Desde que comecei a militar, um dos conceitos que mais desafiaram minha prática política foi o de “paciência histórica”. Este termo, muitas vezes mencionado em círculos revolucionários, transcende a simples espera. Ele remete à consciência de que a construção de um operador político verdadeiramente transformador — que possua uma base militante sólida e uma direção experiente e qualificada — é um processo que demanda tempo, estratégia e perseverança.
O mundo que habitamos é moldado por relações de poder profundamente enraizadas. Transformar essas estruturas exige não apenas ações imediatas, mas uma visão de longo prazo. É comum, especialmente entre os militantes mais jovens, sentir a urgência de mudar o mundo em ritmo acelerado. Essa pressa, no entanto, pode ser contraproducente, levando a erros de análise ou a ações desarticuladas que reforçam o mesmo sistema que se pretende combater.
A paciência histórica, longe de ser uma desculpa para a inércia, é a compreensão de que cada avanço deve ser sustentado por bases sólidas. Isso inclui a formação de lideranças comprometidas, o fortalecimento de alianças populares e o aprofundamento do debate político e ideológico dentro das massas. Construir uma revolução não é como montar uma máquina; é mais parecido com cultivar uma floresta.
O *tempo da revolução* também carrega desafios particulares. Vivemos em uma sociedade imediatista, marcada pela aceleração das informações e pela pressão de resultados rápidos. Este ambiente pode ser particularmente frustrante para quem luta contra desigualdades históricas e profundas. Afinal, como manter a paciência diante de tantas injustiças diárias? Como não sucumbir ao desânimo quando vitórias concretas parecem tão distantes?
A resposta, ao que parece, está em saber equilibrar o curto e o longo prazo. É fundamental comemorar pequenas vitórias, mesmo quando parecem insuficientes frente à magnitude do problema. Cada conquista, por menor que seja, contribui para a formação de uma consciência coletiva e para a construção de um projeto maior.
Além disso, a paciência histórica exige um compromisso ético e político com a educação e a formação. Ensinar, aprender e transformar a consciência política das pessoas é uma tarefa lenta, mas indispensável. Sem ela, qualquer mudança será superficial e temporária.
Por fim, a paciência histórica também implica um aprendizado constante. O mundo não é estático, e os movimentos políticos precisam estar abertos a mudanças de estratégia conforme as condições materiais e subjetivas da sociedade evoluem.
Assim, compreender e praticar a paciência histórica é um ato revolucionário em si. É o reconhecimento de que, apesar das pressões imediatistas, a transformação real só será possível se cultivarmos raízes profundas. Se quisermos mudar o mundo de forma duradoura, precisamos aprender a lidar com o tempo — não como inimigo, mas como aliado.
Porque, como já dizia uma antiga lição revolucionária, “o futuro pertence àqueles que sabem esperar, mas que nunca deixam de lutar”.