14 de março de 2025
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Foto: Reprodução

COLUNA NORDESTINADOS A LER | POR LUCIANA BESSA

Sou de uma geração que acreditava no poder de transformação por meio da Educação. Frequentar a escola significava prosperar pessoal, profissional, social e emocionalmente.

Escola Municipal Luís Costa, Fortaleza – Ce. Lá fiz meu Ensino Fundamental. Neste espaço, construí relações que permanecem do lado esquerdo do peito. Descobri o quão difícil e fascinante é a Língua Portuguesa. Desenvolvi uma aversão pela Matemática. Sempre era a escolhida para responder uma questão. Com medo de errar, ficava horas em pé diante da lousa segurando o giz e as lágrimas.

Escola Governador Adauto Bezerra, Fortaleza – Ce. Lá fiz meu Ensino Médio. Um novo mundo abriu suas portas para mim. Não só precisei sair da escola do meu bairro, da minha zona de conforto, como precisei começar a acordar às 5:20h da manhã para que às 6:00h, eu pudesse pegar o ônibus lotado. Uma escola maior. Mais professores. Mais disciplinas. Outras descobertas: Física é mais difícil do que Matemática. Matemática, Álgebra e Cálculo têm números, letras e fórmulas complicadas e, ainda assim, são coisas diferentes. Também foi lá que conheci e me apaixonei pela disciplina de Literatura. Como a professora faltava, eu ficava lendo das 15:30h às 17:00h, todas às sextas-feiras, na vã esperança de que ela aparecesse. Talvez para compensar sua falta, minha vida acadêmica foi dedicada ao universo das Letras. 

Por que mesmo estou narrando tudo isso? Amanhã, 15 de março, é o Dia da Escola, em alusão à primeira escola criada no Brasil, no ano de 1549, fundada em Salvador (BA), sob a direção jesuíta do Padre Manuel da Nóbrega, que junto do Padre José de Anchieta, autor da primeira gramática em tupi-guarani, Arte da Gramática mais falada da costa do Brasil (1595), tinha a missão de evangelizar e catequizar os povos originários.

Com a expulsão da Companhia dos Jesuítas do Brasil em 1759, foi instituído o Estado laico, ou seja, uma educação desvinculada da educação da igreja, sem religião.

Contudo, a temática religiosa é motivo de polêmica em nossos tempos nas escolas mantidas pelo governo, ou pelos municípios.  Em 2022, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) declarou inconstitucional uma lei municipal que obrigava o estudo da Bíblia nas escolas do munícipio de Barretos. É verdade que a Bíblia é o livro mais lido do mundo e uma narrativa literária potente, mas, certamente, há estudantes de outras religiões e outras crenças, ou mesmo sem elas.  Respeito é artigo que deveria vir na cesta básica do brasileiro. Evitaria a intolerância religiosa e contribuiria para forjar um país livre da violência, da discriminação e até do homicídio.

A escola deveria ter um olhar diverso, crítico e inclusivo a todos/todas. Não é à toa que muitos jovens não sentem a necessidade de frequentar o ambiente escolar. Ao invés de produzir seu próprio discurso, a escola (muitas vezes) reproduz o discurso de um sistema excludente, racista e misógino.

Há pessoas que desconhecem o fato de que, ao longo da história, as mulheres eram impedidas de frequentar o espaço do saber. Sem uma educação formal, as narrativas políticas, econômicas, sociais, educacionais e literárias foram concebidas pelos homens, salvo raríssimas exceções. 

Quando ingressaram tardiamente no espaço escolar, em 1827, a partir da Lei Geral, às mulheres foram reservadas uma educação voltada à família, ao lar, e claro, ao ensino religioso. O direito de frequentar a faculdade só ocorreu no ano de 1879. As solteiras necessitam da permissão dos pais; as casadas, dos maridos. 

Hoje, muitas jovens têm a oportunidade de frequentar a escola, mas não querem. Outras até querem, mas precisam trabalhar para ajudar no sustento da família. Como forma de incentivo financeiro educacional, nasceu o programa Pé-de-Meia, voltado para estudantes do Ensino Médio. Contudo, não é o suficiente.

Sendo um espaço político, é preciso construir escolas que, para além de infraestrutura, sejam acolhedoras, interativas e inclusivas. É vital o apoio de uma equipe multidisciplinar. É fundamental a acessibilidade física. É preciso a participação ativa da família. É necessário acabar com o ensino tradicional e conteudista. É importante pensar em um currículo flexível e adaptativo.

É urgente remunerar bem os gestores e docentes, estabelecer parcerias com a comunidade local e com outras instituições, públicas e privadas, para enriquecer a experiência social, emocional e acadêmica das crianças, dos jovens, dos adultos e dos idosos. 

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