23 de novembro de 2024
maria do rosario e melo

Fotos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados e Alex Rocha/PMPA

 

As eleições de 2024 na cidade de Porto Alegre são marcadas pela tragédia climática que afligiu o Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio deste ano.

O atual prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB), busca a reeleição enquanto é contestado por sua atuação – e falta de preparo – nas enchentes deste ano.

Apesar das críticas, ele aparece em primeiro nas pesquisas de intenção de voto em empate técnico com Maria do Rosário (PT).

Ambos contam com alta rejeição (40% para Melo e 48% para Rosário, segundo levantamento da Quaest de 27 de agosto), porém, não são ameaçados por outras candidaturas.

Sebastião Melo, conta com o apoio da família Bolsonaro e de partidos de direita, extrema direita e do centrão em sua coligação (MDB/PL/PRD/Republicanos/Podemos/PP/Solidariedade/PSD).

Este é um cenário um pouco diferente do enfrentado por ele em 2020, quando conseguiu o apoio oficial do bolsonarismo somente no segundo turno do pleito.

No primeiro dia de campanha no rádio e na televisão, no final de agosto, Melo buscou se eximir das responsabilidades pelos problemas enfrentados por Porto Alegre na tragédia climática. Ele argumentou que não havia como prever os estragos causados pela chuva e que Porto Alegre não foi a única cidade atingida.

Em sua peça de campanha, também fala que não se deve buscar os culpados, mas trabalhar e buscar soluções, além de afirmar que enquanto a prefeitura trabalha, outros criticam.

Sua principal adversária é Maria do Rosário, do PT. Deputada federal em seu sexto mandato, sua coligação é formada por uma frente de esquerda, com PT, PCdoB, PSOL, Rede e o PV.

Em seu primeiro programa no rádio e na televisão, a deputada buscou criticar as ações do atual prefeito, principalmente durante a tragédia climática, se colocar como uma alternativa e mostrar o apoio de líderes de seu partido, como o presidente Lula e os ex-governadores gaúchos Tarso Genro e Olívio Dutra.

Também candidata, Juliana Brizola (PDT) tem mais de 10% das intenções de voto no pleito deste ano, porém, distante das candidaturas do MDB e do PT, que polarizam a eleição.

A ex-parlamentar focou seus primeiros programas de campanha na associação com o avô (Leonel Brizola) e se colocou como uma alternativa a Melo e a Rosário. Sobre sua coligação, Brizola conta com o apoio da União Brasil, do PSDB e do Cidadania.

Segundo os dados da Quaest, Sebastião Melo tem ampla vantagem sobre Maria do Rosário e Juliana Brizola entre os segmentos católicos e evangélicos da cidade e perde para a candidata do PT nas demais religiões.

O domínio do postulante do MDB entre os evangélicos era esperado, devido à aproximação de segmentos deste grupo com o bolsonarismo.

O desempenho de Rosário entre os católicos chama a atenção, não só por ela não liderar, mas por ser semelhante ao dos evangélicos, o que demonstra a dificuldade da candidatura em transferir o apoio destes segmentos da eleição nacional para a local.

Sebastião Melo lidera em todas as faixas de renda, com Maria do Rosário se aproximando apenas nos camadas mais altas.

Somada à sua liderança entre os menos escolarizados, percebemos a força do conservadorismo, representado pelo grupo de Melo, nas camadas mais pobres e a dificuldade da candidatura do PT em conquistar estes grupos.

Maria do Rosário lidera entre as mulheres, porém, com apenas dois pontos de vantagem– ou seja, dentro da margem de erro – sobre Sebastião Melo, que lidera entre os homens com quatorze pontos a mais que a candidata do PT.

Rosário também está numericamente na dianteira entre os jovens (de 16 a 34 anos) e tecnicamente empatada com Melo na faixa de 35 a 59 anos, enquanto o candidato do MDB lidera com folga entre os com 60 anos ou mais.

Por fim, Maria do Rosário tem apoio de 62% dos que votaram em Lula no segundo turno, Sebastião Melo tem 18% e Juliana Brizola têm 10%.

Já Melo tem 62% dos que votaram em Bolsonaro, enquanto Brizola tem 12%, Camozzato (Novo), 6%; e Rosário, 4%.

Ou seja, Melo consegue avançar em parte do eleitorado petista, enquanto Rosário enfrenta forte rejeição do bolsonarismo.

A eleição de 2024, em Porto Alegre, é marcada pela polarização entre o PT e o MDB, que conta com apoio do PL e de outros partidos conservadores.

A indecisão acima dos 10 pontos percentuais mostra uma eleição aberta, longe de estar definida, e aumenta a importância das estratégias de campanha para angariar votos, diminuir a rejeição e aumentar a de seu adversário.

Apesar do empate técnico, Maria do Rosário vai bem entre as mulheres, jovens e eleitores com ensino superior completo ou incompleto.

Sebastião Melo apresenta um melhor desempenho entre praticamente todos os grupos entrevistados, com destaque para homens, cidadãos com 60 anos ou mais, grupos menos escolarizados e presentes na menor faixa de renda pesquisada, o que mostra a força do grupo do atual prefeito nestes grupo.

*Rodrigo Mayer é professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Londrina.

Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC).