23 de dezembro de 2024
Solon Ribeiro traz ao Cariri exposição Cinema Impresso

Foto: Divulgação

A mostra Cinema Impresso, do artista cearense Solon Ribeiro, estreia na próxima terça-feira (17), às 18h, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) Cariri, em Juazeiro do Norte.

A exposição nasce do acervo de fotogramas herdado de seu pai, Eduardo Solon. Natural de Sobral, Eduardo começou a reunir ali, aos 11 anos, fotogramas de filmes, sendo o primeiro deles “Tarzan, o Filho da Selva”, de 1932. As imagens coletadas eram rigorosamente catalogadas em álbuns e abrangeu um grande recorte de astros de Hollywood, no apogeu do cinema americano.

Eduardo se mudou para o Crato e esse fabuloso arquivo abrangeu o período de 1920 a 1960 com fotogramas de cinemas de Sobral, Fortaleza e Crato. Eram, ao todo, 10 mil fotogramas, catalogados em 10 álbuns e milhares de imagens soltas. Com a modernização do cinema, o colecionador foi perdendo o interesse pela atividade e, num gesto radical, trancou a coleção em um cofre que raramente era aberto. Somente no final da década de 1990, após a sua morte, o material é revisitado, quando uma das filhas cede o arquivo para o irmão, o artista Solon Ribeiro.

De posse desse acervo, Solon traz para o Cariri um recorte de suas pesquisas com os fotogramas de família, na mostra Cinema Impresso. O eixo principal do trabalho são os desdobramentos poéticos desenvolvidos a partir da metade dos anos de 1990, que têm o arquivo de fotogramas como meio e subvertem a natureza daquelas imagens ao convocá-las para novas experiências relacionais. A ativação das imagens implica um gesto de libertação: as imagens que habitavam os álbuns da coleção do pai se transformam em meio para incontáveis  reescritas. Tal método reflete sobre o estatuto do arquivo e o radicaliza, tira-o de uma status adormecido e propõe uma nova operação — gerando um novo tempo, uma nova presença, uma nova memória —, com intervenções que projetam as imagens em distintos ambientes, arquiteturas e histórias.

Assim, poderão ser apreciadas fotografias que se articulam a partir dos frames e organizam uma nova sintaxe visual para eles, em uma nova perspectiva temporal e de corte. Em outro ponto da mostra, as imagens produzidas a partir de projetores artesanais relacionam a “ressignificação da imagem” versus “a melancolia da coleção enquanto arquivo estático”. Ainda nessa perspectiva da ‘’fatura popular’’, presente em sua pesquisa, o público poderá manusear um conjunto de monóculos que acolhem um recorte da coleção e assistir a uma exibição com suas últimas produções em vídeo: “O arquiteto dos sonhos”, “Perdeu a memória e matou o cinema”, “Quando o cinema se desfaz em fotograma”, “Myxomatosis”; e a instalação “O Golpe do Corte”.

A exposição atravessa também as memórias do Cariri presentes em sua pesquisa, como um caleidoscópio que projeta novas visualidades e amplifica a magnitude e a potência desse corpo de imagens, esse corpo-fotograma que transitou por tantas paisagens e limites. Nessa mostra, Solon – que também cultivou no seu gesto performático e de vida a ambiência dos parangolés de Hélio Oiticica – aponta para um Cinema Impresso, como se os fotogramas ilustrassem as páginas de um cordel. Cordel que ele reinventa desde o momento em que os fotogramas reivindicaram novas identidades e coreografias.

A exposição é gratuita e pode ser visitada até 25 de fevereiro de 2025.

 

Sobre o artista

Solon Ribeiro é um artista inquieto, provocador, vinculado a uma geração que transgrediu e experimentou em linguagens, meios e performatividades. Multidisciplinar, como formador e também no exercício de sua arte, utilizou de diferentes formatos nas suas pesquisas, articulando o corpo, o arquivo e a imagem. Professor e agente ativo nos processos das Artes Visuais no Ceará, tem no caráter formativo da sua prática um importante legado, tanto na universidade quanto em outras instituições. Diretamente ligado ao fazer contemporâneo, é uma voz fundamental na escrita da arte cearense — sua efetiva colaboração é percebida em importantes momentos ao longo das últimas décadas como a primeira graduação em Artes Visuais da Faculdade Gama Filho e a participação no Alpendre Casa de Arte Pesquisa e Produção, ambos em Fortaleza.

Nascido no Crato, em 1960, teve como primeiro alicerce visual a cultura popular. Naquelas terras, travou contato também com a produção da Tropicália, trabalhos de Gilberto Gil, Tom Zé, Macalé ou, ainda, José Celso Martinez Corrêa, na marcante encenação de “Galileu Galilei”. É, no entanto, a geração de artistas e a efervescência cultural da cidade, nos anos de 1970, que contribuem significativamente para seus processos como artista influenciado por aquela turma, formada por Tiago Araripe, Abidoral Jamacaru, Rosemberg Cariry, Luis Carlos Salatiel, Geraldo Urano, Socorro Sidrim, Cleivan Paiva, Emerson Monteiro, Bá Freire, João do Crato, entre outros.

Solon, como muitos artistas cearenses da sua geração, saiu de seu território para buscar novas perspectivas, tanto de formação quanto de trabalho. Fortaleza, São Paulo e Paris atravessaram seu caminho, enquanto a imagem e a fotografia, aliadas ao experimentalismo, eram alicerces das suas investigações. Formado em Comunicação e Arte pela L’école Superieure des Artes Décoratifs, na França, em 1990, é autor dos livros Lambe­Lambe: Pequena história da fotografia popularFotografia Contemporânea: Linguagem e Pensamento; e Perdeu a Memória e Matou o cinema.

 

Sobre o curador

Natural de Várzea Alegre/CE, Bitu Cassundé é curador, pesquisador, educador e gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato/CE). Foi curador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará de 2013 a 2020 e coordenou o Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema da Artes, entre 2013 e 2018. Integrou a equipe curatorial do projeto À Nordeste, no SESC 24 de Maio (São Paulo, 2019), participou da equipe curatorial do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (São Paulo, 2008 a 2010) e dirigiu o Museu Murillo La Greca (Recife, 2009 a 2011).

Em 2015, participou da 5ª edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça, da equipe curatorial do 19º Festival Videobrasil e do Arte Pará. Com Clarissa Diniz formou a coleção contemporânea do Centro Cultural Banco do Nordeste, vinculado ao projeto Metrô de Superfície. Seus principais projetos curatoriais foram: Leonilson – Sob o Peso dos Meus Amores, no Itaú Cultural (São Paulo, 201) e na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2012); Metrô de Superfície, no Paço das Artes (São Paulo, 2012); Metrô de Superfície II, no Centro Cultural São Paulo (São Paulo, 2013); Rotas: Desvios e Outros Ciclos, Leonilson Inflamável e Carneiro, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Fortaleza, 2013/2014); e Das Viagens, dos Desejos, dos Caminhos (Museu Vale/ES, 2014); Ze – Acervo de Experiências Vitais (MAC CE, 2018); À Nordeste (SESC 24 de Maio, SP).

Em 2022, curou Antonio Bandeira: Amar se Aprende Amando, na Pinacoteca do Estado do Ceará. Suas últimas pesquisas se dedicam a investigar as relações de trânsito entre as Regiões Norte/Nordeste do Brasil, com ênfase nos ciclos econômicos, fluxos migratórios  e as conexões entre vida, desejo e arte. Questões relacionadas à subjetividade, confissão, intimidade, biografia, também integram suas pesquisas. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em artes na UFPA/Belém. Vive entre Crato e Belém.

 

Serviço

Exposição Cinema Impresso

  • Artista: Solon Ribeiro
  • Curadoria: Bitu Cassundé
  • Abertura: 17 de dezembro de 2024 às 18h
  • Conversa com o artista e curador às 19h
  • Visitação: 18 de dezembro de 2024 a 15 de fevereiro de 2025
  • Local: Galeria do 4° andar – Centro Cultural do Banco do Nordeste Cariri
  • Endereço: Rua São Pedro, 337 – Centro, Juazeiro do Norte – CE
  • Horário de funcionamento: terça a sábado,12h às 20h

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✅ Renato Roseno em Bruxelas: Deputado cearense denuncia os perigos do uso de drones para pulverização aérea no Parlamento Europeu.

✅ Exposição Cinema Impresso: Solon Ribeiro traz ao Cariri a magia do cinema através de seu acervo único. 🎥

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