
Padre Jezu recebido pelo Papa João Paulo II no ano de 1985 a quem entregou abaixo-assinado pedindo a reabilitação de Padre Cícero. (Foto: Reprodução)
O Site Miséria mergulha no túnel do tempo e lembra exatos 80 anos da primeira cerimônia de ordenação de um sacerdote na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores. Foi no dia 27 de maio de 1945 ordenando o Padre José Jezu Flor com apenas 24 anos de idade. Ele nasceu em Juazeiro no dia 12 de maio de 1921 e morreu já com o título de cônego Jezu Flor no dia 30 dezembro de 1987, aos 66 anos de idade. Era filho do comerciante Antônio Temóteo do Nascimento Flor e Maria das Dores e teve duas irmãs.
Com poucos dias de nascido, Jezu adoeceu gravemente e foi levado às pressas pelo genitor à casa do Padre Cícero (seu padrinho de Batismo). O sacerdote pôs a mão sobre a cabeça do recém-nascido e disse: “Este menino não vai morrer. Será padre no futuro e irá me defender no fim dos tempos”. Ao completar 12 anos, Dona Maria Flor lembrou ao marido o que dissera o Padre Cícero sobre o destino do adolescente Jezu. A princípio, retrucou já que pretendia ver o filho o sucedendo na atividade comercial.
Sabendo da irredutibilidade do velho Flor, Padre Cícero mandou chamá-lo e disse: “Não desvie o destino do jovem, pois, se ele não se ordenar padre, o que acontecer no futuro de Juazeiro, você, Antônio, será o único responsável”. Não demorou a ser matriculado no Seminário São José em Crato. Após ser ordenado no Juazeiro, Padre Jezu percorreu o Brasil passando pelo Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Ele cursou jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (RS); Direito na Universidade Estadual de Londrina (PR); Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (PR); Filosofia pela Organização Mogiana de Educação e Cultura de Mogi das Cruzes (SP) e Estudos Sociais na Universidade Estadual de Maringá (PR). Padre Jezu possuía um acervo com cerca de 10 mil livros os quais doou. Uma parte ao Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória de Maringá, onde foi professor.
Outra para a Biblioteca do Seminário Paulo VI de Londrina e o restante à Biblioteca Central da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Certa vez, o primeiro bispo e primeiro arcebispo de Maringá, Dom Jaime Luiz Coelho, definiu o Padre Jezu Flor como um orador muito estimado e o mais culto sacerdote que conheceu na Arquidiocese de Maringá.
No dia 25 de março de 1985 ele proferiu palestra no auditório da Sociedade Padre Cícero sobre a vida do “Padim” o qual conheceu já que tinha 13 anos quando o sacerdote faleceu. O evento lotou o auditório e ele aproveitou para informar sobre a viagem que faria ao Vaticano levando consigo documentos em defesa do Padre Cícero e abaixo-assinado pedindo sua reabilitação a fim de entregar ao Papa João Paulo II. Padre Jezu já vinha à frente de uma campanha de âmbito nacional por esta causa.
Ele esteve no Vaticano no dia 24 de junho de 1985 ao lado do Bispo Diocesano de Maringá (PR) numa audiência pública. Perante o Papa, Jezu disse: “Sou um padre paralítico e estou aqui representando 200 mil brasileiros que pedem a Vossa Santidade, a reabilitação do Padre Cícero”. No mesmo instante, o Papa João Paulo II mandou um cardeal receber os documentos e dar entrada no Santo Ofício para serem examinados. Após esta audiência, Padre Jezu adoeceu e foi internado num hospital da Alemanha.
Em março de 1987, ele retornou ao Juazeiro e aqui morreu tendo o corpo sido sepultado no Cemitério do Socorro. A obstinação, o orgulho de ser juazeirense, o amor ao “Padim” e o pioneirismo de Jezu nesse apelo perante o Vaticano, não valeram homenagens mais amplas no Juazeiro. Apenas no ano de 1992, a avenida asfaltada que leva ao monumento em homenagem ao Padre Cícero na Colina do Horto recebeu o seu nome e não mais que isso.
Fonte: Site Miséria