18 de maio de 2025
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Foto: Reuters/Chalinee Thirasupa/Direitos Reservados

Em 24 de março, Ednaldo Rodrigues foi reeleito por aclamação para a presidência da CBF, com apoio das 27 federações e dos 40 clubes das Séries A e B. Na última quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) afastou o dirigente em meio a uma intensa crise nos bastidores. Por que o panorama mudou tanto em 52 dias? O ge conta como Ednaldo perdeu tanto poder tão rapidamente.

Os opositores do presidente afastado atribuem a insatisfação de muitos dirigentes a uma razão principal: supostas traições e acordos não cumpridos por Ednaldo. Um exemplo muito citado é a relação com o interventor nomeado pelo TJ-RJ para assumir a CBF, Fernando Sarney.

Vice-presidente da CBF desde 2004, Sarney foi indicado em 2015 pelo então presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, para os Comitês Executivos da Fifa e da Conmebol. Em agosto de 2023, Ednaldo o retirou dos dois cargos – que são muito bem remunerados, com salário em dólar – e assumiu ele mesmo as cadeiras.

– Ele é a Odete Roitman do futebol. Na hora em que cair, ninguém vai saber quem derrubou – definiu um dirigente relevante em referência à personagem da novela “Vale Tudo”.

Nos últimos meses, quando perguntado sobre os movimentos da oposição, Ednaldo Rodrigues usou com frequência uma palavra: golpe.

– Sofremos todo tipo de preconceito e perseguições. Tentaram até um golpe. Resistimos e vencemos – disse ao ser reeleito em 24 de março.

Na eleição de dois meses atrás, já havia incômodo com a postura de Ednaldo, mas os dirigentes argumentam que não existia um concorrente viável. A candidatura de Ronaldo, por exemplo, sofreu resistência dos cartolas mais antigos, que consideravam inexperiente o ex-jogador e não sabiam quais eram os aliados do Fenômeno na iniciativa.

Assim, para evitar represália e desgaste, a opção foi reeleger o presidente da CBF por unanimidade. Ainda que muitos dirigentes esperassem a primeira oportunidade para pular do barco.

A oportunidade chegou com a decisão do TJ-RJ na quinta-feira. No mesmo dia, somente cinco horas depois, 19 presidentes de federações divulgaram manifesto no qual pediram “renovação” e ignoraram o nome de Ednaldo Rodrigues.

Quando a cadeira ficou vazia, imediatamente começou a negociação em busca de um novo candidato, sem que Ednaldo tivesse papel relevante nas conversas. O presidente eleito da Federação Roraimense de Futebol, Samir Xaud, é o nome preferido das federaçõesenquanto Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), se lançou candidato com o apoio de 32 clubes.

Mesmo antes do afastamento de Ednaldo na Justiça, havia sinais de esvaziamento. Na manhã da última terça, ele reuniu às pressas presidentes de federações na sede da CBF, no Rio de Janeiro, para explicar o cenário jurídico. Ao contrário de outras ocasiões, não houve manifestações públicas ou foto na sala de reuniões em demonstração de apoio ao dirigente.

Denúncias e a balança de Brasília

A edição de abril da revista Piauí publicou uma reportagem que mostrava indícios de gestão temerária de Ednaldo Rodrigues. Tratava, por exemplo, de recorrentes aumentos salariais a presidentes de federações e gastos com viagens para dirigentes e convidados na Copa de 2022 no Catar. A repercussão incomodou aliados de Ednaldo nos três poderes da República e desgastou sua imagem em Brasília.

No Supremo Tribunal Federal, por exemplo, o ministro Gilmar Mendes foi o responsável pela decisão de janeiro de 2024 que reconduziu Ednaldo à presidência da CBF um mês depois de seu primeiro afastamento determinado pelo TJ-RJ.

As histórias de centralização excessiva de Ednaldo e lentidão administrativa tornaram-se rotineiras. Uma das mais famosas nos corredores da entidade dizia respeito ao token para pagamentos que o presidente carregava para cima e para baixo. Nenhuma quantia saía da conta da CBF sem autorização do dirigente, desde valores irrisórios até pagamentos de milhões de reais.

Os casos de assédio foram levados ao Ministério Público do Trabalho pelo vereador Marcos Dias, por suposto descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta assinado após a queda de Rogério Caboclo. O MPT arquivou o caso, que depois foi levado ao Ministério Público do Rio de Janeiro.

Por ação da deputada federal Daniela do Waguinho, as denúncias também foram levadas à Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, que é independente, mas historicamente ligada à CBF – e aceitou abrir investigações das denúncias. Foi ali que Caboclo, em 2021, acabou afastado da presidência da entidade.

A assinatura e o novo estatuto

Outra questão em andamento no Conselho de Ética e que resultou na saída de Ednaldo no TJ-RJ trata da assinatura de Coronel Nunes, ex-presidente da CBF, no acordo que encerrava a disputa pelo poder na entidade. Perícia pedida pelo vereador Marcos Dias apontava indícios de assinatura falsa ou ao menos falta de capacidade cognitiva para atestar o fim da briga judicial na CBF – isto porque relatório médico de 2023 apontou “déficit cognitivo” no dirigente.

A suposta falsificação e a ausência de Nunes na audiência marcada pelo TJ-RJ contribuíram diretamente para a queda de Ednaldo. Mas havia mais argumentos no jogo de xadrez contra o presidente afastado da CBF.

O site  “UOL” revelou na última semana, por exemplo, as mudanças promovidas por Ednaldo no estatuto da CBF, em versão ainda não publicada no site da entidade. Em suma, as alterações aumentam o poder do presidente e diminuem a fiscalização das decisões dele. Dirigentes de federações não tomaram conhecimento de todas as mudanças e se incomodaram com o texto final.

Entre as principais alterações, a diretoria da CBF teve suas atribuições reduzidas de 17 para seis itens. Atos como aprovação de orçamento e definição de salários de dirigentes, por exemplo, tornaram-se prerrogativas exclusivas do presidente, que passa também a aprovar modelos de uniformes da seleção brasileira, podendo dar o aval para camisas comemorativas com cores diferentes das tradicionais.

A polêmica – e, na visão dos dirigentes, surpreendente – mudança provocou debate quente entre dois presidentes de federações em grupo de WhatsApp na quinta-feira, horas depois do afastamento de Ednaldo. O presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, criticou as alterações feitas por Ednaldo e foi rebatido por Roberto Góes, presidente da Federação Amapaense de Futebol.

Aliado do presidente afastado da CBF, Góes respondeu que a Ferj também alterou seu estatuto. Rubinho reagiu e disse que as mudanças foram votadas e tiveram transparência, completando com alfinetada, lembrando a recente prisão preventiva de Góes na Operação Mãos Limpas – que investigava desvio de verbas públicas no estado do Amapá. O tempo fechou no grupo.

Nos bastidores, até mesmo pessoas próximas a Ednaldo Rodrigues consideram pequena a chance de ele voltar à presidência da CBF. De longe, o dirigente que comandou o futebol brasileiro nos últimos cinco anos assiste à disputa de aliados e opositores para decidir o futuro presidente da entidade, que será conhecido na eleição do dia 25 deste mês.

Fonte: site G1

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