16 de abril de 2025
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Foto: Drew Engerer/Getty Imagens

Donald Trump ainda não assumiu a presidência, mas as big techs já mostraram seus reais interesses por trás da suposta “luta pela liberdade de expressão”. 

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No dia do anúncio da Meta, bati um papo com o Francisco Brito Cruz, diretor-executivo do InternetLab, um centro independente de pesquisa que atua na intersecção entre direito e tecnologia.

Quando eu perguntei o que a Meta teria a ganhar abraçando o trumpismo e com essa “Elon Muskização”, o Chico disse que, na verdade, a pergunta certa é: o que ela tinha a ganhar antes, tentando agradar aos democratas e à imprensa? “É mais uma renúncia a esse lado do que qualquer coisa. Eles vão parar de performar essa tentativa de agradar,” ele explicou.

Talvez isso valha para o combate à desinformação também. Ao longo dos últimos anos, nós assistimos à empresa declarar para autoridades, tribunais e jornalistas que estava fazendo de tudo para combater a desinformação que se espalhou como fogo em mato seco nas suas plataformas. Até 2022, a empresa dizia ter investido mais de US$ 100 milhões em seus programas de checagem de fatos.

Apesar dessas declarações, vimos em repetidas ocasiões como a desinformação espalhada e distribuída nas redes da Meta causou danos na vida real. Em Mianmar, o discurso de ódio e fake news disseminada no Facebook contribuíram para o genocídio contra a minoria étnica Rohingya.

Nem é preciso ir longe: ficou amplamente documentado como o Facebook foi usado para organizar e amplificar a invasão do Congresso norte-americano em 6 de janeiro de 2021.

Fora o impacto mais granular, no nível individual, de pessoas cujas vidas foram afetadas pela desinformação e que não viraram notícia. Tudo isso mostra que, apesar de dizer que tinha o combate à desinformação como prioridade, os esforços ainda eram, no mínimo, insuficientes.

Por anos, a Meta contou com a parceria com agências de checagem de fatos como forma de dar mais contexto ao conteúdo mais viral de suas plataformas. É verdade que, pela escala, a checagem esteve longe de dar conta do universo desinformativo das plataformas, mas é uma atividade crucial e necessária para manter a sociedade informada.

Nesta semana, a Meta não só anunciou que vai encerrar a parceria com as agências como puxou o tapete delas: em seu vídeo, Mark Zuckerberg acusou os checadores de terem viés político e disse que o sistema promovia censura.

Se a desinformação era uma preocupação da empresa, agora não é mais. Ou, pelo menos, não é mais necessário fingir e performar. Mas essa virada não passou batido pelas autoridades brasileiras. Em um ofício enviado à Meta na quarta-feira, 8 de janeiro, o Ministério Público Federal pediu que a empresa explique se as medidas anunciadas valerão para o Brasil e detalhe as mudanças.

Na nota, o MPF apontou que as novidades “alteram radicalmente” o que a Meta havia informado anteriormente ao próprio MPF sobre as providências tomadas a fim de enfrentar a desinformação.

Mas nem tudo está perdido. Pessoalmente, não acredito que sair das redes sociais seja o caminho. Talvez eu até já tenha desejado isso e concordo que devemos discutir como usar esses espaços de modo mais saudável.

Mas não acho justo que tenhamos que abdicar das relações e conexões que construímos nessas arenas virtuais cada vez que um bilionário decide pivotar a maneira como as empresas operam, tornando as plataformas piores. É hora de retomar o controle e fazer valer o poder que nós, usuários, temos. Sem nós, as redes sociais não são nada.

Qual é o caminho, então? Especialistas, advogados e ativistas mundo afora estão tentando descobrir e viabilizar novas alternativas. Uma grande aposta tem sido redes como Mastodon e, mais recentemente, o Bluesky.

Conhecidas como plataformas federadas, elas funcionam através de uma rede de instâncias e servidores independentes construídos sobre um mesmo protocolo. No caso do Mastodon, essas diferentes instâncias têm, cada uma, suas próprias regras, definidas pelos membros.

Viabilizar esse futuro das redes federadas não é simples. Hoje, a grande discussão está ligada ao financiamento e à governança, que acaba ficando na mão de voluntários que administram essas diferentes instâncias.

Qual é a beleza dessas alternativas? O poder fica diluído, impedindo que uma tomada de poder unilateral destrua a rede como um todo e permitindo que as regras sejam construídas de maneira mais democrática e coletiva, em vez de impostas pela direção de uma empresa.

Se um Elon Musk ou um Mark Zuckerberg assumir o controle de uma das instâncias, a rede social pode prosperar independentemente deles. O futuro das redes está em tirar o controle delas das mãos dos oligarcas do Vale do Silício.

Texto de Laís Martins, jornalista

The Intercept Brasil