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Coluna Nordestinados a Ler
Por Luciana Bessa
Como boa aniversariante do mês de abril, comecei a imaginar um presente à minha altura de 1,50 cm. À princípio, pensei em uma roupa, uma bolsa, um sapato. Mas como diria Alberto Caiero: “Porque eu sou do tamanho do que vejo. E não do tamanho da minha altura”, então, resolvi me presentear participando da XV Bienal do Livro do Ceará.
O tema escolhido para o evento “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”, com a curadoria de quatro potentes vozes do cenário literário nacional, Amara Moira, nina rizzi, Sarah Diva Ipiranga, Trudruá Dorrico, sob a coordenação geral de Maura Isidório, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), além de poético, me fez recordar quantas de nós já perderam a vida por não se adequar às estruturas sociais, além de pensar nas conquistas que tivemos e no muito que ainda falta para alçar outros voos.
Lembrar que na Idade Média, Europa, muitas mulheres foram queimadas vivas pelo simples fato de terem habilidades com as plantas medicinais, ou por atuarem como parteiras, é devastador. Pensar que essa mesma narrativa se repetiu no Brasil nos séculos XVII e XVIII, no Centro de São Paulo, é alarmante. Pensar que no século XXI, as fogueiras, por meio do feminicídio e os diferentes tipos de violências, continuam acessas, é estarrecedor.
Como diria o cantor de Os Lusíadas (1572), Luís Vaz de Camões: “Mudam-se os tempos. Mudam-se as vontades”. Das fogueiras, as que vieram depois, se apropriaram da língua e passaram a usá-la para denunciar as atrocidades sociais, políticas e educacionais que tiveram que enfrentar. Com o tempo, a escrita de si e a escrita do outro entrelaçaram-se.
Cheguei a Fortaleza na sexta-feira, e no período da tarde, fui em busca do meu tão aguardado presente. Primeira parada: estande da “Quadra Literária” para o lançamento da obra Memórias de Lince (2024), da escritora e amiga Janir Ribeiro. Em seguida, o pesquisador Charles Ribeiro lançou Rodolfo Teófilo romancista (2022), fruto de sua pesquisa sobre a formação intelectual e literária do escritor cearense. Logo depois, a escritora e pesquisadora Carla Castro, lançou o livro: Canções do lar por Emília Freitas (2025). Continuando os lançamentos, Luiza Pontes, dramaturga e colega da Revista Sarau, presentou o público com o livro infantil Uma galinha chamada Tereza (2024).
Confira a matéria na página 4 do Jornal Leia Sempre Brasil, Edº 298
Depois de tantos lançamentos, fui ao estande “Casa de Juvenal Galeno” e, como vida é mesmo a arte do encontro, lá estavam duas mulheres admiráveis: Rosa Virgínia e Fátima Lemos, beletrista e presidente da Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, respectivamente.
Para fechar esse dia, abertura oficial da XV Bienal do Livro do Ceará com a presença de figuras conhecidas da política cearense: Elmano de Freitas (Governador), Evandro Leitão (Prefeito), Romeu Aldigueri (Presidente da Assembleia Legislativa do Ceará), Luísa Cela (Secretaria da Cultura do Estado do Ceará), entre outros.
No discurso de cada um/uma, a mesma narrativa: a importância da leitura e a democratização do conhecimento e da literatura. Por isso, foram distribuídos 10 mil vale-livros para os professores da Rede Estadual utilizarem na aquisição de títulos e/ou material didático que desejarem. A noite finalizou com o show “Também guardamos pedras aqui”, da poeta e slammer Luiza Romão, ganhadora do Prêmio Jabuti (2024) na categoria poesia.
Esse ano a XV Bienal, se estende de 4 a 13 de abril, com 120 horas de programação intensa, diversificada e gratuita. A estrutura é grandiosa: são 188 estantes, mais de 100 mil livros, 34 editoras, 25 livrarias, 32 distribuidores, 500 lançamentos de obras, perfazendo um total de 200 toneladas de livros.
Em um país de poucos leitores, é fundamental que eventos como o da XV Bienal possam contribuir para despertar na população o interesse pelo livro. Quem lê, não fica refém do discurso de ódio, não espalha fake news e diz não à Ditadura.
Sábado, 05. Dia de encontrar amigas (Arysa Cabral, Katty Anne, Elaine Meireles, Soraya Sant’Ana, Dalva Alencar) e participar das palestras: 1) “O que podem as palavras narrativas na contemporaneidade” com Socorro Acioli, Andrea Del Fuego e Afonso Cruz. 2) “O fogo e a água: palavras em travessia” com Auritha Tabajara e Luiza Romão, já que Jarid Arraes não pôde participar.
Domingo, 06. Dia de comprar livros, interagir com os escritores premiados e censurados através da palestra: “Negritude e masculinidade: ficção brasileira” com Airton Souza e Jeferson Tenório. Ainda foi possível conhecer, me emocionar, abraçar Maria da Penha, a mulher que transformou sua dor em luta contra a violência contra a mulher.
Segunda, dia 07. Voltei ao Cariri ainda mais impregnada do poder do livro, da leitura, da literatura e das partilhas com outras mulheres que, assim, como eu, tem muito a dizer.