22 de novembro de 2024

A CBF divulgou um pronunciamento nesta sexta-feira (14), após Yan Couto ter declarado que foi pedido para não tingir o cabelo antes da Data Fifa. Em nota, a entidade enfatizou a liberdade, autoexpressão e livre construção da personalidade de cada indivíduo.

Sem mencionar o jogador, a nota da entidade nega o veto ao cabelo descolorido e fala em “compromisso com o bom futebol”.

“A CBF reafirma seu compromisso com a liberdade, a pluralidade, o direito à autoexpressão e livre construção da personalidade de cada indivíduo que trabalhe na entidade ou defenda a Seleção Brasileira. Para a entidade, o desempenho do colaborador fala por si só”, diz a nota emitida nesta sexta (14).

“O compromisso da CBF é com o bom futebol e as melhores práticas de gestão. Cada colaborador ou atleta deve ter autonomia sobre sua própria aparência, credo, orientação sexual e expressão de gênero”, segue.

Tudo veio a tona após uma entrevista do lateral direito Yan Couto, do Girona (Espanha), ao UOL, antes dos compromissos da última Data Fifa.

“Foi um pedido, basicamente. Falaram que o rosa é meio ‘vacilão’ assim. Eu não acho, mas vou respeitar, né. Me pediram, vou fazer”, afirmou à jornalista Yara Fontani.

“Eu uso o rosa no Girona, virou moda, todo mundo usa na cidade”, completou. O cabelo rosa de Yan Couto foi um “marco” do que ele considerou uma virada de mentalidade, que o ajudou dentro de campo., segundo o próprio lateral-direito.

Em entrevista ao jornal espanhol “Mundo Deportivo”, durante a última temporada de LALIGA, o brasileiro do Girona chegou a afirmar que se inspirou no atacante Atlético de Madrid, Antoine Griezman, e no lateral-esquerdo Theo Hernandez, do Milan.

“Eu via Griezmann e Theo Hernández, mas não pensei que acabaria com a mesma cor de cabelo. Desde que começou a temporada (2023/24), penso que seria meu ano, então decidi fazer algo para mudar de fase e me vejo bem”, revelou. “Não tem nada a ver com o filme Barbie”, brincou.

“Só queria mudar de pessoa e o ciclo da minha vida, porque sempre tive altos e baixos. Agora, estou bem mentalmente e só penso no futebol. Como sou brasileiro, tenho que estar sempre contente. No Brasil, sempre bailamos, fazemos piadas, mas, pensando no futebol, quero fazer uma temporada espetacular, e que as pessoas gostem”, complementou Yan Couto.

De acordo com o UOL, existe uma lista de recomendações comportamentais para os jogadores convocados feitas pela CBF, onde, curiosamente, não consta uma determinação de veto aos ‘cabelos coloridos’.

• Cuidado para passar uma imagem de seriedade;

• Evitar o uso de brincos chamativos;

• Não utilizar colares extravagantes;

• Uso das redes sociais de forma sóbria e com discrição, sem brincadeirinhas;

• Utilização do celular na mesa de jantar apenas após terminar a refeição;

• Evitar chegar ao estádio com fones ou ouvindo música alta;

• Evitar que os atletas apareçam em vídeos oficiais ouvindo música e brincando no vestiário;

• Respeitar os horários;

• Não atrasar a saída do ônibus da delegação;

• Não comer nada fora do plano nutricional no quarto

Conservadorismo da CBF

A polêmica reacendeu a discussão sobre o papel da confederação e quais os objetivos da entidade que comanda o futebol brasileiro em restringir o comportamento dos jogadores.

Na nota divulgada nesta sexta, a CBF afirma que “está sempre aberta a novas iniciativas para que o futebol brasileiro se torne um espaço mais inclusivo e livre de preconceitos”.

A entidade, no entanto, foi alvo de críticas pelo conservadorismo exposto pelo lateral-direito da seleção.

O coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, parceiro da CBF e citado no comunicado oficial da entidade, inclusive, enviou ofício cobrando um posicionamento da confederação sobre o tema.

“Nós, do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, manifestamos nossa profunda preocupação com a recente informação divulgada pelo jogador Yan Couto”.

Também nos preocupa a divulgação de orientações que teriam sido passadas pela CBF aos jogadores da seleção brasileira: “tomar o cuidado de passar uma imagem de seriedade”, “evitar utilizar brincos chamativos” e “não utilizar colares extravagantes”.

Para o coletivo, os fatos dessa semana “levantaram sérios questionamentos sobre um possível viés discriminatório e homofóbico dessa conduta que pode não ter sido tomada oficialmente pela CBF, mas que pode ter sido adotada individualmente por algum integrante da entidade ou comissão técnica”.

“Aqui reside um dos pontos mais importantes do processo de construção de Diversidade, Inclusão e combate à LGBTfobia em qualquer ambiente: a formação e letramento de todos e todas que compõem a entidade, em todas as frentes”, conclui a nota.

Fonte: Portal Vermelho

Foto: Ernesto Ryan/Getty Images