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Por Alexandre Lucas
Pedagogo e integrante do Coletivo Camaradas
É indiscutível que a palavra escrita é essencial para o desenvolvimento cognitivo, a associação de ideias, a ampliação da memória e da argumentação. A palavra, enquanto produção histórica e social, reflete demarcadores societários e, hegemonicamente, reproduz ideologicamente as ideias das elites dominantes.
A escola tem uma função primordial na apropriação e no uso multifacetado da palavra, mas, ao mesmo tempo, pode ser limitante ao se focar apenas no uso da norma culta, desconsiderando a dimensão da linguagem como vetor de tecer o social.
Na escola pública, a palavra deve assumir um lugar contra-hegemônico, ou seja, representar a apropriação da “técnica e das regras” da norma culta associada à prática social dos indivíduos e à contextualização sócio-histórica.
A escola cumpre sua função social com a palavra quando redimensiona e associa o seu uso às diversas disciplinas escolares. Restringi-la apenas à língua portuguesa é um equívoco e uma limitação pedagógica. É possível conectar a palavra aos aspectos matemáticos, sociológicos, filosóficos, estéticos, históricos e científicos, inclusive vinculando-a às novas linguagens e à contemporaneidade da Inteligência Artificial (IA).
Para a classe trabalhadora, a palavra deve ser um instrumento contribuinte para o processo de emancipação humana. Por isso, a escola pública é o principal espaço da luta contra-hegemônica. Isso demonstra o reconhecimento de que a escola é o lugar do conflito e do convencimento. Em outras palavras, a escola é permeada por ideias contrárias, pelo conflito das lutas de classes. Ela é um campo de disputa, onde os interesses de emancipação humana da classe trabalhadora se chocam com os interesses de reprodução e manutenção das ideias da classe dominante. Por outro lado, a escola deve ser o local do convencimento enquanto apropriação do conhecimento que não se baseia no senso comum. Se assim fosse, não haveria necessidade da existência da escola.
Romper com o pensamento prisioneiro de que a palavra é imparcial e neutra é o primeiro passo para compreender a sua dimensão histórica e social.
A escola da classe trabalhadora não pode ser vacilante, omissa ou, muito menos, cair no receituário neoliberal, em que a palavra serve para reforçar a competitividade entre escolas, maquiar realidades de aprendizagem, reforçar a precarização do trabalho e vender o sonho de que a salvação é individual.
Para a classe trabalhadora, a palavra só tem função emancipatória se for um armamento para o pensamento crítico e revolucionário.