Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”
Tem cheiro ruim saindo do caso do senador Jorge Seif no Tribunal Superior Eleitoral. O processo deveria ter sido julgado na terça-feira da semana passada, mas o relator, Floriano de Azevedo Marques, não apareceu, por problemas pessoais, e não há nova data marcada.
O TSE precisa decidir, em julgamento de recurso, se o TRE de Santa Catarina fez o certo ao absolver por 7 a 0 o bolsonarista da acusação de beneficiado por abuso de poder econômico, feita pela coligação “Bora Trabalhar” (Patriota/PSD/União).
O pivô do caso é, mais uma vez, o autoproclamado véio da Havan, que teria oferecido a Seif a estrutura e os aviões da empresa de forma abusiva e ilegal, na campanha de 2022.
É o quarto caso, na Justiça Eleitoral, envolvendo o véio milionário, que foi absolvido em três casos em primeira instância (Brusque, Santa Rosa e Bagé), mas acabou sendo condenado e tornado inelegível, por acolhimento de recurso no TSE, no processo por abuso econômico em Brusque, na eleição municipal de 2020.
Os casos de abuso em Santa Rosa e Bagé tramitam, por recurso de coligações lideradas pelo PT, no TSE em Brasília. Mas os dois prefeitos da direita, eleitos com a ajuda do véio, em Bagé e Santa Rosa, estão às vésperas de completar o mandato.
A dúvida elementar no caso de Jorge Seif é essa: por que arredar para um canto o processo contra um sujeito sem expressão política como nome nacional, mesmo que seja do Estado mais bolsonarista?
Por que tanta cautela, se Jorge Seif, apesar de agressivo e aguerrido, pertence ao segundo time da extrema direita e não é nenhum Sergio Moro?
Talvez porque a ação que pede sua cassação tenha entrado em pauta numa hora ruim, com a intensificação dos duelos do Congresso com Alexandre de Moraes e pouco antes da manifestação em Copacabana.
Seif, que estava sempre ao lado de Bolsonaro, foi aconselhado a se recolher. Não participou do ato do líder em Balneário Camboriú, no dia 30 de março, e não apareceu no Rio.
Seu caso foi arredado porque ninguém sabia o que poderia acontecer em Copacabana. O que aconteceu foi um fiasco, que fragilizou Bolsonaro e a extrema direita. Assim como já havido fracassado a aglomeração em Santa Catarina.
E agora, faz o quê? Agora é preciso calibrar o momento certo para condenar ou absolver o sujeito que chora, como chorou em setembro do ano passado, quando chamou o general Gustavo Henrique Dutra de covarde.
Dutra era comandante do Planalto, quando permitiu que a polícia tivesse acesso aos acampamentos montados ao lado do QG do Exército e prendesse, em 9 de janeiro, manés e terroristas golpistas.
Seif poderá ser poupado, mesmo que seja um apenas um patriota gritão no Senado? O TSE, depois de constatar o fracasso de Copacabana, não pode seguir em frente e marcar nova data para o julgamento?
Sabe-se que advogados do senador procuraram altas autoridades que podem ajudar na sua absolvição, para negociar o que todos eles fazem ou tentam fazer: se for poupado, se aquieta.
Aquieta-se até a próxima oportunidade de fazer o que todos eles fizeram em quatro anos de governo Bolsonaro. O TSE não estaria exagerando, na avaliação da repercussão política do caso, ao julgar um mané chorão?