Por Mouzar Benedito
Homens e mulheres usando o mesmo banheiro? Comunismo! Vacina? Comunismo! Defesa de povos indígenas? Comunismo! Direitos civis? Comunismo! Cultura? Comunismo! Combate ao garimpo ilegal que mata os rios? Comunismo! Combate ao desmatamento e às queimadas de florestas? Comunismo!
Tem muito mais coisas “comunistas” acontecendo. Um perigo! Na ditadura, milicos “viam” comunista até embaixo da cama deles. Agora mesmo civis “veem” no banheiro, ou lendo um livro, ou na floresta, ou aplicando vacinas, ou fazendo pesquisas científicas…
Por trás do pensamento e da prática de um pessoal não meramente conservador, mas totalitário, terrorista, tem um perigo real, que nos ameaça e, este sim, quer nos golpear, reprimir, esfolar, matar, acabar com direitos, impor uma ditadura…
Sim, ideias e práticas fascistas (e do seu correlato, o nazismo) estão aí. Se a gente vacilar, babau!
Coletei umas frases sobre essa desgraça. E no fim, para não dizer, que não há frases deles, coloquei também. Não, não servem de propaganda deles. São frases que quase todo mundo conhece, ridículas se não fossem perigosas, mas servem para relembrar e pensar: como é que vemos pessoas que julgávamos “normais” até há pouco tempo se revelando adeptos dessa merda?
Vamos às frases:
Leonardo Sciascia: “Quando uma aliança for estabelecida entre os imbecis e os espertos, cuidado: o fascismo está sobre nós”.
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Andrea Camilleri: “O fascismo é um vírus mutante. Ele nunca morreu. Nós nunca o matamos. E agora está de volta, mudado”.
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Umberto Eco: “O fascismo ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis”.
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Umberto Eco, de novo: “O fascismo não tinha bases filosóficas, mas do ponto de vista emocional era firmemente articulado a alguns arquétipos”.
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Umberto Eco, mais uma vez: “Uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos”.
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Wilhelm Reich: “A classe média começou a movimentar-se e apareceu como força social, sob a forma de fascismo. Assim, não se trata das intenções reacionários de Hitler e de Göring, mas sim os interesses sociais das camadas da classe média”.
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Fred Hampton: “Nada é mais importante do que parar o fascismo, porque o fascismo vai parar todos nós”.
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Roland Barthes: “O fascismo não é impedir-nos de dizer, é obrigar-nos a dizer”.
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Sandro Pertini: “O fascismo não é uma opinião, é um crime”.
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Roberto Gervaso: “Mais que um acidente, o fascismo foi uma doença”.
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Ernesto Rossi: O fascismo não foi um acidente a ser atribuído à iniciativa criminosa de Mussolini. Foi fruto de toda a nossa História”.
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Aldo Busi: “O fascismo é a destilação final do machismo, é a perda da virilidade”.
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Engenheiros do Hawaii: “O fascismo é fascinante, deixa a gente ignorante e fascinada”.
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Jason Stanley: “O objetivo do fascismo […] é destruir nosso respeito pela verdade, destruir nosso senso de realidade”.
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Miguel de Unamuno: “O que os fascistas odeiam, acima de tudo, é a inteligência”.
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Carl Sagan: “Não seria demasia lembrar que os arautos das devassas ilegais odiosas e fascistas acabam por ter que quebrar seus próprios espelhos”.
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Roque Dalton: “Nunca se esqueça que os menos fascistas entre os fascistas são sempre fascistas”.
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Albert Camus: “O fascismo, na verdade, é o desprezo. Inversamente, qualquer forma de desprezo, se intervém na política, prepara ou instaura o fascismo”.
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Heinrich Heine: “Onde livros são queimados, no fim, as pessoas também serão queimadas”.
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Roger Chartier: “Desde a Inquisição até os nazistas, destruição obceca os opressores que, ao aniquilar os livros e autores, pensam estar erradicando para sempre suas ideias”.
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Jonah Goldberg: “A ideologia nazista não pode ser resumida em um programa de plataforma. Pode ser entendida como um redemoinho de preconceitos, paixões, ódios, emoções, ressentimentos, esperanças e atitudes que, quando combinadas, na maioria das vezes se assemelha a uma cruzada religiosa sob a máscara de uma ideologia política”.
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Carlos Bardem: “Ela não gosta de você, mas ela não te odeia. Esse é uma diferença que um nazista como você não entende”.
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Bertrand Russell: “A maioria dos seres humanos, embora em graus variados, deseja controlar não apenas suas próprias vidas, mas também as vidas dos outros”.
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Jean Paul Sartre: “O fascismo não se define pelo número de vítimas, mas pela forma como se mata”.
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Aneurin Bevan: “O fascismo não é uma nova ordem social, é o futuro que se recusa a nascer”.
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Primo Levi: “No ódio nazista não há nada de racional; é um ódio que está dentro de nós, que é estranho ao homem”.
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Primo Levi, de novo: “Ao fascismo de hoje falta apenas o poder de voltar a ser o que foi, ou seja, consagração do privilégio e da desigualdade”.
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George Orwell: “A palavra fascismo não tem significado algum, exceto algo não desejável”.
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Orwell, de novo: “Todas as tiranias governam através de fraudes e força, mas uma vez que a fraude é exposta devem depender exclusivamente da força”.
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Friedrich Nietzsche: “Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você”.
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Eric Voegelin: “Não se pode enfrentar uma força satânica apenas com humanismo e moralidade”.
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Giancarlo Pajetta (sobre a Itália): “Terminamos de conversar com os fascistas em 25 de abril de 1945”.
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Jorge Bocca: “Somos o único país moderno [Itália] em que um sistema político, o fascismo, dado como morto em 25 de abril de 1945, viu um partido neo ou pós-fascista retomar o governo em 1994, que herdou diretamente suas ideias, costumes e formas”.
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Michele Serra: “Está fora de moda falar de uma emergência antifascista neste país; só que é o país que o fascismo incubou, deu à luz e ao mundo e, como tal, deve passar por algumas verificações periódicas”.
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Antonio Gramsci: “O Ministério Público italiano, durante o fascismo de Benito Mussolini, proclamou durante o julgamento, em 1928: ‘Por vinte anos devemos impedir que este cérebro funcione’”.
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Indro Montanelli: “Fascismo: a tentativa mais cômica de estabelecer a seriedade”.
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André Malraux: “Vi as democracias intervirem contra quase tudo, salvo contra os fascismos”.
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Michel Foucault (sobre o “inimigo maior, o fascismo”): “Não somente o fascismo histórico de Hitler e Mussolini – que soube tão bem mobilizar e utilizar o desejo das massas –, mas também o fascismo que está em todos nós, que ronda nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz gostar do poder, desejar essa coisa mesma que nos domina e explora”.
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Foucault, de novo: “Todos estes dizem defender a vida, mas que tipo de vida? A vida impotente, subjugada, deprimida, incapaz, explorada, dócil? Nós não! Precisamos desmontar esta máquina de adestramento”.
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John Malkovich: “Não me preocupo com o nazista que cruza comigo na rua. O que me preocupa é o nazista que vive dentro de mim”.
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Hannah Arendt: “O súdito ideal do governo totalitário não é o nazista convicto nem o comunista convicto, mas aquele para quem já não existe a diferença entre o fato e a ficção”.
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Langston Hughes: “Claro, sou contra o fascismo com sua propagação de preconceito de cor, de ódio racial e opressão da classe trabalhadora. Como qualquer mano sensato poderia ser diferente?”.
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Bertolt Brecht: “A cadela do fascismo está sempre no cio”.
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Brecht, de novo: “O fascismo é um vírus, como o vírus da peste, da cólera e do tifo”.
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Brecht, mais uma vez: “Aqueles que são contra o fascismo sem serem contra o capitalismo, que lamentam a barbárie que sai da barbárie, são como pessoas que desejam comer carne de vitela sem matar o bezerro”.
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Paul M. Sweezy: “Toda nação capitalista traz em si, no período do imperialismo, as sementes do fascismo. Surge naturalmente o problema de saber se essas sementes devem deitar raízes e crescer”.
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Márcia Tiburi: “O fascismo é o lado terrorista do capitalismo, ele incita o ódio para exorcizar o medo”.
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Max Horkheimer: “Quem não tem nada a dizer sobre o capitalismo, também deve se calar sobre o fascismo”.
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Marco Rizzo: “O fascismo se combate hoje retomando as lutas dos trabalhadores, levando aos bairros e subúrbios as palavras de ordem de solidariedade e igualdade, rejeitando a guerra entre os pobres e dando uma alternativa real de luta às classes populares. Hoje o antifascismo é o anticapitalismo”.
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Oskar Schindler (alemão que salvou 1200 judeus durante o Holocausto e inspirou o livro A lista de Schindler): “Eu odiava a brutalidade, o sadismo e a insanidade do nazismo. Eu simplesmente não podia ficar parado e ver as pessoas destruídas. Fiz o que pude, o que tive que fazer, o que minha consciência me dizia que devia fazer. Isso é tudo. Realmente. Nada mais”.
Agora é a vez deles e de uns simpatizantes deles, que se dizem “cidadãos de bem”…
Benito Mussolini:
“Enterramos o cadáver pútrido da liberdade”.
“Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”.
“Eu sempre achei mais fácil convencer uma grande massa do que uma só pessoa”.
“O fascismo é uma religião. O século XX será conhecido como o século do fascismo”.
Adolf Hitler:
“A única emoção estável é o ódio”.
“A natureza é cruel; então também estamos destinados a ser cruéis. Ao enviar a flor da juventude alemã para a chuva de metais da guerra sem o menor remorso pelo precioso sangue deles que está sendo derramado, eu deveria ter o direito de eliminar milhões de uma raça inferior que se multiplica como verme”.
“Que sorte para os ditadores que os homens não pensem”.
“As grandes massas do povo cairão mais facilmente vítimas de uma grande mentira que de uma pequena”.
“Se você quer a simpatia das massas, você tem que dizer a elas as coisas mais estúpidas e cruéis”.
“Toda propaganda tem que ser popular e tem que se acomodar à compreensão dos menos inteligentes, daqueles a quem ela busca atingir”.
“O terrorismo é a melhor arma política, pois nada motiva mais as pessoas do que o medo de uma morte súbita”.
Heinrich Himmler (comandante da SS, polícia nazista):
“Aquele que jura pela suástica deve renunciar a qualquer outra lealdade”.
“Temos apenas uma tarefa: permanecer firme e continuar a luta racial sem piedade”.
“A melhor arma política é a arma do terror. Crueldade exige respeito. Os homens podem nos odiar, mas não pedimos o amor deles, apenas seu medo”.
Joseph Goebbels:
“É direito absoluto do Estado fiscalizar a formação da opinião pública”.
“Um mentira contada mil vezes torna-se verdade”.
Jair Bolsonaro:
“O grande erro da ditadura foi não matar vagabundos e canalhas como Fernando Henrique”.
“O erro da ditadura foi torturar e não matar”.
“Pinochet devia ter matado mais gente”.
Olavo de Carvalho: “Falar manso e agir com brutalidade é uma fórmula que jamais falhou. E invertê-la foi sempre receita de suicídio”.
Silvio Berlusconi: “Mussolini nunca matou qualquer pessoa. Mussolini enviou pessoas de férias para o confinamento”.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2021, Editora Limiar). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.
Fonte: blog da BoiTempo