COLUNA O VERBO FEMININO
POR ÍRIS TAVARES
Que maravilha! Começamos o ano de 2025 com o pé esquerdo. O Brasil é manchete internacional. Estamos bobando nas mídias. É assim que se diz! Conquistamos o Globo de Ouro. Isso mesmo minhas caras leitoras/es. Fernanda Torres no auge da sua gloriosa performance, encarna a figura emblemática de Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva, uma advogada e símbolo da luta contra a ditadura militar no Brasil. A nossa querida atriz trouxe para a tela do cinema a história de uma mulher, mãe de uma família que experimentou a orfandade de forma precoce, fruto da violência política causada pelo regime autoritário que teve início com o golpe militar em 31 de março de 1964. A ditadura militar durou 21 anos (1964-1985), estabeleceu a censura à imprensa, restrição aos direitos políticos e perseguição policial aos opositores do regime. Rubens Beyrodt Paiva foi um engenheiro civil e político brasileiro eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro em 1962, casado com Eunice e pai de cinco filhos. O desaparecimento do parlamentar fez parte de uma pratica da repressão que impunha o medo e o silencio. Ele foi morto nas dependências de um quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971.
É uma película que fala e faz mover os nossos corações, nos faz refletir sobre um período de luto que atravessa o tempo passado presente de uma história recente de sobrevivência e de esperança para todos nós. Fernanda Torres foi magistral na sua interpretação, não foi só técnica foi de alma. Em tempos difíceis onde sonhar é proibido, onde as mulheres ao invés de sorrir são condenadas a chorar e a família vive o pesadelo do silêncio. Ditadura nunca mais!
“Ainda estou aqui” é uma obra, cujo autor é Marcelo Rubens Beyrodt Paiva, o primogênito da família e o seu livro virou filme. Vale salientar o cuidado, a delicadeza com que foi tratado o tema, a partir do protagonismo da personagem feminina, o recorte de gênero tão bem colocado durante toda a trama passando uma mensagem clara, porque “não há democracia sem a presença de mulheres”, não existe democracia sem feminismo. Selton Melo foi o parceiro, incrivelmente, cumplice e libertador. Salve!
Verdade e memória são fundamentais para a sanidade de uma sociedade que aprende a lutar e defender a vida, os direitos, as liberdades e que sabe a importância de preservar e fortalecer a democracia nos dias atuais. É proibido apagar as memórias, o apagão só serve para idiotizar e bestializar as pessoas que se recusam a sonhar. São monstros ao invés de fantasmas, que rondam em vigília permanente. São vorazes, astutos e discípulos da mentira. São os fakes news e a desinformação que promovem o caos e a desumanização nas relações sociais. Ainda estamos aqui cercados pelas ameaças políticas e pela força econômica, pelo Brasil Paralelo da terra plana e do negacionismo. Os ecos que navegam em mares turbulentos, no velho festival de horrores e da trampa, associados ao “diabo louro”, sedento e ambicioso na dominação das culturas, dos territórios. O anúncio foi divulgado em todos os meios de comunicação do planeta. É bem claro seu exercício de poder quando aponta para o Canadá, a Groelândia e o Canal do Panamá, assim exercita o seu mais íntimo desejo de ser o mandatário de tudo. Ditadura nunca mais!