5 de julho de 2025
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Legenda: FTL opera no transporte de cargas entre as cidades de Fortaleza e São Luís Foto: Thiago Gadelha

A concessionária Transnordestina Logística S.A. (TLSA) recebeu somente R$ 400 milhões do R$ 1,81 bilhão previsto para este ano nas obras da ferrovia de mesmo nome, totalizando apenas 22% do valor estimado. A empresa, contudo, afirma não haver falta de recursos até o momento.

Os dados foram repassados por Tufi Daher Filho, presidente da TLSA, em entrevista ao Diário do Nordeste. Atualmente, a construção da malha ferroviária segue avançando na execução da infraestrutura em cinco lotes (4, 5, 6, 7 e 11), localizados no interior do Ceará.

A concessionária aguarda novos repasses, que devem ser realizados “nos próximos dias”, para iniciar novos trechos da obra.

Quanto já foi repassado e quanto ainda falta 

Do total previsto, R$ 600 milhões são de mais uma parcela do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), do Banco do Nordeste (BNB), a serem liberados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Além disso, há valores a serem recebidos do antigo Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor). De acordo com Tufi, são R$ 816 milhões. A questão é de que, até o momento, só chegaram R$ 400 milhões para a TLSA referentes ao FDNE.

“O BNB já encaminhou e estamos aguardando, até pela responsabilidade que tem nos contratos, que a Sudene possa liberar quanto antes. A gente tem uma liberação de R$ 600 milhões para ser feita, daquela primeira parte do R$ 1 bilhão. Esses R$ 600 milhões vão ser de fundamental importância para darmos continuidade não só aos lotes que a gente tem, como também para começar a contratar os outros. Tem mais outra parcela de R$ 816 milhões que deve sair nos próximos dias”, detalha.

O presidente da empresa reforça que, hoje, “o desafio da construção é financeiro”, embora admita que, até o momento, “não faltou recurso” governamental para a construção da Transnordestina. Segundo ele, 99% de toda a área destinada à construção já foi desapropriada. Em relação ao 1% restante, as negociações estão sendo conduzidas com os proprietários.

 

“A gente não pode deixar que faltem os recursos na hora certa. Uma empresa mobilizada desse tamanho, do jeito que está, com inúmeros fornecedores de toda monta, não pode faltar recurso. O que o presidente Lula prometeu foi cumprido até aqui. Precisamos estar sempre atentos para não poder faltar”.
Tufi Daher Filho

Presidente da TLSA

 

Cronograma está sendo cumprido rigorosamente, diz presidente da TLSA

As obras da Transnordestina se arrastam no interior do Nordeste brasileiro há quase 20 anos. Atualmente, o projeto tem 1.206 quilômetros (km) de extensão, atravessando 53 municípios em três estados (Piauí, Ceará e Pernambuco), ligando Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE).

A fase 1 do empreendimento já ultrapassou 70% de execução. São 608 km somente em território cearense, com previsão de entrega em setembro de 2027, prazo que está sendo seguido à risca, como pondera o presidente da TLSA.

“Tudo aquilo que programamos de fazer viemos cumprindo rigorosamente. Temos obra nos lotes 4, 5, 6, 7 e 11. Acabamos de contratar o lote 8, que em mais 30 dias a gente inicia a obra. Seis lotes são praticamente 280 km de obras. Agora no segundo semestre, vamos contratar os lotes 9 e 10 para podermos concluir a fase de contratação da chamada fase 1. Já estamos com mais de 3,5 mil funcionários diretos na obra, e esperamos que no pico tenhamos entre 7 mil e 8 mil empregos diretos”, elenca Tufi.

Segundo Tufi, embora os recursos a serem liberados (R$ 600 milhões do FDNE e R$ 816,6 milhões do extinto Finor) representem um valor expressivo, ainda são considerados modestos diante da escala de contratações e do ritmo das obras conduzidas pela TLSA.

 

Compramos agora 32 mil toneladas de trilho da China. Só isso é mais de R$ 250 milhões. Esse trilho deve está chegando nos próximos meses aqui pelo Pecém. Temos volumes de obra e financeiro muito grandes. Para gastar esse dinheiro, primeiro faz o contrato, mobiliza, realiza 30 dias de obra, mede esses 30 dias e depois que paga. Se parasse (a obra) hoje, esses R$ 1,4 bilhão já não existiria”.
Tufi Daher Filho

Presidente da TLSA

 

A contratação mais recente da TLSA foi do lote 8, interligando Itapiúna a Baturité. O trajeto de 46 km terá custo de obra de R$ 1 bilhão, de acordo com o Governo do Ceará.

“A média de 1 km greenfield gira em torno de R$ 25 milhões. O nosso é muito mais barato do que isso. Montamos uma mega estrutura lá em Salgueiro (PE). A gente produz o próprio dormente e a brita, solda o próprio trilho. Temos todos os equipamentos de via permanente, vagões e locomotivas. Evidentemente isso faz com que sejamos muito competitivos. Se fizer uma conta de 50 km vezes R$ 20 milhões, vai dar R$ 1 bilhão. Não que seja o nosso valor, mas é muito próximo disso”, destaca.

De onde vêm os recursos para a Transnordestina?

Conforme o próprio presidente da TLSA, as obras da nova ferrovia terão custo total de R$ 15 bilhões, com trabalhos concentrados na chamada fase 1, entre São Miguel do Fidalgo (PI) e o Porto do Pecém (CE).

Esse montante será dividido em investimentos privados, captados pela TLSA junto aos investidores, e outra parte virá dos cofres públicos. Do total do orçamento da obra, mais de R$ 7,1 bilhões já foram aplicados.

 

Na parte dos recursos públicos, estão previstos atualmente mais de R$ 4,4 bilhões para serem aportados, dentre valores a serem liberados via FDNE e aportes do antigo Finor.

 

Em resposta aos questionamentos da reportagem, o BNB informa que a gestão do FDNE é feita pela Sudene. O banco acrescenta que, em março deste ano, realizou o leilão para “recompra das cotas escriturais do Finor e encaminhou os recursos arrecadados, decorrentes do desconto sobre o patrimônio líquido apurado sobre as cotas, ao FDNE”.

Cabe à Sudene administrar R$ 3,6 bilhões em recursos oriundos do FDNE, que pertence ao BNB, mas só R$ 400 milhões foram efetivamente liberados, ainda no fim do ano passado. Segundo a superintendência, o cronograma do financiamento “está sendo seguido”, e os R$ 600 milhões previstos para serem disponibilizados em breve à TLSA estão em processo de análise.

“A segunda parcela deste ano tem o valor de R$ 600 milhões, completando o R$ 1 bilhão previsto para 2025. O BNB apresentou documentação, solicitando a liberação da parcela. O processo está sendo analisado pela área técnica da Sudene para, após emissão de parecer conclusivo, ser deliberado pela Diretoria Colegiada. A expectativa é que seja decidido até 15 de julho”, confirma o órgão.

Sobre o montante do Finor, a Sudene diz ser R$ 816,6 milhões os valores arrecadados pelo BNB. Essa quantia deve ser destinada para companhias ferroviárias das áreas de abrangência do fundo para que elas financiem projetos que já tenham recebido investimentos do FDNE. Atualmente, a ferrovia Transnordestina é a única que se enquadra nesses requisitos.

A superintendência afirma que esses recursos precisam passar pela sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nessa sexta-feira (4), o presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), sancionou a lei que libera a verba. Ainda não há um prazo definido para quando a Sudene irá disponibilizar os recursos para a TLSA.

Os recursos que chegarem a fundo do BNB, administrado pela Sudene por meio do Finor, serão repassados à concessionária da ferrovia por meio de um aporte extra, convertido em debêntures da TLSA pelo FDNE. Ou seja, esses valores não têm relação com os R$ 3,6 bilhões já financiados.

CSN mira no transporte de cargas no Nordeste

Tufi é presidente tanto da FTL e TLSA, empresas subordinadas à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Por isso, projeta que a conclusão da Transnordestina e a modernização da malha operacional da FTL, caso seja aprovado pelo Tribunal de Contas da União, vá promover a integração entre os negócios.

“A CSN tem seus próprios negócios: ramo de logística, de cimento, de siderurgia, geração de energia. Tem muita coisa que a gente ainda vai integrar com o grupo CSN no Nordeste”, lista.

Nos contratos firmados pela TLSA para o transporte de cargas pela Transnordestina, Tufi enumera “cimento, calcário, combustíveis, fertilizantes e contêineres”, mas comenta também sobre matéria-prima para a agropecuária no interior do Nordeste e outros produtos.

“Acho que essas cargas acabam enchendo praticamente a capacidade da Transnordestina dos 30 milhões de toneladas que ela tem nessa primeira fase. Pelas nossas perspectivas, a gente está muito otimista”, finaliza o presidente da TLSA.

Fonte: Diário do Nordseste

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