Luzilá Gonçalves Ferreira é uma dessas pernambucanas que acredita na “dúvida” para gestação do processo artístico. Não é à toa que escreveu sete obras, dentre elas Muito além do corpo (1988) e Os rios turvos (1993), ambos premiados nacionalmente, este último, agraciado com o Prêmio Joaquim Nabuco da Academia Brasileira de Letras, concedida a biografias.
A ocupante da cadeira nº38 da Academia Pernambucana de Letras nasceu em Garanhuns, “na terra do Lula”. Apesar de ter morado dez anos na França e quatro na Argentina (Buenos Aires), Recife é a cidade que faz pulsar mais forte seu coração.
Leitora “obsessiva” de Goethe, Tchekov, Mansfield, Romain Rolland, Charles Morgan, Luzilá afirma que um determinado momento de sua vida passou a ouvir esses “seres extraordinários” e com eles aprendeu a enxergar o mundo sob uma perspectiva ficcional.
Quando se fala de autores brasileiros, dois nomes não podem faltar à sua lista: o mineiro Carlos Drummond de Andrade e a (amiga) cearense Raquel de Queiroz, que, segundo Luzilá, leu Muito além do corpo em uma única noite. As leituras ampliaram seus horizontes, mas a inspiração de Luzilá vem mesmo da cultura regional latente em seus poros.
Feminista convicta, Luzilá diz que se alimenta de tudo aquilo que os pernambucanos que a antecederam, deixaram de herança. Em especial, destaca o papel da mulher na poesia, na imprensa e luta pela abolição da escravatura, no século XIX.
A autora de No tempo frágil das horas (2004), afirma que “escrever sobre o que fizeram essas mulheres é um pouco recuperar sua fala que durante anos foi silenciada, esquecida, apagada”. Ou seja, escrever sobre tais mulheres, tal como eu escrevo sobre Luzilá Gonçalves Ferreira, é um modo de ouvir o que essas mulheres ainda têm a nos dizer.
A escritora, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem muito a nos falar:
– O silêncio é o maior aliado do escritor;
– A escrita é sempre um ato político;
– O maior inimigo do escritor é a vaidade, a presunção e o desejo de aparecer a qualquer custo;
– A literatura existe para que entendamos o começo, o meio e o fim… de cada um de nós, ou da humanidade em geral, ou do romance;
– O escritor olha o mundo com os olhos da ficção, nem por isso ele fica melhor ou pior;
– É possível que um escritor nunca atinja a maturidade;
– Uma história ficcional nunca termina;
– A palavra é capaz de recriar o silêncio…
Luzilá Gonçalves Ferreira, mulher, mãe de três filhos, leitora, escritora, acredita que “Qualquer pessoa” pode escrever “uma história”. “Mas necessita de ler, ler, ler”. A pergunta que não quer calar: você já começou a escrever a narrativa da sua vida?
COLUNA NORDESTINADOS A LER
LUCIANA BESSA
Leia o jornal leia Sempre Brasil: