10 de novembro de 2024

A ponta do lápis na boca e o olhar para as fotografias das memórias. Tentava sem muito sucesso descrever o que gostaria de esconder. Estava difícil, não sabia por onde começar, se pelo desejo alinhado de placas de advertência ou se pela pureza que escondia os perigos da viagem.

Prosseguia na manhã chuvosa. Vestido vermelho, caliente, para um tempo frio. Rede dobrada e o violão com cordas partidas. Queria mesmo era esmagar os pudores, revirar a cama e sair assobiando de felicidade. Só os cachorros latiam no silêncio insosso da manhã, enquanto, pequenos terremotos consumiam suas vontades. Escondia suas razões e seus barulhos e ria ao chupar tamarindo.

A flor esmagada é mais dura que a sensibilidade. Sente o cheiro da flor misturada a terra, não é possível sentir as coisas sapatadas. O gosto do pequi não se divide do seu cheiro. Ela não se desprende da sua ausência, medíocre realidade. Pensa em tocar fogo na chuva, no máximo queimar algumas fotografias.

Abre o vinho gelado e convoca todos seus pecados. Dedilha com ânimo e delicadeza as curvas desertas do seu corpo até se fazer mar.

Nas cinzas do seu mar, imagina outros ensaios, mesmo em dias chuvosos e de segredos velados.

*Pedagogo e artista/educador