25 de novembro de 2024

Por Alexandre Lucas

Folheando Candido me pego fugindo das suas palavras, por mais essenciais que sejam, como é a literatura. Estou pensando na noite sem vinho e na embriaguez dos afetos, não estou conseguindo fugir.

Talvez esteja esperando um milagre ou o cansaço chegar. Leio mais um pouco de Candido, percebo que a forma e o conteúdo são inseparáveis na obra, mas ao mesmo tempo podem ser contraditórias. A vida é essa contradição: amor e ódio, liberdade e exploração, conquista e perda e uma infinidade de coisas que não se afinam.

Mas há quem faça uma literatura besta. A literatura da positividade tóxica para ser mais contemporâneo. Aquela que aborta os conflitos e o paraíso parece nunca ter problemas. É uma literatura gastronômica cheia de receitas que são inválidas para a vida real.

Candido agora está de lado. Descanso os olhos. A mente parece uma metralhadora de desejos, enormes com o mundo, mas como só tenho os desejos, o mundo me falta, mesmo estando atravessado por ele. Sou mais mundo do que eu e carrego a humanidade dentre de mim.

Candido é imenso, mas muito menor que a complexidade do mundo, por isso me perco nas noites sem vinho e na embriaguez dos afetos e me invento na literatura para não fugir da realidade.