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Ilustração de apoio: Desenvolvida com AI (DALL-E | Leia Sempre Brasil)
COLUNA NORDESTINADOS A LER – POR LUCIANA BESSA
Educar é um processo ético e inacabado. O trabalho de um professor vai muito além de “dar aula”. Esse profissional partilha conhecimento, estimula criatividade, a pesquisa, o senso estético do estudante, além de contribuir para o seu crescimento pessoal e profissional. Uma das grandes dificuldades desse profissional diz respeito ao incentivo da leitura, principalmente em pleno século XXI, em meio a um mundo dominado pelas novas tecnologias.
Em 2025, o Governo Federal sancionou a Lei 15.100/25, que proíbe estudantes de usarem telefone celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis em sala de aula, em instituições públicas e privadas, salvo para fins pedagógicos. Trata-se de uma medida importante para mostrar que a escola não é um mero ambiente para expor conteúdo, mas um espaço de socialização, inclusão e partilha de experiências.
Contudo, tal proibição não significa que os alunos estarão mais integrados às atividades escolares. Faz-se necessário um profícuo diálogo entre professores, estudantes, gestão escolar e, claro, a família. Quando isso não ocorre, o educando não se sente fazendo parte do processo educativo, motivo que o torna disperso e desmotivado, sobretudo para ler.
Não significa também que estará interessado em ler, como ouvi muitos comentários: “sem o celular, os alunos vão ter quer ler”. Não é da noite para o dia que o jovem se interessará pela leitura. Estamos falando de um fenômeno social que precisa ser vivenciado paulatinamente pelo sujeito. A virada de chave acontecerá quando os jovens estiverem dentro do processo leitor na condição de protagonistas.
Para que isso de fato aconteça, o educador deve propor práticas de leitura inovadoras, e não indicar um livro paradidático para que o aluno possa preencher uma ficha de leitura. É fundamental relacionar a leitura escolar com a leitura do mundo do qual faz parte.
O estudante precisa ler aquilo que julga interessante, que faz sentido para o seu universo. Ler é um prazer que o indivíduo deve proporcionar a si mesmo. Claro que o incentivo da família e da escola são essenciais.
Somos de uma geração que sentiu na pele que a “leitura obrigatória” de determinadas obras, a cobrança de provas, ao invés de despertar nossa atenção, afastou-nos em algum momento do contato com a leitura. Se a “leitura obrigatória” não serviu para mim, por que fará sentido para o outro? Não é à toa que a última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2024), apontou a perda de sete milhões de leitores nos últimos quatro anos.
Se não bastasse, a escola foi apontada como um não-lugar de prática de leitura. Parte delas ainda não tem biblioteca nem sala de leitura, o que dificulta o desenvolvimento de práticas leitoras. Mas, e as que têm? Quais as práticas adotadas? Esperar que o professor (a) de Língua Portuguesa seja o salvador/a da pátria é desumano e inviável.
Não podemos nos esquecer de que alguns professores não tiveram uma boa relação com a leitura, isso poderia justificar sua falta de habilidade em trabalhar com os estudantes. “(…) o professor deve saber ler bem, gostar de ler. Senão, ele não saberá fazer o marketing correto do livro”, nos dirá Zoara Failla, coordenadora da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2024).
É preciso ser um professor (a) leitor(a) para conseguir formar estudantes leitores. É preciso que a escola tenha biblioteca, sala de leitura, pedagogias ativas e livros para todos os estudantes, em especial, identificar o que eles gostam de ler. Quem disse que a ausência de celular na escola produz leitores?