
Foto: Helene Santos
Durante sua participação no programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman alertou para o risco de se alimentar expectativas exageradas sobre os resultados da aproximação estratégica entre Brasil e China caso o país não priorize investimentos estruturais em educação pública.
Segundo Altman, as recentes iniciativas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo as visitas oficiais a Moscou e Pequim, são “passos importantes para fortalecer o sul global e o Brics”. No entanto, ele ponderou que “esses fóruns internacionais e essas bilaterais […] têm um problema histórico: são fóruns nos quais se estabelecem compromissos e promessas, mas a implementação depende de vontade política real”.
Ao comentar a proposta de Lula para o envio em massa de estudantes brasileiros às universidades chinesas, Altman avaliou que a medida pode contribuir significativamente para o desenvolvimento científico e tecnológico, mas é insuficiente diante da gravidade da situação educacional brasileira. “O Brasil é um país muito atrasado, em termos médios. […] A inovação e a tecnologia no Brasil estão muito para trás”, afirmou.
Ele destacou que a China só conseguiu superar seu próprio atraso porque “enviou seus alunos para os Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, que são as melhores universidades do mundo”. Segundo Altman, o mesmo caminho pode ser adotado pelo Brasil, mas isso exige políticas complementares. “Mesmo que esse programa funcione, isso não pode inibir a outra parte da equação, que é o Brasil precisar de um gigantesco crescimento no investimento nas universidades públicas.”
O jornalista também criticou o modelo atual de ensino superior no Brasil, baseado na expansão do setor privado a partir de políticas como Prouni e Fies. “O ensino privado, com raras exceções, não gera pesquisa. […] São bocas de porco que permitem a pessoa ter um diploma universitário, mas não são centros de alto nível de investigação”, disse. Para ele, o ensino privado “domina a área educacional superior no Brasil” e compromete a capacidade do país de produzir conhecimento.
Altman enfatizou que o desafio se estende à educação básica. “O Brasil tem uma base educacional fragilíssima no ensino fundamental e no ensino médio. […] Quase metade do país não tem aquelas capacidades que devem ser geradas no ensino fundamental.” Ele lembrou ainda que “24% dos brasileiros são analfabetos funcionais” e criticou a ideia de que é possível promover desenvolvimento nacional a partir de soluções pontuais.
O jornalista também defendeu uma revisão profunda das prioridades fiscais do país: “Toda vez que o governo pagar juros pelos títulos da dívida pública, 10% desses juros deveriam ir para um fundo educacional. Aí o Brasil teria por ano mais R$ 100 bilhões para investir em educação”.
Ao final da entrevista, Altman concluiu que “para você ter uma educação que seja um motor de desenvolvimento dos países periféricos, você precisa de uma mudança revolucionária. Não tem um caso que isso tenha acontecido enquanto a burguesia está no poder”.
Fonte: portal Brasil 247