A luta dos povos indígenas no Brasil é uma história de resistência e sobrevivência. Desde a chegada dos colonizadores europeus, os povos originários enfrentam ameaças constantes às suas terras, culturas e modos de vida. Atualmente, essa batalha persiste contra invasões ilegais, desmatamento, mineração e violência, tornando a defesa dos direitos indígenas um tema central no debate político e social do país.
Desde a colonização portuguesa, os povos indígenas têm sido alvo de expropriação e violência. Durante séculos, enfrentaram massacres, escravização e tentativas de assimilação forçada. No período imperial e republicano, a política indigenista oscilou entre a tutela do Estado e a negligência, muitas vezes favorecendo a expansão agropecuária em detrimento dos direitos indígenas.
Diversos povos protagonizaram resistências marcantes ao longo da história. Os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, são o segundo maior povo indígena do Brasil atualmente, com cerca de 50 mil habitantes e que lutam há décadas contra a grilagem e o agronegócio, enfrentando uma das mais altas taxas de assassinato de líderes indígenas do Brasil.
Os Yanomami, na Amazônia, resistem à mineração ilegal e ao garimpo, que causam desmatamento e disseminam doenças.
Os Pataxó vivem no extremo sul do Estado da Bahia, em 36 aldeias distribuídas em seis Terras Indígenas — Águas Belas, Aldeia Velha, Barra Velha, Imbiriba, Coroa Vermelha e Mata Medonha — situadas nos municípios de Santa Cruz Cabrália, Porto Seguro, Itamaraju e Prado. Os Pataxó têm retomado territórios ancestrais, enfrentando constante repressão de fazendeiros e do Estado.
A Luta na Ditadura Militar (1964-1985)
Durante a ditadura militar, os povos indígenas sofreram uma violenta política de integração forçada e expropriação de terras. O Estado promoveu grandes projetos de infraestrutura na Amazônia, como a construção da rodovia Transamazônica e a implantação de hidrelétricas, que resultaram no deslocamento forçado de vários povos.
Um dos casos mais emblemáticos foi o massacre dos Waimiri-Atroari, em Roraima, cuja população foi drasticamente reduzida devido a ataques militares e envenenamento de rios.
Os Xavantes habitavam a região entre os rios Araguaia e Tocantins. Eram um povo numeroso e forte. Tinham, como atividade predominante até a segunda metade do século XX, a caça, a pesca e a coleta de frutos e palmeiras. Os Xavante também sofreram despejos e remoções forçadas.
Livro relata violência dos militares
Uma investigação da história de centenas de indígenas mortos durante a ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985, foi transformada em livro pelo jornalista Rubens Valente, que durante um ano entrevistou 80 pessoas, entre índios, sertanistas, missionários e indigenistas para construir o relato.
O livro Os Fuzis e as Flechas – A História de Sangue e Resistência Indígenas na Ditadura traz à tona registros inéditos de erros e omissões que levaram a tragédias sanitárias durante a construção de grandes obras do período militar, como a Rodovia Transamazônica.
A Luta nos Dias Atuais
No século XXI, a luta indígena continua e ganha novas frentes. A contestação ao Marco Temporal — tese jurídica que limita a demarcação de terras indígenas às que estavam ocupadas até a Constituição de 1988 — é uma das principais batalhas atuais. Para os povos indígenas, essa medida ignora o histórico de violência e deslocamento forçado que sofreram antes dessa data.
A exploração do garimpo ilegal tem impactado profundamente as terras indígenas, afetando o meio ambiente, a organização social e a saúde desses povos. A atividade dos garimpeiros altera as regiões, reduzindo significativamente a disponibilidade de caça e pesca, fundamentais para a subsistência dessas comunidades.
Além disso, estão presentes práticas como aliciamento dos indígenas, com ofertas de álcool, dinheiro e barcos, em troca de permissões para garimpar. Essas ações contribuem para a desestruturação social, pois levam a problemas graves como trabalho forçado, exploração sexual de menores e conflitos internos.
A expansão do garimpo ilegal, como observado no território Yanomami, resulta em devastação ambiental e ameaça à sobrevivência de povos ancestrais. Causa poluição dos rios e a destruição das florestas, exacerbando problemas de saúde, como a malária e a desnutrição.
A luta pelo fim do garimpo ilegal é também pelo fim das queimadas na Amazônia e do desmatamento na Amazônia, duas consequências comuns do trabalho dos garimpeiros na região, que impactam diretamente as comunidades indígenas.
O Futuro da Resistência
A luta dos povos indígenas no Brasil é uma luta pela sobrevivência, mas também pela preservação do meio ambiente e dos saberes ancestrais. Em um momento de intensificação da crise climática, a proteção dos territórios indígenas é essencial para a manutenção da biodiversidade e do equilíbrio ecológico.
A história mostra que os povos indígenas sempre resistiram, e continuarão resistindo. Resta à sociedade brasileira decidir se estará ao lado da justiça e dos direitos humanos ou da repetição de um passado de violações. O futuro da luta indígena é também o futuro do Brasil.
Fonte: Site do Greenpeace, CPT e Agência Brasil