COLUNA O VERBO FEMININO | POR ÍRIS TAVARES
Em pouco mais de dez dias da posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos da América (EUA), observa-se na sua performance, enquanto candidato, promessas como a de terminar de construir o muro entre os Estados Unidos e o México – uma determinação que o acompanha desde 2016 –, depois expulsar todos os indivíduos ilegais no país e implementar mais tarifas sobre importações, na sequência vem a ampliação da produção de energia fóssil, entre outros arranjos, como carros voadores, a promoção de criptomoedas e a promessa de construir 10 novas “Cidades da Liberdade”. Nos perguntamos o que mudou nesse tempo, com a volta do republicano?
De todo modo, as ideias expostas na campanha e o discurso de posse de Trump , – segundo a leitura de alguns especialistas em economia política -, acentua-se o desespero ao invés de demonstração de força. Os capitalistas norte-americanos não conseguem disfarçar os sinais da crescente decadência do capitalismo, em seu próprio país – como o desemprego estrutural; brutal concentração de renda e falta de acesso aos símbolos da democracia liberal-burguesa como saúde, moradia, educação e segurança pública.
O capitalismo norte-americano está numa “encruzilhada” que não tem mais como resolver: ao longo das últimas décadas boa parte da economia norte-americana substituiu mão-de-obra local por mão-de-obra barata em outros países ou de emigrantes “ilegais” que trabalham por meio de regimes de trabalho análogo à escravidão; a maior parte dos componentes e peças de suas próprias indústrias são exportados de fora dos EUA, isso significa que se Trump tachar de forma irrestrita as exportações, estará tachando as próprias indústrias norte-americanas. No final das contas, quem está nas mãos de outros países são os próprios EUA. Trump divulga que a economia dos EUA está “devastada”. A questão é, caso Trump feche a economia norte-americana, como o mercado consumidor interno vai absorver a demanda de produtos? Isso não faz sentido, não é?
Refletindo sobre o discurso sem nexo com a realidade econômica norte-americana, na hipótese de que eles estão em plena decadência, pressupõe-se que em poucos meses a realidade vai se impor e os seus eleitores vão perceber que era tudo uma trampa de Trump. Eis a razão do “pacto” com as big techs, cuja missão é “monetizar” a mentira e criar constantes “realidades paralelas”. Vai por a culpa do “desastre econômico” nas minorias sociológicas (negros/as; mulheres; emigrantes; LGBTQIA+, entre outros) e tratará de afastar as pessoas cada vez mais dos debates que realmente importam e, assim, proteger os verdadeiros culpados por suas vidas desgraçadas.
Vale lembrar que enquanto Trump vocifera e faz ameaças a China, a maior fábrica da Tesla é sediada na China e mantida pelos salários baixos e custeados por subsídios do governo chinês. É curioso, não é?
O capitalismo mundial passa por um novo ciclo de concentração de renda, enquanto a humanidade soma mais de 7 bilhões de indivíduos, a concentração de renda é para uma minoria ínfima e os capitalistas mundiais estão usando a estética nazifascista (criando inimigos internos e externos para provocar escândalos no campo da moral e dos costumes e, dessa forma, as pessoas perdem tempo e gastam energia combatendo o que não mexe no sistema). Atentai!