Foto: Aurelio Alves/O Povo
Por Marcela Carneiro
A bestialização é um termo que ganha cada vez mais destaque no debate sociocultural, refletindo um fenômeno de desumanização que parece crescer no mundo moderno. Mas o que exatamente significa esse termo e por que é importante entender suas implicações?
Bestialização, em um contexto mais amplo, refere-se ao processo de tratar seres humanos como animais, privando-os de sua dignidade e reduzindo-os a um estado de selvageria ou irracionalidade. Esse processo pode ser visto em várias esferas da vida social e política, desde práticas de violência extrema até discursos que demonizam determinados grupos sociais. A palavra em si carrega uma forte carga negativa, pois sugere a retirada de tudo que é humano, racional e compassivo de um indivíduo ou grupo, e essa metáfora não é usada de forma leviana.
Historicamente, a bestialização tem sido usada como ferramenta de opressão e controle. Durante a escravidão, por exemplo, os escravos eram frequentemente comparados a animais para justificar o tratamento brutal e desumano que recebiam. Esse tipo de retórica era usado para desumanizar grupos inteiros, facilitando o abuso e a exploração. O mesmo processo de desumanização é visto em guerras, onde inimigos são retratados como monstros ou seres irracionais, o que ajuda a justificar a violência contra eles.
Na sociedade contemporânea, a bestialização pode ser vista de diversas formas sutis e explícitas. Discursos de ódio, xenofobia, racismo e outras formas de discriminação frequentemente utilizam essa estratégia para justificar a exclusão ou marginalização de certos grupos. A internet e as redes sociais, embora tenham o potencial de promover o diálogo, também se tornaram ambientes onde discursos de desumanização e ataques pessoais são frequentemente disseminados sem filtro.
Outro exemplo claro de bestialização pode ser visto na maneira como pessoas em situação de rua são tratadas. Muitas vezes, elas são retratadas como “sujeira” que precisa ser “limpa” das ruas, desumanizando-as ao ponto de remover qualquer empatia ou ação para ajudá-las de maneira significativa. Essa retórica reflete um distanciamento entre o “nós” e “eles”, uma divisão que apenas acentua desigualdades e a falta de soluções para questões sociais complexas.
O impacto dessa desumanização é profundo e perigoso. Quando um grupo é bestializado, torna-se mais fácil justificar a negação de direitos básicos, como acesso à saúde, educação e justiça. Além disso, a bestialização contribui para a manutenção de estereótipos negativos e a perpetuação de desigualdades sociais. Esse tipo de discurso desumanizador prepara o terreno para políticas públicas que negligenciam ou até mesmo reforçam a opressão de minorias.
Em um cenário global de crescente polarização política e social, é crucial reconhecer e combater os mecanismos de desumanização que sustentam a bestialização. Uma sociedade que se deixa levar por essas práticas tende a se afastar cada vez mais dos valores de empatia, solidariedade e justiça.
