Por Gavin Bruce
UCKFIELD, Sussex, Reino Unido (IPS) – Com a aproximação da COP16, temos refletido sobre o estado do nosso planeta em 2024; a palavra “crise” parece insuficiente para descrever a devastação que estamos testemunhando.
As florestas que antes eram cheias de vida estão desaparecendo. Os recifes de corais, antes vibrantes e cheios de cores, estão se tornando estéreis. Espécies estão sendo expulsas de seus habitats, e eventos climáticos extremos, como enchentes e incêndios florestais, estão se tornando muito comuns. Essas não são ameaças abstratas – essa é a nossa nova realidade.
É uma situação extremamente séria e urgente
Com a rápida aproximação da COP16, está mais claro do que nunca que o mundo está em um momento crítico. De 21 de outubro a 1º de novembro, líderes de mais de 190 países se reunirão em Cali, na Colômbia, para discutir como podemos deter a perda de biodiversidade e enfrentar a emergência climática. No entanto, a COP16 é mais do que apenas outra conferência, é um alerta.
Os riscos não poderiam ser maiores
Promessas já foram feitas antes. A Estrutura Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal em 2022 foi um momento marcante, com 23 metas estabelecidas para deter e reverter a perda de biodiversidade até 2030. Mas falar é barato sem ação.
Desde então, continuamos a ver os ecossistemas costeiros, como manguezais e recifes de coral, serem dizimados pelo aumento do nível do mar e pela acidificação dos oceanos. No interior, ecossistemas antes prósperos estão sofrendo com as pressões de secas severas, inundações e incêndios.
Em minha função na International Animal Rescue, tenho visto o impacto dessas crises em primeira mão. O aumento do nível do mar ameaça os manguezais costeiros, que protegem nossas costas e oferecem habitats essenciais para inúmeras espécies. Na Armênia, os padrões climáticos erráticos estão afetando a vida selvagem, enquanto na Costa Rica estamos vendo um número cada vez maior de animais feridos que nos são trazidos, vítimas de habitats destruídos por desastres relacionados ao clima.
A COP16 é um momento para todos nós nos concentrarmos e agirmos
É fácil ver a COP16 como uma negociação de alto nível para os líderes mundiais resolverem. Mas a verdade é que a mudança de que tanto precisamos não virá apenas de ações governamentais. Cada um de nós tem um papel a desempenhar, e cada pequena escolha que fazemos é importante. Toda vez que optamos por um produto sustentável, reduzimos o desperdício ou apoiamos um projeto de conservação, estamos empurrando o mundo para mais perto do futuro que queremos ver.
Toda compra que fazemos, seja de um sanduíche ou de energia, toda decisão que tomamos, seja acender uma luz ou cortar a grama, toda vez que temos o poder, temos a oportunidade de escolher. A escolha deve ser uma que apoie um futuro mais sustentável e favorável à natureza.
Na COP16, os líderes devem cumprir suas promessas, mas não podemos esperar que eles ajam. É hora de usarmos o poder de escolha enquanto ainda o temos.
A natureza precisa de nós tanto quanto nós precisamos da natureza
Na International Animal Rescue, estamos fazendo o que podemos. Na Indonésia, estamos restaurando manguezais para proteger as costas e criar refúgios seguros para a vida selvagem. Na Armênia, resgatamos ursos marrons ameaçados de extinção e os libertamos em ambientes protegidos. Na Costa Rica, estamos reabilitando animais deslocados por desastres climáticos, dando-lhes uma segunda chance de vida na natureza.
Mas não podemos fazer isso sozinhos. O futuro da biodiversidade do nosso planeta depende da cooperação global e da ação popular.
É por isso que nos concentramos em capacitar as comunidades locais. As pessoas que dependem dos ecossistemas para sua subsistência são, muitas vezes, os melhores protetores desses sistemas. O trabalho conjunto pode restaurar paisagens degradadas, proteger espécies ameaçadas e ajudar as comunidades a se adaptarem ao nosso mundo em transformação.
Se todos nós agirmos agora, há esperança
Embora os veículos de notícias do mundo todo deixem as pessoas sentadas em casa pensando que a COP16 é apenas mais uma reunião diplomática, não é. A COP16 é um momento crítico para o futuro da vida na Terra. Se não agirmos de forma decisiva agora, corremos o risco de perder não apenas espécies e ecossistemas, mas também a capacidade das gerações futuras de viver em harmonia com a natureza.
O caminho à frente é assustador, mas há esperança. Trabalhando em conjunto com governos, empresas, comunidades locais e como indivíduos, podemos tomar medidas para fazer a diferença, interromper a perda de biodiversidade e dar ao nosso planeta uma chance de lutar. Precisamos fazer as pazes com a natureza, não para o bem dela, mas para o nosso próprio bem.
Que a COP16 seja o ponto de virada. Que ela seja lembrada como o momento em que paramos de apenas falar sobre mudanças; foi quando começamos a fazê-las acontecer. Se conseguirmos fazer isso, o mundo ainda poderá ter uma chance. Mas precisamos agir agora.
Cada pequena escolha é importante. Cada voz é importante. E o momento de fazermos essas escolhas e levantarmos nossas vozes é hoje. Não podemos mais deixar isso para os líderes mundiais; cada pessoa no planeta tem um papel a desempenhar. Vamos nos concentrar novamente. Vamos repensar. Vamos agir antes que seja tarde demais.
*Gavin Bruce é CEO da International Animal Rescue (IAR)
Este texto foi publicado originalmente pela Inter Press Service (IPS)
Com informações do Fórum 21.