7 de abril de 2025
Bolsas despencam na Ásia com guerra comercial de Trump

Uma tela exibindo o índice de ações Hang Seng é vista no distrito Central, em Hong Kong, China.4o (Foto: REUTERS/Tyrone Siu)

Os principais índices acionários despencaram na Ásia nesta segunda-feira (7), à medida que autoridades da Casa Branca não deram sinais de recuar em seus amplos planos tarifários, e investidores passaram a apostar que o risco crescente de recessão poderia levar a cortes nos juros dos EUA já em maio.

Os mercados futuros se moveram rapidamente para precificar quase cinco cortes de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros americanas ainda este ano, puxando para baixo os rendimentos dos títulos do Tesouro e enfraquecendo o dólar.

O colapso ocorreu após o presidente Donald Trump dizer a repórteres que os investidores teriam que “tomar seu remédio” e que ele não fecharia um acordo com a China até que o déficit comercial dos EUA fosse resolvido. Pequim respondeu dizendo que os mercados haviam “se manifestado” sobre seus planos de retaliação.

“O único verdadeiro disjuntor é o iPhone do presidente Trump, e ele mostra poucos sinais de que a queda do mercado o incomoda o suficiente para reconsiderar uma postura política na qual acredita há décadas”, disse Sean Callow, analista sênior de câmbio da ITC Markets, em Sydney.

Investidores acreditavam que a perda de trilhões de dólares em riqueza e o provável golpe na economia fariam Trump reconsiderar seus planos.

“O tamanho e o impacto disruptivo das políticas comerciais dos EUA, se mantidos, seriam suficientes para levar uma ainda saudável expansão dos EUA e do mundo à recessão”, disse Bruce Kasman, chefe de economia do JPMorgan, que colocou em 60% a chance de recessão.

“Continuamos esperando um primeiro corte de juros pelo Fed em junho”, acrescentou. “No entanto, agora achamos que o Comitê cortará em todas as reuniões até janeiro, levando o topo da faixa-alvo dos fundos federais para 3,0%.”

Os futuros do S&P 500 caíram 3,1% em negociações voláteis, enquanto os do Nasdaq despencaram 4,0%, somando-se aos quase US$ 6 trilhões em perdas nos mercados da semana passada.

A dor também atingiu a Europa: os futuros do EUROSTOXX 50 recuaram 3,0%, os do FTSE caíram 2,7% e os do DAX perderam 3,5%.

O índice Nikkei do Japão afundou 6%, atingindo níveis vistos pela última vez no fim de 2023, enquanto o da Coreia do Sul caiu 5%. O índice mais amplo da MSCI para ações da Ásia-Pacífico fora do Japão caiu 3,6%.

As blue chips da China perderam 4,4%, enquanto os mercados esperavam para ver se Pequim responderia com mais estímulos. O índice principal de Taiwan, que estava fechado na quinta e sexta-feira, despencou quase 10%, o que levou autoridades a restringirem operações de venda a descoberto.

A perspectiva mais sombria para o crescimento global manteve os preços do petróleo sob forte pressão, após quedas acentuadas na semana passada.

O Brent caiu US$ 1,35, para US$ 64,23 o barril, enquanto o petróleo dos EUA recuou US$ 1,395, para US$ 60,60 o barril.

NADA DE INFLAÇÃO

A fuga para ativos seguros fez os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos caírem 8 pontos-base, para 3,916%, enquanto os futuros dos Fed Funds passaram a precificar um corte adicional de 0,25 ponto percentual pelo Federal Reserve este ano.

Os mercados agora indicam cerca de 56% de chance de que o Fed corte juros já em maio, mesmo com o presidente Jerome Powell afirmando na sexta-feira que o banco central “não tem pressa” em relação às taxas.

Essa mudança mais branda fez o dólar recuar mais 0,4% em relação ao iene, para 146,26, enquanto o euro se manteve firme em US$ 1,0961. O dólar também perdeu 0,6% frente ao franco suíço, enquanto o dólar australiano — mais exposto ao comércio — caiu outros 0,4%.

Investidores também apostam que a ameaça iminente de recessão terá mais peso que a provável alta inflacionária provocada pelas tarifas.

Os dados do índice de preços ao consumidor dos EUA, previstos para esta semana, devem mostrar outro aumento de 0,3% em março, mas analistas acreditam que é apenas uma questão de tempo até que as tarifas elevem significativamente os preços — de alimentos a automóveis.

Os custos crescentes também pressionarão as margens de lucro das empresas, justamente quando a temporada de balanços começa, com alguns dos grandes bancos divulgando resultados na sexta-feira. Cerca de 87% das empresas americanas devem divulgar seus números entre 11 de abril e 9 de maio.

“Esperamos que, nas próximas conferências de resultados trimestrais, menos empresas do que o habitual ofereçam projeções para o segundo trimestre e o ano inteiro de 2025”, disseram analistas do Goldman Sachs em relatório.

“O aumento das tarifas forçará muitas empresas a elevar preços ou aceitar margens de lucro menores”, alertaram. “Esperamos revisões negativas nas estimativas consensuais de margem de lucro nos próximos trimestres.”

Até o ouro foi arrastado pela liquidação, recuando 0,3%, para US$ 3.026 a onça.

A queda deixou analistas se perguntando se investidores estão realizando lucros onde podem para cobrir perdas e chamadas de margem em outros ativos — o que pode desencadear uma venda em efeito cascata.

Fonte: Brasil 247

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