
Sidônio Palmeira, ministro da Secom (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)
Em entrevista à newsletter Jogo Político, publicada por O Globo, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira, avaliou os motivos que levaram à queda de popularidade do presidente Lula desde o fim de 2024. Figura central no núcleo duro do Planalto, com presença quase diária na agenda presidencial, Sidônio afirmou que o governo falhou ao não mostrar com clareza o estado de devastação em que encontrou o país após o bolsonarismo.
“O governo assumiu, mas faltou comunicar qual herança encontrou. Estivemos diante de um país destruído, com muitos programas encerrados. Havíamos retornado para o Mapa da Fome”, declarou o ministro, ao comentar a ausência de uma narrativa que contextualizasse os desafios herdados.
O impacto da extrema direita e o poder das redes
Sidônio vê o avanço da extrema direita como um fenômeno global e diretamente relacionado à lógica de engajamento nas redes sociais. Ele menciona países como Argentina, Hungria, Polônia, Itália e os próprios Estados Unidos — sob o segundo mandato do presidente Donald Trump — como exemplos de um ambiente tóxico impulsionado por ódio e desinformação.
“Fake news está engajando muito nas redes e dando dinheiro. […] Eles, da direita, são mais atuantes nas redes, e eu acredito que temos que fazer comunicação trabalhando com a verdade apenas. A verdade pode conquistar pessoas, basta ter criatividade.”
Expectativas, entregas e percepção popular
Ao ser questionado sobre o desalinhamento entre o que o governo realiza e o que a população percebe, Sidônio atribuiu isso a um tripé que, segundo ele, precisa estar em sintonia: expectativa, gestão e percepção.
“A expectativa com Lula é altíssima, especialmente por causa do segundo mandato dele. A gestão está entregando. […] Foram tiradas 24 milhões de pessoas da Fome, o Mais Médicos dobrou, o Pé de Meia atinge milhões de jovens. Falta a percepção dessas ações chegar à ponta.”
Ele também ressaltou o impacto de fatores agudos nos últimos meses, como a ausência temporária do presidente por questões de saúde, o aumento do dólar, a alta no preço dos alimentos e a fake news sobre o Pix. “A conjunção desses fatores prejudicou”, admitiu.
Responsabilidade coletiva e desafios na comunicação
Ao comentar a frase dita a jornalistas — de que “todos os ministros têm responsabilidade na queda de popularidade do presidente” —, Sidônio procurou colocar o foco na necessidade de sincronia entre as áreas da gestão. Disse que comunicação não é um fator isolado e que depende também da política.
Sobre as críticas à estratégia de comunicação adotada desde janeiro, que combina inserções em rádios locais, propaganda em mídias tradicionais e aumento da presença institucional, o ministro foi direto: “Quando você chega a um lugar, você monta uma equipe. Entrei e fiz as mudanças que achei melhor.”
Religião, segurança pública e trabalhadores de aplicativos
Sidônio também abordou temas considerados sensíveis, como segurança pública, público evangélico e a comunicação com trabalhadores autônomos. Para ele, segurança pública é, em essência, responsabilidade dos estados, embora o governo federal tenha feito avanços com a PEC da Segurança e o programa Celular Seguro. Quanto aos evangélicos, defende que a comunicação seja universal: “Acho que o esforço tem que ser o de comunicar os serviços de maneira bem feita tanto para evangélicos quanto para católicos.”
Já sobre os microempreendedores e trabalhadores de aplicativos, ele destacou iniciativas como o programa Acredito, o Desenrola e o crédito consignado para autônomos.
‘O Brasil é dos brasileiros’ e o contraponto a Trump
Criador do slogan “O Brasil é dos brasileiros”, Sidônio defendeu a postura do governo frente à política protecionista de Donald Trump e à possibilidade de taxação de exportações. “A compreensão do governo é a de que é preciso ter reciprocidade caso haja taxação. […] Gostaríamos de ter uma saída negociada. Ninguém ganha com isso.”
Ele também comentou a rejeição da proposta de anistia aos golpistas do 8 de Janeiro. “Essa é uma discussão do Congresso e do STF, não acho que seja uma questão para o governo, não.”
E Lula 2026?
Indagado sobre uma eventual candidatura de Lula à reeleição, o ministro se esquivou: “É uma questão muito íntima dele. Estou aqui para falar do governo, pensando na gestão apenas.” Também evitou especular sobre nomes da direita para a disputa. “A política é muito rápida e dinâmica. Quem estiver fazendo análise agora, vai errar. Eu não tenho bola de cristal.”
Usando uma metáfora futebolística, Sidônio comparou a antecipação da corrida eleitoral a uma aposta precipitada: “Num jogo do seu Vasco, por exemplo, dá para dizer que é o Vegetti que vai marcar na próxima partida? Se bem que lá não tem outro, né?”
Bastidores da cassação de Glauber Braga
A matéria também abordou os bastidores do processo de cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), adversário declarado de Arthur Lira, a quem chamou de “bandido” por sua atuação no orçamento secreto. Reportagens da Folha de S. Paulo e da coluna de Lauro Jardim, em O Globo, apontam articulações discretas de Lira para pressionar deputados a votarem pela cassação.Mesmo parlamentares bolsonaristas e do Centrão consideram a pena exagerada, embora não se manifestem publicamente. Uma exceção foi o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, ligado a Silas Malafaia, que afirmou ao Metrópoles: “Pessoalmente, acredito que cassação deveria ser para casos graves como corrupção. Acredito que uma punição de seis meses de suspensão, no caso de Glauber Braga, estaria de bom tamanho.”