Por Alexandre Lucas
Escrevedor
Devo confessar que descasquei o miolo do pote. Manhã, ainda guardo a lembrança da madrugada. Os olhos ficaram atentos de inquietação, nada aconteceu, aliás minto, o mundo girou e eu nem vi. Meus pensamentos fizeram maratonas de desejos e percorri labirintos com infinitas portas. A dúvida e o medo não me deram respostas.
Fico quase despida, ainda de manhã, mostro apenas o que quero. Deixo-me ser lida enquanto me visto. Não quero ser descoberta. Agora não. Prefiro confundir. Estou procurando como sentir, sentar, fundir. Na verdade, nem sei o que procuro. Tenho que deixar de descascar miolo de pote.
Enquanto vou me despindo e me vestindo, subo nas paredes para escrever com tochas de fogo, quero ser lida ardentemente. Às vezes prefiro ser mar para apagar o fogo, mas somente às vezes. Hoje quero queimar e molhar.
Talvez nada aconteça hoje. O mar e o fogo que carrego me deixam apenas seminua. Seus lábios mordidos reviram o texto só para te confundir. Eu nem preciso, já sou confundida e já descasco miolo de porte há muito tempo.