15 de novembro de 2024
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Foi depois de uma experiência de voluntariado no exterior que o advogado Alceu de Campos Natal Neto elaborou o conceito de um projeto que partiria do esporte para levar mais oportunidades de lazer e interação a crianças e adolescentes. Para estruturar melhor a ideia, cursou Marketing Esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo (SP), e começou a dar forma à teoria. Foi assim que, 18 anos atrás, nasceu o Instituto Futebol de Rua.

Desde 2006, meninos e meninas de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade, entre 8 e 15 anos, têm no projeto um espaço de acolhimento no contraturno escolar. A instituição, com sedes em Curitiba (PR) e João Pessoa (PB), está presente em 22 estados do país devido aos núcleos de replicação da iniciativa. Hoje, a organização sem fins lucrativos tem balanço anual de cerca de R$ 20 milhões e conta com 300 funcionários no Brasil. Apesar de ser uma organização social, o instituto é administrado como uma empresa, setorizado como qualquer outro negócio.

Com a expansão do projeto, que soma 90 cidades atendidas, a estratégia desenvolvida pode ser comparada a uma franqueadora, que estabelece padrões, metodologias e treinamentos para que o formato seja aplicado em qualquer lugar do país, principalmente em cidades mais afastadas, comunidades e outros locais com moradores em situação de vulnerabilidade social.

“A capacitação dos professores é igual em qualquer lugar que a gente vá. A primeira etapa sempre consiste no trabalho de educação socioemocional para que, a partir disso, o profissional entenda o público com o qual irá trabalhar. Posteriormente, eles são apresentados à nossa metodologia socioeducativa para entender a forma como o Futebol de Rua atua”, diz Natal Neto.

O projeto teve início em Heliópolis, maior favela da capital paulista, sendo que o primeiro dia de atividades já reuniu, na quadra da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas), 90 crianças. Desde então, o público só foi crescendo e atualmente soma mais de 45 mil crianças e adolescentes impactados. No começo, Natal Neto possuía, apenas algumas bolas, equipamentos comprados na famosa Rua 25 de Março e o apoio da esposa, que também atuaria como voluntária. Aos poucos, pessoas da comunidade e amigos se juntaram ao time para impulsionar a iniciativa.

“Não sabia como seria, como iria viabilizar, até porque naquela época não existia a Lei de Incentivo ao Esporte. Por outro lado, eu tinha certeza que daria certo e que o negócio iria, de fato, acontecer. Mas nunca imaginei que seria tão grande quanto é hoje”, conta o fundador do Instituto Futebol de Rua.

Parceria com a iniciativa privada

Todo o movimento está embasado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei n. 11.438/06), que permite que diversas empresas de grande porte destinem parte de seu imposto de renda para o investimento em organizações sem fins lucrativos que geram impactos sociais positivos. Desde 2023, após alteração na legislação, as companhias podem destinar até 2% do imposto de renda para projetos esportivos.

O investimento começa em R$ 180 mil, valor inicial para viabilizar a estruturação e manutenção de um novo núcleo do projeto do instituto. O formato tem capacidade para atender até 80 participantes e, assim, a empresa patrocinadora pode direcionar o valor que já seria descontado a uma iniciativa que impacta diretamente cerca de 10 mil crianças e adolescentes por ano.

O resultado gerado reverbera também nas famílias e, posteriormente, na comunidade. A conscientização parte da informação e do engajamento desse público quanto a temas voltados ao meio ambiente, saúde, igualdade de gênero, combate ao racismo e muitos outros que, por uma série de fatores sociais, não chegam a esses cidadãos.

Desenvolvimento humano no foco

O formato alia o futebol de rua com aulas de formação humana, alicerçadas em conceitos que vão além das quadras. O fair play (jogo limpo, na tradução para o Português), reforça valores como honestidade e respeito, além de promover a cooperação. Nas atividades, os participantes são os árbitros de seus próprios jogos, papel que incentiva o diálogo com conteúdo e estimula o protagonismo. Ao mesmo tempo, o drible é valorizado e vale mais do que o gol na partida, com ênfase na mensagem de que é preciso driblar as desigualdades.

É evidente que cada região do Brasil e comunidades atendidas possuem características e necessidades específicas, seja em relação à estrutura, alimentação, saneamento básico ou segurança, por exemplo. “Todos os públicos que atendemos têm alguma necessidade específica. Em cada região, trabalhamos com a especificidade daquela população. Para isso, contratamos um professor local, que é a pessoa ideal para o cargo, já que entende e vive aquela realidade”, finaliza Natal Neto.

Sobre Instituto Futebol de Rua

O FdR é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2006, que realiza projetos via Lei Federal de Incentivo ao Esporte e Lei Rouanet (Cultura), utilizando o esporte, a educação, a cultura e a tecnologia para o desenvolvimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

A metodologia desenvolvida pelo instituto alia o futebol de rua com aulas de formação humana, nas quais são exaltados conceitos como o fair play em um ambiente positivo, que permite que as crianças atuem como árbitros de seus próprios jogos. Dessa forma, eles são estimulados ao protagonismo dentro e fora do campo. Mais informações https://futebolderua.org/