23 de abril de 2025
Papa Francisco pediu túmulo simples e sem adornos em testamento

Devotos comparecem a um Rosário em homenagem ao Papa Francisco após sua morte na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 21 de abril de 2025 | © Alberto PIZZOLI / AFP

Antes de morrer, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, indicou em testamento como gostaria de ser sepultado.

Conforme Vaticano, o pontífice pediu para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, em um “túmulo simples, no chão e sem decoração especial”.

“Sentindo que o fim da minha vida terrena se aproxima e com uma viva esperança na vida eterna, desejo expressar minhas vontades testamentárias unicamente quanto ao local do meu sepultamento”, afirma o testamento do jesuíta argentino, datado de 29 de junho de 2022.

Francisco morreu aos 88 anos nesta segunda-feira, 21, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, que o deixou em coma e com insuficiência cardiocirculatória irreversível, de acordo com sua certidão de óbito.

Ele havia passado 38 dias hospitalizado por uma grave pneumonia e recebeu alta no dia 23 de março recente. Nesse domingo, 20, o pontífice chegou a participar da celebração da Páscoa, mesmo debilitado.

No testamento que deixou escrito, Francisco mostrou o desejo de ser enterrado no santuário no qual tinha uma forte ligação: “Desejo que a minha última viagem terrena se conclua precisamente neste antiquíssimo santuário Mariano, onde me dirigia para rezar no início e fim de cada Viagem Apostólica, para entregar confiadamente as minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe pelo dócil e materno cuidado”.

Em outro trecho, o jesuíta faz jus a humildade pela qual ficou mundialmente conhecido, escrevendo: “O túmulo deve ser no chão; simples, sem decoração especial e com uma única inscrição: Franciscus”

Leia testamento na íntegra:

Miserando atque Eligendo

Em Nome da Santíssima Trindade. Amém.

Sentindo que se aproxima o ocaso da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar a minha vontade testamentária somente no que diz respeito ao local da minha sepultura.

Sempre confiei a minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem, esperando o dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior.

Desejo que a minha última viagem terrena se conclua precisamente neste antiquíssimo santuário Mariano, onde me dirigia para rezar no início e fim de cada Viagem Apostólica, para entregar confiadamente as minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe pelo dócil e materno cuidado.

Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho do corredor lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza desta mesma Basílica Papal, como indicado no anexo.

O túmulo deve ser no chão; simples, sem decoração especial e com uma única inscrição: Franciscus.

As despesas para a preparação da minha sepultura serão cobertas pela soma do benfeitor que providenciei, a ser transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e para a qual dei instruções apropriadas ao Arcebispo Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Cabido da Basílica.

Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e que continuarão a rezar por mim. O sofrimento que esteve presente na última parte de minha vida eu o ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.

De que o papa Francisco morreu? Veja o que diz sua certidão de óbito

Papa Francisco morreu de um derrame que o deixou em coma e com insuficiência cardiocirculatória irreversível, de acordo com sua certidão de óbito divulgada pelo Vaticano.

“A morte foi confirmada pela gravação da eletrocardioterapia”, diz o documento assinado pelo diretor do Departamento de Saúde e Higiene do Vaticano, professor Andrea Arcangeli.

AVC ou derrame

O Ministério da Saúde conceitua um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou um derrame cerebral como uma doença que acontece quando há um entupimento ou o rompimento dos vasos que levam sangue ao cérebro, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea adequada.

 

Morte do papa Francisco: problemas de saúde no início do ano

Papa foi internado no hospital Gemelli, na Roma. A entrada na unidade de saúde ocorreu em 14 de fevereiro por conta de uma bronquite.

Quatro dias depois, no entanto, o quadro se desenvolveu para uma pneumonia bilateral — uma infecção do tecido pulmonar —, conforme noticiada pela Santa Sé à época.

O segundo fim de semana de internação de Francisco foi marcado pela continuidade de um clínico “crítico”, de acordo com boletins médicos emitidos pelo Vaticano.

No dia 22 de fevereiro, ele teve uma crise respiratória asmática de longa duração, sendo necessária a aplicação de um alto fluxo de oxigenação.

Exames de sangue apontaram, ainda, queda no número de plaquetas, associada a uma anemia. Motivo pelo qual o papa precisou de transfusões de sangue.

Já no domingo, 23, o líder do catolicismo não apresentou crise respiratória, enquanto a plaquetopenia permaneceu estável. Contudo, novos exames sanguíneos deram conta de uma insuficiência renal leve.

Apesar disso, ele pontífice participou de sua última missa dominical, no leito em que está acomodado e na presença dos cuidadores que o acompanhavam na hospitalização.

Saúde do papa Francisco era debilitada

Nos últimos quatro anos, o líder da Igreja Católica Apostólica Roma e chefe de Estado do Vaticano foi internado quatro vezes.

Em março de 2023, papa Francisco já havia enfrentado uma pneumonia. Doença que lhe rendeu uma hospitalização de urgência.

Debilitado por uma série de problemas, incluindo operações de cólon e do abdômen, além de dificuldades para caminhar, a saúde do pontífice se agravou devido a acidentes domésticos e problemas nas articulações dos joelhos e quadris, o que acabou tornando necessário o uso de cadeira de rodas para locomoção.

No último dia dia 1º de fevereiro, ele tropeçou, após sua bengala quebrar, durante uma audiência no Vaticano. Apesar disso, não se machucou. O incidente foi o terceiro nos últimos dois meses.

No início de janeiro, Francisco caiu e machucou o braço direito. Em dezembro, ele bateu o queixo na mesa de cabeceira, causando um hematoma.

Mesmo com problemas de saúde, em setembro, o papa visitou quatro países da Ásia e da Oceania. Com duração de 12 dias de viagem, foi maior roteiro que Francisco fez enquanto pontífice, passando pela Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Singapura.

A saúde do pontífice virou alvo especulações e rumores sobre uma possível renúncia. No entanto, quando questionado sobre a possibilidade, Francisco negava intenções de deixar o cargo.

Morte de papa Francisco: Igreja Católica perde primeiro papa não europeu

O nome de registro e de batismo de papa Francisco é Jorge Mario Bergoglio. Ele nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, e foi eleito o 266º papa da Igreja Católica Apostólica Romana em 13 de março de 2013, após renúncia do antecessor, o conservador Bento XVI.

Meses depois, em julho, esteve no Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada no Rio de Janeiro. Este foi o primeiro destino internacional dele enquanto papa e a única vez que visitou o País.

Ao assumir a posição, Francisco se tornou o primeiro pontífice latino-americano da história do catolicismo, alcunha que também lhe rendeu ser primeiro papa nascido fora da Europa.

O pontífice escolheu esse nome em alusão a São Francisco de Assis, santo reconhecido por abdicar de uma vida de posses para se dedicar ao serviço aos pobres e necessitados. O papa, por sua vez, tem uma trajetória marcada pela rejeição à pompas e privilégios concebidos pelo cargo.

Formou-se em química, mas trocou a profissão pelo sacerdócio, sendo ordenado padre jesuíta em 1969; nomeado bispo auxiliar da capital argentina em 1992; e arcebispo em 1998.

Já em 2001, ele compunha o grupo de 44 novos cardeais criados pelo papa João Paulo II.

Morte de papa Francisco: Ascensão ao Trono de São Pedro

O legado de Francisco é desenhado por uma abordagem pastoral comprometida com os pobres e marginalizados. Frequentemente, ele enfatizava a importância de uma igreja próxima das pessoas e envolvida em questões sociais.

Priorizando a humildade como virtude, a história dele a frente da Igreja Católica é contornada por tons de subversão ao tradicionalismo acometido pela doutrina. Francisco, ao longo de seu papado, não fugiu do debate de pautas polêmicas homossexualidade e abusos de menores dentro do clero.

Em 12 anos no comando da Santa Sé, papa Francisco promoveu reformas importantes na Igreja Católica. Uma das mais recentes foi quando decidiu ser enterrado em um simples caixão de madeira, com o objetivo de simplificar e flexibilizar os ritos funerários papais.

Em novo rito formal publicado em novembro de 2024, o Vaticano anunciou que pontífice renunciara a tradição de séculos na qual o papa é enterrado em três caixões interligados. Além disso, ele expôs desejo de ser velado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma.

A maioria dos pontífices foram sepultados sob a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Dessa forma, ele seria o primeiro Papa a ser sepultado em outro local desde Leão XIII, em 1903.

Morte de papa Francisco: Polêmicas

Três meses após assumir o maior posto da carreira religiosa, o argentino refletiu: “Se um gay aceita o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo? Eles não devem ser marginalizados”.

A declaração ocorreu quando foram divulgadas informações à imprensa italiana de que a Santa Sé supostamente continha uma rede de clérigos homossexuais. Na época, o papa reconheceu que havia muito o que falar sobre o assunto.

Em 2016, Francisco disse que a Igreja deve “pedir perdão” aos homossexuais.

“Não só devem pedir perdão a esta pessoa que é homossexual, mas também aos pobres, as mulheres exploradas, às crianças exploradas pela sua mão de obra, tem que pedir perdão por haver abençoado muitas armas”, acrescentou na época.

Entre outros temas polêmicos, ele afirmou, em 2014, que os comunistas roubaram a bandeira dos pobres em entrevista ao jornal italiano II Menssaggero.

“Os comunistas roubaram nossa bandeira. A bandeira dos pobres é cristã (…). A pobreza é o centro do Evangelho… Os comunistas dizem que toda essa pobreza é algo comunista. Sim, claro, por que não?… Mas vinte séculos depois (a partir da redação do Evangelho). Quando eles falam, podemos dizer-lhes: ‘Mas eles são cristãos!’”.

Em 2017, Francisco sugeriu que era melhor ser ateu do que um mau cristão. “Quantas vezes ouvimos, todos nós, no bairro e em outros lugares, ‘mas, para ser católico assim, é melhor ser ateu’. Esse é o escândalo, te destrói isso te derruba. E isso acontece todos os dias.”

Na pandemia, ele relevou surpresa com a recusa de tantas pessoas em se vacinar contra covid-19, incluindo cardeais.

“É um pouco estranho porque a humanidade tem uma história de amizade com as vacinas”, afirmou para um jornalista em 2021 a bordo do avião que voltava da Eslováquia.

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