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A corrupção parece ser mesmo uma chaga grotesca que brasileiros e brasileiras praticam (alguns) e (outros) são vítimas. A cada dia abrimos o noticiário e nos deparamos com inúmeros casos de corrupção que acontecem no nosso cotidiano. Isso se dá na política, nas instituições, nos segmentos sociais, no mundo corporativo (esse é que tem mesmo), nas igrejas, nas empresas públicas e privadas, e até em coisas simples que precisamos fazer. Lá está a corrupção incrustada.
Ao mesmo tempo, a sociedade brasileira caminha com uma clara noção de que tem muita impunidade no Brasil e que muitas vezes os órgãos de fiscalização, as polícias, Judiciário, ou seja, quem deveria nos proteger ou passa pano para a corrupção ou participa dela. Sem falar na sensação de que há sim brasileiros que são mais importantes do que outros, que quem é negro, pobre e mora na periferia apanha e leva os tiros da polícia e os órgãos de repressão servem para reprimir pobres e não os ricos.
Um caso que vem chamando a atenção dos brasileiros e dá a impressão de que é algo normal é o que vem acontecendo com as chamadas emendas Pix. Um poço gigantesco de corrupção já denunciado em várias instâncias e tratado como algo normal. Tão normal que descaradamente os deputados do centrão ameaçaram o governo federal de paralisar as votações caso o governo não liberasse as tais emendas da vergonha. Tudo tratado até mesmo na imprensa corporativa como algo normal. Não é normal. É corrupção braba praticada por Arthur Lira e sua turma à luz do dia sem que sejam incomodados.
Outro caso é mais localizado e que nos chamou a atenção foi o que aconteceu recentemente quando um vereador de Juazeiro do Norte (CE) Boaz Davi levantou um caso de corrupção que é antigo, todos sabiam e se alguém já tocou nesse assunto não lembramos. Várias pessoas de Juazeiro do Norte procuraram o vereador e denunciaram que ao fazer o tal teste de habilitação no Detran local, para passar na prova prática era preciso desembolsar um dinheirinho para o monitor da prova prática. Choveu de pessoas enviando whatsapp ao vereador contando casos variados e em cidades variadas incluindo Juazeiro do Norte, Iguatu e até Fortaleza. Ou seja, uma prática quase institucionalizada.
O problema não é só essa prática de propina ou suborno para você levar uma nota boa e receber sua CNH. Não se trata disso. O que se trata é que podemos constatar como a sociedade brasileira está enraizada na corrupção e é vítima dessa corrupção. Que acontece na igreja, na política, na repartição pública, nos jogos de apostas via online, no furar da fila do banco, nas emendas Pix, na malversação do dinheiro da merenda escolar, numa verba que desaparece, no troca-troca de favores e dinheiro entre políticos e setores empresariais, no querer levar vantagem em tudo.
Não sejamos tolos e afirmar que o Brasil é o país mais corrupto do mundo. Não faça isso. A corrupção existe no mundo e nos países considerados mais avançados e mais democráticos. A ladroagem generalizada ajuda a fazer guerras, pilhar países, a mentira em nome de Deus e do mercado também.
No Brasil a corrupção às vezes quer se partidarizar. Lembremos juntos: a maioria das legendas partidárias são culpadas pela total inaptidão com que a classe política combate a corrupção e se a corrupção for do político de estimação, se passa a mão na cabeça e segue em frente apontando apenas a corrupção do adversário.
Se até quando vamos tirar uma CNH tem gente que quer se aproveitar. Que quando pagamos nossa previdência vem prefeito e desarruma a previdência municipal e ninguém nunca recupera esse dinheiro. E a corrupção dos militares? Tínhamos esquecido o que eles roubaram do povo brasileiro durante a ditadura militar e roubaram mesmo em dinheiro e pensões? Um militar vale 18 trabalhadores? Isso é justo e honesto?
E os esquemas feitos por empresários nas prefeituras Brasil afora? Empresários que se juntam para dar golpes na população, empresários que se juntam para fazer licitações no mínimo estranhas beneficiando uns e outros. Empresários que entregam obras que em pouco tempo se derretem. O mundo empresarial no Brasil é rico em casos de corrupção. Parece que ninguém escapa.
Até o Ministério Público quando se partidarizou com a operação lava jato cometeu o pecado capital da corrupção política. Nunca esqueceremos o juiz Sergio Moro e seu braço direito Deltan Dalagnol enredados em tantas mentiras, artimanhas e combinações jurídicas subvertendo o devido processo legal. E a depreciação do processo judiciário quanto vimos com a lava jato.
Coisa espantosa.
Nada de receitas. Afinal, nas matérias jornalísticas que cada um de nós tem acesso e para isso basta você acessar o Google tem lá um monte de sugestões e receitas de como controlar e até acabar com a corrupção.
Controle da sociedade. Mais transparência. Prisão preventiva. Responsabilizar os partidos políticos. Diminuir a morosidade da Justiça brasileira. Simplificar as campanhas eleitorais, fazer uma reforma tributária, simplificar o judiciário e simplifica tudo logo.
E a mais emblemática. Deixar o jeitinho brasileiro de lado. Eita complexo de vira-lata. Acreditamos que essa conversa fiada do jeitinho brasileiro é como se fôssemos os mais corruptos e o tal jeitinho é uma praga que nunca acabaremos. E também a justificativa ou desculpa para a corrupção. A explicação derradeira. É assim mesmo, somos corruptos. Estamos nessa por conta do jeitinho brasileiro que não tem como acabar, afinal, somos todos corruptos.
É isso mesmo? Diz o ditado que todo dia sai um idiota e um malandro de casa, quando os dois se encontram alguém é enganado.
Diz ainda que a corrupção pode ser combatida. Que o controle deve ser a partir da sociedade. Que a sociedade precisa ser mais incisiva no combate à corrupção, exigir mais avanços nas legislações, no Judiciário, nas definições dos políticos. São caminhos.
Saídas para esse quadro de corrupção no Brasil? No mundo? Necessariamente não queremos ter a pretensão aqui de dizer algum código de conduta e o que cada um deve fazer para diminuir a corrupção, que nunca vai acabar. Pode ser combatida e diminuir. E essa é a tarefa do povo brasileiro. Hora de parar de esperar por alguma “autoridade” constituída.
Para nossa alegria nem tudo no Brasil está perdido eis que nesta semana o Ministério Público orienta que promotores em todo o Brasil comecem a entrar com ações contra municípios que não fizeram a dita prestação de contas dos milhões e milhões de reais transferidos, gastos e sem transparência via as emendas Pix. Só em 20024 foram transferidos para cidades e não prestado contas de algo em torno de R$ 279 milhões. Se essa prática de alguns parlamentares brasileiros é honesta perdemos a noção do que significa honestidade. Hora de colocar um fim nas emendas Pix e na corrupção no Brasil.