22 de novembro de 2024

Por Tarso Araújo

O homem sozinho olha pela janela de sua casa em frente ao mar. O dia está amanhecendo, os pássaros começam a fazer seus habituais barulhos. Ele olha intensamente o mar e relembra carnavais passados. Um tempo em que o tempo não volta mais.

Suspira o homem e pega sua xícara de café. Fuma lentamente e aos poucos deixa os pensamentos casuais do dia, de seu cotidiano de pescador e homem que ama o mar e a vida. Mas, pensa ele, como está difícil amar a vida.

E lembra que aquela casa antes foi tão movimentada. Quando Aurora era viva e eles criaram seus cinco filhos. Se amaram muitas noites na varanda da casa ou no barco. Beberam juntos, sorriram juntos, perderam e ganharam.

Mas em um belo dia de sol de domingo, Aurora o deixou sozinho. Os filhos já tinham partido para cuidar da vida. A cidade grande ainda engole pessoas e afetos. E mais sozinho o homem ficou.

Deu mais um gole no café quente e deixou os pensamentos o engolirem. Ali, olhando daquela janela tantas vezes viu Aurora sorrindo e vindo da praia carregando caranguejos. Ali, naquele Carnaval que começa, os filhos não vêm vê-lo. Mas, para que vê-lo se o bom era ver Aurora.
Fica e continua sozinho, suspirando, ouvindo o mar, seu companheiro enquanto a vida lhe durar.