O Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Rio Grande do Norte apresentou um crescimento expressivo de 60% entre 2021 e 2022, passando de R$ 14,73 bilhões para R$ 23,58 bilhões, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), compilados pelo Observatório da Indústria Mais RN. Esse valor representou uma participação de 25,1% no PIB total do estado, que atingiu R$ 93,82 bilhões em 2022 — a maior participação do setor industrial na economia potiguar desde 2009. O PIB é a soma de todas as riquezas produzidas em um local em um determinado período.
O avanço do PIB industrial potiguar foi impulsionado por diferentes setores, com a liderança para a extração de petróleo e gás natural, seguido da fabricação de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis, da construção civil e da produção de alimentos. A retomada de investimentos públicos e privados foi um dos fatores determinantes para esse salto, o qual posiciona o Rio Grande do Norte como um importante polo econômico no Nordeste, especialmente em áreas estratégicas como energia renovável e infraestrutura.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), Roberto Serquiz, destacou que o crescimento da indústria potiguar vem sendo constatado desde 2019, dentro de um conjunto de circunstâncias que favorecem o setor. “A primeira delas foi a reestruturação do Programa de Incentivo Fiscal do Rio Grande do Norte, que não só atualizou a lei, como também a tornou mais competitiva frente aos demais estados do Nordeste”, pontua.
Outro fator relevante foi a recuperação do setor de Petróleo e Gás na região Oeste Potiguar, que voltou a atrair investimentos importantes. Em 2023, o Estado registrou a maior produção de petróleo e gás em quatro anos, em um processo crescente desde 2020. Além disso, “as boas notícias sobre a exploração da Margem Equatorial colocam o Estado em uma posição estratégica para o futuro”, destaca Serquiz, que prevê a manutenção do crescimento industrial nos próximos anos.
A extração de petróleo e gás natural continua sendo o principal motor da indústria potiguar, com uma participação de 24,5% no PIB industrial, o que significa um montante de R$ 5,78 bilhões produzidos por 17 indústrias – números que colocam o RN em destaque nacional como um dos principais produtores de petróleo em terra. A pujança do setor também tem impacto positivo sobre outros segmentos, direta ou indiretamente, como serviços e transportes, que são beneficiados pela grande movimentação econômica gerada por essas atividades.
Embora a discussão sobre transição energética esteja em pauta, Serquiz acredita que o Rio Grande do Norte tem condições de conciliar o desenvolvimento do setor de petróleo com as estratégias tecnológicas de longo prazo. “Não vejo como incompatíveis o desenvolvimento da cadeia do petróleo e a transição para energias renováveis. Pelo contrário, o RN pode se consolidar como o ‘Estado das Energias’, aproveitando sua vocação tanto para combustíveis fósseis quanto para as novas fontes de energia”. No entanto, ele reforça que “ainda é necessário avançar em políticas públicas para garantir que o Estado aproveite plenamente seu potencial”.
Apesar dos números positivos, a indústria potiguar ainda enfrenta desafios importantes, tanto internos quanto externos. Entre os entraves citados por Roberto Serquiz estão a alta na alíquota modal de ICMS, de 18% para 20%, e a precariedade da infraestrutura logística, como estradas e portos. “Outro ponto é a baixa capacidade de investimento do Estado. A capacidade de investimento potiguar é muito baixa, o que torna necessária uma maior dependência de auxílios do governo federal e parcerias com a iniciativa privada”, destaca.
O economista Helder Cavalcanti Vieira reforça que o estado precisa aproveitar o momento positivo para impulsionar ainda mais o crescimento econômico. “Temos um cenário bem promissor. São dados extremamente positivos que precisam ser valorizados e incentivados. O Estado deve fazer a sua parte, investindo em infraestrutura, estradas e escoamento da produção, além de estimular as parcerias público-privadas para alavancar ainda mais esse momento favorável”, afirmou.
Construção civil lidera a geração de empregos no RN
A construção civil foi o setor que mais gerou empregos na indústria potiguar em 2022, com 40.533 trabalhadores formais empregados em 4.642 empresas do segmento. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado (Sinduscon), Sérgio Azevedo, destacou que a retomada de obras e investimentos públicos e privados foi crucial para esse desempenho. O Produto Interno Bruto do setor alcançou R$ 4,663 bilhões, ou seja, 19,77% do PIB total do Estado.
“Houve uma retomada de investimentos públicos em estradas e infraestrutura. Além disso, o estado continua sendo um polo de investimentos em energia renovável, com parques eólicos e solares, o que impulsionou o emprego no setor da construção civil. A construção civil desempenha um papel de protagonismo na economia potiguar, sendo uma das principais fontes de geração de renda e arrecadação de impostos, tanto diretos quanto indiretos”, ressalta.
Além das obras em infraestrutura, Azevedo ressaltou que o mercado imobiliário também teve uma importante retomada nos últimos anos, impulsionado por novos empreendimentos. Ele acredita que o crescimento deve se manter nos próximos anos, com a perspectiva de novos investimentos em Parcerias Público-Privadas (PPPs) e em concessões. “A partir de 2025, vamos ter uma forte participação das PPPs, tanto do Governo do Estado quanto das prefeituras. Isso será fundamental para suprir a baixa capacidade de investimento público e atender às demandas da sociedade”, explica.
Outro ponto levantado por Azevedo foi o crescimento da demanda por trabalhadores no setor da construção civil. Ele destacou que a falta de mão de obra qualificada tem sido um desafio crescente. “Estamos enfrentando uma escassez de mão de obra em várias áreas da construção. Por isso, vamos trabalhar forte com o Sesi e o Senai para capacitar novos profissionais e atender essa demanda. A formação de mão de obra é essencial para que o setor continue se expandindo e contribuindo para a geração de empregos”, acrescenta.
Outro desafio apontado por Azevedo é a modernização da legislação ambiental. “Enquanto nós não modernizarmos a 272, vamos cada vez mais desincentivar os incentivos do setor de energia renovável aqui no Estado. Então, nós precisamos urgentemente trabalhar na modernização da 272 para que a gente possa reconquistar os investimentos, tanto em parques eólicos quanto em parques solares”, comenta Azevedo, que também preside a Comissão Temática de Energias Renováveis da Fiern (Coere).
- Energias renováveis
O setor de energias renováveis também foi apontado como um dos motores do crescimento econômico potiguar. Segundo Helder Cavalcanti Vieira, que também é diretor de Gestão Corporativa do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN), a vocação natural do Estado para energia eólica e solar tem sido um diferencial importante no cenário industrial. Ele diz que esse movimento começou a se consolidar a partir de 2021, quando o estado retomou seu ritmo de crescimento industrial.
“É perceptível hoje o crescimento do Nordeste em termos de PIB é bem acima da média Brasil. O Rio Grande do Norte em especial tem uma grande vantagem que é a questão das energias renováveis, os dados mostram isso, evidenciam isso. A indústria do Rio Grande do Norte em especial está em um ciclo virtuoso da economia. Isso impacta também na construção civil, os dados mostram isso. Então a partir de 2021 essa situação vem se consolidando”, afirmou o economista.
O Rio Grande do Norte figura entre os líderes brasileiros na geração de energia eólica. A geração de energia solar também tem crescido. Há expectativas de investimentos em projetos de hidrogênio verde, o que pode consolidar ainda mais o protagonismo potiguar no cenário energético nacional. Helder Cavalcanti Vieira enfatiza que o RN deve continuar investindo em infraestrutura e parcerias público-privadas para garantir que os investimentos em energias renováveis se mantenham elevados.
- Raio-X da indústria potiguar (2022)
Cenário geral
PIB do Estado
R$ 93,82 bilhões
PIB Industrial:
R$ 23,58 bilhões
Participação no PIB total do Estado: 25,1%
Crescimento do PIB Industrial (2021-2022): 60%
Número de Indústrias: 9.659
Indústrias de transformação: 4.409
Construção Civil: 4.642
Serviços Industriais de Utilidade Pública: 353
Extrativas Minerais: 254
Trabalhadores na Indústria: 108.421
Média Salarial do Setor Industrial: R$ 2.803,25
Setores que mais contribuíram
- Extração de petróleo e gás natural: 24,51% (R$ 5,78 bilhões)
- Fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis: 24,17% (R$ 5,70 bilhões)
- Construção civil: 19,77% (R$ 4,66 bilhões)
- Fabricação de produtos alimentícios: 9,07% (R$ 2,13 bilhões)
- Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos: 5,73% (R$ 1,35 bilhão)
- Extração de minerais não-metálicos: 4,88% (R$ 1,15 bilhão)
- Confecção de artigos do vestuário e acessórios: 3,28% (R$ 773 milhões)
Fonte: IBGE/Observatório da Indústria/Mais RN
- Participação do PIB industrial no PIB total
2009: 18,8%
2010: 21,2%
2011: 21,8%
2012: 22,1%
2013: 20,8%
2014: 19,5%
2015: 18,7%
2016: 16,9%
2017: 16,6%
2018: 16,9%
2019: 16,4%
2020: 16,5%
2021: 18,3%
2022: 25,1%
Por Bruno Vital – Repórter
Fonte: Site Tribuna do Norte