
Luisa González pede recontagem dos votos no Equador (Foto: Reuters)
A candidata à presidência do Equador pelo movimento Revolução Cidadã, Luisa González, anunciou publicamente que não reconhece os resultados do segundo turno das eleições presidenciais, divulgados neste domingo pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). informa a Telesur.
“O Equador vive um momento sombrio da sua democracia”, afirmou González diante de apoiadores. “Eu me recuso a acreditar que existam pessoas que preferem mentiras à verdade. Vamos pedir recontagem e a reabertura das urnas”, declarou com firmeza.
Daniel Noboa, que ocupa atualmente o cargo de presidente, foi declarado vencedor pelo CNE, com 55% dos votos. No entanto, González acusa o mandatário de ter manipulado o processo eleitoral desde o início. “Em nome dos jovens, homens, mulheres e crianças que represento, não reconhecemos os resultados apresentados”, enfatizou.
A candidata afirmou que houve fraude no processo de registro de eleitores, o que, segundo ela, teria sido feito para favorecer o atual presidente. “Quero ser muito clara e enfática: a Revolução Cidadã sempre reconheceu a derrota quando as pesquisas mostraram isso. Hoje, não reconhecemos os resultados”, disse ela.
Segundo González, Noboa cometeu “abuso de poder” ao não se licenciar do cargo para fazer campanha, além de utilizar recursos estatais em benefício próprio. “Ele declarou estado de emergência de maneira arbitrária, com o único objetivo de cometer uma fraude colossal. É uma ditadura. Esta é a maior fraude eleitoral que nós, equatorianos, estamos testemunhando”, denunciou.
A candidata reiterou que solicitará formalmente uma recontagem de votos. “Defenderemos nosso direito à democracia. O Equador não pode continuar sendo governado por uma pessoa incapaz de conduzi-lo rumo à paz e ao desenvolvimento, alguém que prioriza apenas seus negócios e o bem-estar de sua família.”
Durante o pronunciamento, González também fez um alerta à população: “Hoje, mais do que nunca, temos que estar vigilantes sobre o que faz a pessoa que se diz Presidente da República. Denuncio publicamente que ele está cometendo fraude. Continuamos na luta.”
A denúncia de González ecoa outras reclamações feitas por membros de seu movimento. No dia anterior, o Parlamento equatoriano e o bloco legislativo da Revolução Cidadã acusaram o presidente de violar direitos fundamentais ao decretar estado de emergência em províncias onde teve menor apoio eleitoral, sem que houvesse motivo legal para tal medida. Além disso, criticaram o fechamento de fronteiras às vésperas da votação, o que impediu a chegada de observadores internacionais.
Outro ponto levantado pela candidata é o descumprimento constitucional por parte de Noboa ao não nomear a vice-presidente eleita, Verónica Abad, tampouco solicitar licença à Assembleia Nacional para realizar sua campanha à reeleição.
A grave denúncia de irregularidades ganhou mais força com a participação do ex-candidato presidencial Andrés Arauz, também da Revolução Cidadã. Após o encerramento da votação, Arauz publicou imagens de atas eleitorais sem as assinaturas obrigatórias do presidente e do secretário das Juntas Receptoras de Voto (JRV), como estabelece o artigo 127 do Código da Democracia.
“Essas atas não deveriam ter sido consideradas válidas. Todas favorecem o presidente Daniel Noboa. Trata-se de um golpe contra a transparência eleitoral e contra o povo equatoriano”, denunciou Arauz.
A Revolução Cidadã, movimento político liderado pelo ex-presidente Rafael Correa, já venceu 11 pleitos eleitorais no país — inclusive em momentos nos quais o governo controlava os mecanismos eleitorais. Agora, seus integrantes afirmam que os princípios democráticos estão sendo violados de forma sistemática.
Enquanto isso, o CNE segue sem se pronunciar sobre as denúncias, inclusive sobre as atas sem assinatura e os indícios de manipulação no registro de eleitores.
Luisa González, que obteve forte respaldo popular nas urnas do primeiro turno, reforçou sua disposição de seguir em frente com a mobilização democrática: “Diante do meu povo, de pé como sempre, seguimos lutando. Não desistiremos do Equador, porque o povo equatoriano merece respeito e verdade.”
A crise política no país se agrava e coloca o sistema democrático equatoriano sob os olhos atentos da comunidade internacional. Observadores regionais e organizações de direitos humanos já expressaram preocupação com os relatos de irregularidades e o cerceamento à fiscalização externa. A oposição promete judicializar o processo e levar as denúncias aos foros internacionais, enquanto o governo, até o momento, opta pelo silêncio.