20 de setembro de 2024

Íris Tavares
Coluna O Verbo Feminino

Alguns dias se passaram desde o último artigo publicado na nossa coluna o Verbo Feminino. Cá estamos de volta com as nossas palavras e reflexões que expressam as ideias, o olhar e o pensamento do feminino nesse território marcado por inúmeras violências contra as mulheres. Expressamos a nossa indignação em relação ao resultado do julgamento, depois de 22 anos, dos crimes de Luíza Alexandra de Alencar e Maria Eliane Gonçalves, ambas vítimas dos torturadores do “Escritório do Crime”. Um processo que corria em segredo de justiça.

Quem lembra dessa tragédia, seguida de tantas outras? Em 2001, a sede do escritório funcionava em Juazeiro do Norte. Anos se passaram até o julgamento ser marcado e foram necessárias várias articulações do movimento organizado de mulheres, junto ao poder judiciário, pois havia o risco de prescrição do crime, todavia foram poucas pessoas que tomaram conhecimento da realização do julgamento. Nos perguntamos se todas as famílias foram comunicadas? Foi no último dia 28 de outubro de 2023, que a memória de nossas jovens trabalhadoras, uma estrangulada e a outra teve parte de seu corpo decepado, antes de ser queimada viva. Foram desfiguradas pelo tempo da indiferença e do silêncio e novamente tornaram-se alvo de uma violência atroz. Um episódio que evidencia a fria e desumana sentença. É a lei? É o cerco e o abismo onde beira a crença humana numa justiça capaz de restaurar a dignidade das mulheres. Continuam nos domesticando para morte e por isso repetem o mesmo veredito. O criminoso, mesmo foragido há anos, foi inocentado. As mães, irmãs e familiares continuam sofrendo e se reservam na sua dor, no seu desespero, enquanto não houver a punição dos criminosos, porque eles continuam matando.

Naquele recinto do Fórum de Juazeiro do Norte, estavam a Defensoria Pública, o Promotor, o Juiz e o Juri Popular. E o réu? Absolvido e continua foragido. Uma declaração dita pelos operadores da lei, é que o processo não disponha de provas suficientes, são confusas e de má qualidade e a queixa é de que não havia ali elementos suficientes para condenação do réu. Novamente a justiça nos desfavorece, nos ignora vivas ou mortas. A fragilidade dos poderes instituídos, em destaque o judiciário, tem como apelo os princípios civilizatórios, todavia nos questionamos em que medida as investigações, os procedimentos e ritos processuais se arrastam e se dilatam no tempo. Nessa arena, historicamente, convivem a barbárie e a civilização. Nós mulheres estamos no centro desse picadeiro gritando por justiça, democracia e direitos humanos para o feminino. Empenhamos a nossa solidariedade aos familiares, amigas(os) e reafirmamos a nossa indignação por mais uma injustiça contra Alexandra e Eliane, a sociedade e todas nós mulheres.