20 de setembro de 2024

Na última terça-feira (30), a Fundação Centro Carter (CC), uma ONG criada em 1982 pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, divulgou uma declaração sobre as eleições presidenciais na Venezuela, realizadas em 28 de julho. Com informações do Opera Mundi.

De acordo com o comunicado da organização, as eleições na Venezuela “não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerado democrático”. A crítica, no entanto, parece ter um viés político, pois a entidade não completou o processo de auditoria e deixou o país antes de finalizados todos os prazos estabelecidos no cronograma eleitoral.

O pronunciamento do CC tem sido interpretado como uma tentativa de deslegitimar os resultados das eleições de 28 de julho e os dados divulgados pelo Centro Nacional Eleitoral (CNE), possivelmente com o intuito de influenciar a opinião pública internacional e contribuir para um cenário de mudança de regime na Venezuela.

O documento tem oito contradições:

  1. Em princípio, o pronunciamento buscaria reeditar na Venezuela o método aplicado nas eleições presidenciais da Bolívia em 2019 pela Organização de Estados Americanos (OEA), encabeçada pelo ex-chanceler uruguaio e atual secretário, Luis Almagro. Seu conteúdo traz elementos de confusão e deslegitimação para aguçar a agenda de golpe.
  2. A organização não completou seu processo de “observação” na Venezuela. Apressou sua saída do país sem que culminassem as fases pendentes da etapa pós-eleitoral, segundo o cronograma estipulado e acordado entre o CNE, acompanhantes internacionais e todas as partes. O CC critica alguns passos das eleições e faz acusações sem aprofundar os fatos que relata.
  3. Ainda que o CNE e o governo venezuelano tenham informado sobre os ataques à plataforma do ente reitor, a declaração do CC não menciona isso. Não registraram este elemento como parte de suas considerações. Tal omissão contribui para tornar essa circunstância grave, invisível em torno ao processo eleitoral de 28 de julho.
  4. A pressa e o fato de estarem incompletas as “observações” da organização transforma o pronunciamento em um registro parcial da eleição. Ainda que tenha deslocado 17 especialistas e auditores a partir de 29 de junho passado, como diz o comunicado, a declaração não tem um caráter objetivo nem técnico.
  5. O CC, por exemplo, não qualifica como falta eleitoral a publicação de escrutínios pela oposição. Mediante esta tática, e coerente com a decisão de não assinar o Acordo de Reconhecimento de Resultados proposto pelo CNE no início da campanha, a Plataforma Unitária Democrática (PUD) busca gerar conclusões paralelas e aumentar a pressão necessária para perturbar o processo. Neste sentido, o CC busca estimular a crise ao emitir a declaração simultaneamente com esta estrutura paralela de contagem, controlada por María Corina Machado.
  6. O CC tem entre seus princípios o reconhecimento de “que resolver problemas difíceis requer uma análise cuidadosa”; no entanto, na Venezuela os alentam mediante uma leitura viesada da realidade. Em lugar de esperar, reunir mais dados e estabelecer vias de comunicação com os entes institucionais, optaram por injetar combustível no conflito a favor dos fatores de oposição.
  7. Esta organização depende de seu “prestígio” já que durante experiências anteriores contribuiu para encaminhar a estabilidade política na Venezuela. Nesta ocasião indica “incidentes de tensão ou violência reportados em algumas localidades” sem especificar da parte de que grupo político. A interrupção da observação do processo deveria significar o fim de sua credibilidade em matéria eleitoral em todo país que cogite convidá-los.
  8. Depois de afirmar que “a observação parte do máximo respeito à soberania da República Bolivariana da Venezuela e só pretende contribuir para a paz e a melhora de seus processos eleitorais”, o CC se torna partícipe de ações que, em outros países, derivaram em situações de conflito prolongado. A omissão sobre o plano de desconhecimento de resultados que se preparava durante a campanha eleitoral, de que participaram meios de comunicação internacionais, não pode ser considerada espontânea.

Em uma coletiva de imprensa internacional, o presidente Nicolás Maduro questionou o CC sobre quantos comunicados haviam sido emitidos após as eleições presidenciais dos EUA em novembro de 2020, quando Donald Trump alegou fraude eleitoral. A resposta da Fundação Centro Carter foi o silêncio.