22 de novembro de 2024

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou nesta sexta-feira que “as mudanças climáticas estão fora de controle” após a temperatura média do planeta bater consecutivamente recordes históricos em três dos últimos quatro dias. A semana que antecedeu a última quarta foi a mais quente na memória recente, prenúncio de um cenário que deve piorar caso a Humanidade não aja rapidamente para conter as emissões de gases-estufa.

Segundo os dados provisórios analisados pela Universidade do Maine, nos Estados Unidos, a temperatura global na segunda-feira chegou a 17,01°C, ultrapassando os 17°C pela primeira vez desde que a série histórica começou em 1979. Na terça, a temperatura média chegou a 17,18°C, nível mantido na quarta-feira, antes de subir para 17,23°C na quinta.

– Se continuarmos a adiar as medidas-chave que são necessárias, acho que caminharemos rumo a uma situação catastróficas, como os dois últimos recorde em temperatura mostram – disse Guterres, antes de os dados referentes a quinta serem divulgados.

Na semana entre esta quarta e a anterior, dia 28 de junho, a temperatura média da Terra foi 0,04°C superior a de quaisquer outros sete dias já registrados pelo projeto Climate Reanalyzer, da universidade americana. O projeto faz os cálculos a partir de dados de satélites e simulações de computadores.

A Administração Nacional Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos (NOAA), cuja métrica é considerada a principal para a temperatura do mundo, se distanciou nos números da Universidade do Maine. O órgão americano considera que o modelo de projeções usado pelo centro educacional não é um substituto ideal para as temperaturas reais e registros históricos.

A NOAA, que monitora a temperatura planetária divulgando médias mensais e anuais, contudo, afirmou que “apesar de não poder validar a metodologia ou as conclusões das análises da Universidade do Maine, reconhece que estamos em um período mais quente devido às mudanças climáticas”. Em um comunicado, disse que o El Niño e o verão boreal contribuem para os recordes.

Na quinta, o serviço de monitoramento climático da União Europeia (UE) anunciou que o mundo viveu seu mês de junho mais quente neste ano, prevendo que o verão europeu será particularmente escaldante. O dia 11 de julho, alerta a Agência Estatal de Meteorologia da Espanha, deve ser o mais quente já registrado em Madri, com os termômetros marcando recordes 43,4°C. O recorde atual, de agosto de 2021, é 42,7°C.

O aumento da temperatura global é indissociável do efeito estufa, alertam especialistas, acirrado pela emissão maciça de gases poluentes desde a Revolução Industrial. O mundo deve reduzir suas emissões em 43% até 2030 para que tenha chance de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século, patamar considerado limítrofe para evitar um cataclismo.

No histórico e vinculante Acordo de Paris, de 2015, os países se comprometeram com metas voluntárias de redução dos gases-estufa para que o aumento da temperatura global fique abaixo de 2°C e, idealmente, 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais. O alvo mais ambicioso, contudo, foi reafirmado nas COPs 26 e 27, edições de 2021 e 2022 das conferências climáticas da ONU.

Em março, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU determinou que o mundo deve ultrapassar a marca de 1,5°C “no futuro próximo”, mas que a ação rápida pode fazer com que os termômetros reduzam nas décadas seguintes. Quanto mais a Terra esquentar, contudo, mais dependente o mundo ficará de tecnologias de captura de carbono e outras ferramentas ainda incipientes ou inexistentes.

De acordo com a análise da organização Climate Action Tracker, as ações atuais põem o planeta na rota para 2,7°C a mais no fim do século. As promessas de longo prazo e compromissos assumidos para 2030, bem distantes de serem cumpridos, deixariam o mundo no caminho para 2°C. Cada décimo de grau, contudo, aumenta a probabilidade de eventos climáticos extremos com potenciais consequências maciças para a Humanidade e o meio ambiente.

Na China, há uma nova onda de calor menos de duas semanas após os termômetros baterem recordes em Pequim. Na Índia, o calor extremo no mês passado é associado a mortes em áreas mais pobres, enquanto na última semana houve uma onda de altas temperaturas no Texas e no Norte do México. Depois de um junho quente recorde no Reino Unido, restrições ao uso de água foram impostas em partes do sudeste da Inglaterra, e a Escócia colocou regiões em alerta de escassez de água.

O cenário é piorado pelo El Niño, fenômeno oceânico e atmosférico caracterizado pelo aquecimento além do normal da temperatura das águas na porção equatorial do Oceano Pacífico, que deve ter seu auge deve ser entre dezembro e fevereiro do ano que vem. Ele ocorreu pela última vez entre 2018 e 2019, sendo seguido por um episódio particularmente longo de La Niña, fenômeno que causa os efeitos inversos e tende a reduzir a temperatura média global.

Devido ao El Niño, que tende a aumentar a média da temperatura do planeta, em particular no ano seguinte à sua formação, os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados. O recorde de temperatura é de 2016, quando houve um fenômeno particularmente intenso.

Outras consequências devem ser mais chuvas nas partes setentrionais da América do Sul e dos Estados Unidos e no Chifre da África, por exemplo, e secas severas na Austrália, no sul da Ásia e na parte boreal do subcontinente sul-americano. As previsões da Organização Meteorológica Mundial incluem o risco de queda da precipitação em partes da Indonésia, da América Central e da Amazônia.

Com informações de O Globo.