Documento detalha golpe com anuência de Bolsonaro
Por Tereza Cruvinel (Brasil 247)
“Como em 64, depois viriam as cassações de adversários, a suspensão de garantias constitucionais e um ato de força”
O relatório do inquérito da PF sobre a tentativa de golpe desmentiu completamente Jair Bolsonaro, horas depois de ele negar participação na trama, afirmando, com base em uma profusão de provas, que ele “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva” de todo o plano golpista.
Embora os golpes do tipo quartelada estejam em desuso, sendo substituídos pelas novas formas de corrosão da democracia, o golpe de Bolsonaro e seus asseclas seria à moda antiga. E fracassou exatamente porque não teve a adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica. Diante disso, Bolsonaro tenta salvar a própria pele, salta do barco golpista e vai para os EUA. No Brasil, desesperados e sentindo-se abandonados, os golpistas foram para a cartada afinal e arriscada, levando os acampados, arregimentados em vários pontos do país, para o ataque aos centros do poder.
Os detalhes do golpe aparecem em um documento que ainda não havia sido revelado e que foi encontrado na sede do PL, na mesa do assessor do general Braga Netto, Coronel Peregrino. O documento manuscrito estava em uma pasta denominada “memorias importantes” e era intitulado “Operação 142”, por ter como pretensa base jurídica o artigo 142 da Constituição, que na interpretação equivocada da extrema direita, permite a intervenção das Forças Armadas em caso de conflito entre os poderes ou de grave perturbação da ordem
Neste documento aparece a expressão “Lula não sobe a rampa”, síntese do objetivo do golpe, impedir a posse do presidente legitimamente eleito. Nele são listadas as ações que seriam desencadeadas, sob o título “Linhas de Esforço”. Pela ordem, eram elas, tal como listadas no documento
- Enquadramento jurídico no artigo 142 (AGU e MJ).
- Comprometimento político: convocação do Conselho da República e da Defesa.
- Discurso em cadeia nacional de TV e rádio.
- Preparação (ensaios) da tropa para as ações diretas.
- Mobilização de juristas e formadores de opinião.
- Preparar releases para divulgação posterior.
- Interrupção do processo de transição.
- Anulação de atos arbitrários do STF.
O resto não estava escrito mas já é sabido: eliminação de Lula, Alckmin e Alexandre de Morais. Como em 64, depois viriam as cassações de adversários, a suspensão de garantias constitucionais e um ato de força que sintetizaria o espírito da ditadura, como o AI-5.
Se escapamos mesmo por muito pouco, eles não podem escapar da cadeia, para que ninguém mais ouse atentar contra o Estado Democrático de Direito e a vontade popular.
Com informações do Brasil 247.