20 de setembro de 2024

Mais de 90 pessoas foram presas no Reino Unido em meio a uma onda de protestos violentos incentivados pela extrema direita. Os distúrbios, frequentemente direcionados contra mesquitas e locais de alojamento para migrantes que solicitam asilo, começaram após influenciadores da ultradireita espalharem rumores nas redes sociais sobre a suposta nacionalidade e religião do agressor que matou três meninas de 7 a 9 anos na última segunda-feira.

No sábado, manifestações organizadas em várias cidades terminaram em confrontos entre manifestantes e policiais, bem como com grupos de contramanifestantes mobilizados por associações antirracistas. Autoridades da região afirmaram que vários policiais ficaram feridos. Quase 100 pessoas foram detidas até o momento, sendo pelo menos 23 em Liverpool, 20 em Hull, 20 em Blackpool e 14 em Bristol.

Hoje é o terceiro dia de violência após manifestantes tomarem as ruas de Sunderland na sexta-feira. Tijolos, cadeiras e garrafas foram lançados contra policiais; mesquitas foram atacadas, e uma delegacia de polícia, além de outras instalações comunitárias em todo o país, incluindo uma biblioteca, foram incendiadas. Um projétil foi lançado contra o caminhão dos bombeiros que foi direcionado ao local para conter o fogo.

O país não via uma explosão de violência similar desde 2011, quando o jovem mestiço Mark Duggan foi assassinado pela polícia de Londres. Um mês após assumir o poder, o governo trabalhista do primeiro-ministro Keir Starmer enfrenta sua primeira crise. Ele agora tenta convencer o país de que é capaz de conter as ações violentas. O tema é sensível para ele, já que durante sua campanha os conservadores o acusaram de ser brando com questões de segurança e imigração.

Desde segunda-feira, quando um adolescente invadiu uma aula de dança e esfaqueou as crianças que estavam no local, mobilizações tomaram conta do país. Starmer buscou multiplicar mensagens de firmeza e garantias de apoio às forças policiais contra o que descreve como o “ódio da extrema direita”. No sábado, após uma reunião de emergência com seus principais ministros, ele advertiu que apoiaria a polícia para que tomasse “todas as medidas necessárias para manter as ruas seguras”.

Questionada sobre a possibilidade de recorrer ao Exército, a ministra encarregada da polícia, Diana Johnson, assegurou neste domingo à rede britânica BBC que as forças “têm todos os recursos necessários”. O chefe assistente de polícia Alex Goss classificou o comportamento dos manifestantes como “deplorável” e afirmou que o impacto da desordem será “devastador”, mas que os agentes de segurança estão “fazendo de tudo para prender os envolvidos e levá-los à Justiça”.

Nas manifestações, organizadas sob o lema “Enough is enough” (Já é o suficiente), os participantes gritam slogans anti-imigração e islamofóbicos enquanto bandeiras britânicas são agitadas. Embora as condenações à violência sejam unânimes, com o passar dos dias começam a surgir críticas contra o governo. A ex-ministra conservadora do Interior, Priti Patel, disse que o governo “corre o risco de parecer arrastado pelos acontecimentos em vez de manter o controle”.

“Nas últimas duas semanas, sob os trabalhistas, tivemos ataques com faca contra pessoas inocentes, brigas de rua com facões, distúrbios e violência em manifestações”, afirmou nas redes sociais o partido conservador e anti-imigração Reform UK, acusando o Partido Trabalhista de ser “brando com os criminosos”.

Em meio aos violentos protestos, um juiz do Reino Unido decidiu divulgar o nome do suspeito de ser responsável pelo assassinato das três crianças — um menor de idade que, segundo a legislação local, só poderia ter a identidade revelada depois de fazer 18 anos. A decisão, considerada “excepcional”, foi uma tentativa de conter a onda de desinformação desencadeada após as mortes.

Na decisão, anunciada na quinta-feira, o juiz Andrew Menary disse que “continuar a impedir a divulgação completa [de notícias] neste momento tem a desvantagem de permitir que outros espalhem desinformação”. O magistrado destacou que se tratava de uma decisão “excepcional”, mas que “a balança claramente pende em favor do interesse público em permitir a divulgação completa desses procedimentos”. O pedido para a divulgação do nome foi feito por veículos de imprensa britânicos.

Na segunda-feira, o agora publicamente identificado Axel Muganwa Rudakubana, de 17 anos e nascido no Reino Unido, invadiu uma aula de dança na cidade de Southport, onde havia crianças de 6 a 11 anos, e esfaqueou quem viu pela frente.

Duas meninas, Bebe King, de 6 anos, e Elsie Dot Stancombe, de 7, morreram no mesmo dia, enquanto a terceira, Alice da Silva Aguiar, de 9 anos, morreu na manhã de terça-feira. Outras oito crianças ficaram feridas, cinco em estado grave. Dois adultos que tentaram protegê-las também precisaram de atendimento médico.

O ataque comoveu o Reino Unido: ao redor do país, houve homenagens e memoriais às vítimas. Fãs britânicos da cantora americana Taylor Swift fizeram uma vaquinha que levantou mais de £340 mil (R$ 2,49 milhões), e a cantora disse que as vítimas “eram apenas crianças em uma aula de dança” e que estava “completamente sem palavras” para expressar suas condolências.

Com informações de O Globo.