20 de setembro de 2024

Foto: Divulgação

Uma mulher tem quantos pedaços? Depois que esses pedaços se espalham, é possível juntá-los? Uma mulher é composta de tantas partes, egoísta, generosa, introspectiva, materna, vaidosa, talentosa, medrosa, que às vezes, me pergunto: é possível conhecê-la em sua totalidade?

Isso me fez lembrar Sigmund Freud em uma conferência no ano de 1932 sobre o feminino. O pai da psicanálise relatou um caso clínico de uma de suas pacientes, Marie Bonaparte, e a comparou com um enigma: ” a grande pergunta que não foi nunca respondida e que eu não fui capaz ainda de responder, apesar de meus longos anos de pesquisa sobre a alma feminina é, o que quer uma mulher?”. Na impossibilidade de uma única resposta, pensemos: uma mulher…

Quer ser respeitada em suas escolhas.

Quer ser apoiada independentemente dos caminhos que venha a percorrer.

Quer ser amada por ser quem se é.

Quer ser vista para além de uma mera cuidadora.

Quer ser polpada de ouvir: Vai casar? Vai ter filhos? Que roupa é essa?…

Uma mulher quer tudo o que lhe foi negado pela História.

Liberdade é pouco para uma mulher…

São tantos os pedaços que a compõem.

São tantos os desejos não realizados.

São tantas as palavras guardadas dentro de si.

São tantas as dores acumuladas no corpo e na alma.

Uma mulher é um mundo de possibilidades. Desafiada cotidianamente por uma sociedade punitiva, machista e segregadora, a mulher precisa estar vestida para as batalhas que ainda nem aconteceram.

Recentemente comecei a assistir Pedaços de mim (2024), uma série brasileira produzida pela Netflix em parceria com A Fábrica, que tem como no seu âmago a história do casal Liana (Juliana Paes) e Tomás (Vladimir Brichta), atravessada pelo Oscar (Felipe Aba).

Baseada em fatos reais em uma história que aconteceu em 2009 nos Estados Unidos, a série-drama foi criada e escrita por Ângela Chaves e colaboradores. O enredo traz a protagonista Liana, apaixonada pelo marido Tomás, cujo sonho é ser mãe. Dos muitos pedaços que compõem uma mulher, ser mãe é, para muitas delas, é a maior realização na vida.

Como os relacionamentos amorosos não são retilíneos como imaginamos, Liana descobre que Tomás a está traindo com uma amiga do ciclo deles. Quando a esposa o chama para conversar, escuta palavras terríveis. Para piorar, ele sai de casa.

Parece que deus Eros gosta de colocar obstáculos na trajetória dos enamorados para se fortalecer. Liana vai a uma boate, lá encontra Oscar, uma paquera da adolescência, amigo do irmão dela já falecido.

Liana e Oscar dançam, bebem e ao levá-la para casa, ele acaba tendo relações não consensuais com ela, ou seja, Liana é estuprada. Quando o espectador acha, especialmente as mulheres, que a protagonista chegou ao fundo do poço, descobre que Liana está grávida.

A tão sonhada notícia chega para Liana em forma de lágrimas, tristeza e preocupação: quem é o pai? Por uma raridade científica, uma condição rara chamada superfecundação heteroparental, ela está grávida de gêmeos de pais diferentes: o marido traidor (Tomás) e o paquera da adolescência estuprador (Oscar).

Além da trama central, há as narrativas secundárias, como o caso da médica Silvia (Paloma Duarte) e filho Inácio, um adolescente com deficiência visual. Ela, sozinha, carrega a dor e a delícia de ser mãe.

Diante dessa situação, eu me questiono: de quantos pedaços é feito uma mulher? Quantas são as pedras no caminho que ela precisa ultrapassar para conseguir realizar, mesmo que minimamente, seus sonhos? Por uma sociedade que reconheça os direitos das mulheres e legitime suas escolhas.

 

Leia nosso Jornal: