente milhares de famílias vivem em casas improvisadas e cortiços superlotados ou em áreas de risco sem acesso a saneamento básico, água potável ou segurança pública. Enquanto a cidade cresce como destino de romarias e turismo, muitos de seus filhos são invisibilizados pela falta de políticas públicas estruturais.

A moradia sendo garantida serve como porta de entrada para todos os outros direitos como saneamento básico, o posto de saúde funcionando, escolas e creches nas comunidades, um bom transporte público e emprego e oportunidades para os pais e mães de família e a juventude.

A pergunta, portanto, que cabe à todos nós nesse momento e constatando esse grave problema é: por que o déficit habitacional persiste numa cidade como a nossa? Abaixo alguns pontos para reflexão.

CRESCIMENTO DESORDENADO

A migração de famílias do sertão para Juazeiro, em busca de oportunidades, não foi acompanhada de planejamento urbano. Bairros periféricos se expandem sem infraestrutura, enquanto áreas centrais sofrem com a especulação imobiliária.

POBREZA E DESIGUALDADE

Mais de 40% da população de Juazeiro vive com menos de meio salário mínimo. Programas como Minha Casa, Minha Vida chegam, mas não atendem à demanda real, especialmente para quem está na informalidade.

FALTA DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

Muitas famílias ocupam terrenos há décadas, mas não têm titularidade da terra, o que as impede de acessar crédito e melhorar suas moradias. Nas comunidades carentes, a falta de esgoto e água tratada faz proliferar doenças como dengue, zika e infecções respiratórias.

VIOLÊNCIA E EXCLUSÃO

Bairros sem investimento público tornam-se territórios marcados pela vulnerabilidade social, onde jovens vem convivendo cada vez mais, em ciclos de violência. Há desemprego e falta de emprego e oportunidades nas periferias.

A dignidade negada, como disse o escritor Euclides da Cunha que “O sertanejo é antes de tudo um forte”. Mas a força de um povo não justifica que ele viva sem teto, sem paz e sem esperança.

Um dos caminhos para transformar essa realidade em Juazeiro do Norte é promover a regularização fundiária urgente, titular terras ocupadas historicamente, garantindo segurança jurídica e acesso a programas de melhoria habitacional.

Habitação popular integrada, com a construção de moradias dignas próximas a empregos, escolas e postos de saúde, evitando guetos de pobreza, pode ser um caminho a seguir.

Parcerias locais envolvendo universidades, centros do saber e do conhecimento, empresas e a Igreja (herdeira do legado de Padre Cícero) em projetos de urbanização e geração de renda.

E o mais importante: criar mecanismos e não incentivar a retenção de terrenos ociosos e priorizar o uso social da terra.

UM CHAMADO A ACAO COLETIVA

Juazeiro do Norte é mais do que um símbolo religioso é um espelho do Brasil que luta por justiça. Enfrentar o déficit habitacional aqui não é apenas construir casas, mas, reconstruir vidas e honrar a história de resistência do nosso povo.

Como ensinou Patativa do Assaré, poeta ícone cearense: “A esperança é a mãe do pobre, e o pobre é o pai da riqueza”. Que nossa esperança se transforme em ação, unindo prefeitura de Juazeiro do Norte, governo do estado, União e sociedade civil para garantir que toda família juazeirense tenha um lar.  Que o exemplo de Padre Cícero, que acolhia os pobres e desafiava as estruturas de poder, nos inspire a priorizar a vida sobre o lucro. O direito à moradia não é caridade — é justiça.

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