Professor de história, bom cozinheiro, amante da música folclórica e do canto popular, torcedor do Peñarol e, segundo ele, “bom jogador de futebol”. Yamandú Ramón Orsi Martínez, filho de trabalhadores rurais e donos de armazém no departamento de Canelones, que quando criança “tinha medo da lua”, tornou-se o presidente do Uruguai pela coalisão de esquerda Frente Ampla.
Orsi disputou o segundo turno das eleições com o candidato do Partido Nacional, Alvaro Delgado, apoiado pelo atual presidente, Luis Alberto Lacalle Pou.
Ganhou destaque no pleito após o forte apoio do ex-presidente José “Pepe” Mujica. No primeiro turno das eleições, Mujica subiu ao placo de um comício, mesmo com a saúde debilitada pelo câncer, para defender seu candidato com um discurso antológico.
Nascido no inverno de 1967, no povoado rural de Santa Rosa, ele relembra que foi em um dos dias mais frios de que se tem memória. “Sou da geada de 67, que todo mundo no campo lembra”, contou em entrevista ao programa Protagonistas, da rádio FM del Sol. Seu pai trabalhava no campo, em uma vinha, e sua mãe era costureira. Foi durante essa época, vivendo no campo, que, segundo ele recordou na entrevista, tinha medo da lua.
Em 1972, uma hérnia de disco impediu seu pai de continuar trabalhando no campo e forçou a família a mudar-se para a cidade de Canelones, no interior do Uruguai. Lá, abriram um armazém, onde Yamandú também trabalhou. Quando perguntado sobre como um filho de donos de armazém conseguiu chegar à presidência do país, ele responde: “Isso é o Uruguai”.
Ele garante que em sua casa “não sobrava nada, mas também não faltava nada”. Sua primeira professora foi sua irmã. “Com 5 anos recém-completados, eu lia o jornal. Os fregueses do armazém ficavam surpresos… e foi minha irmã quem me ensinou a escrever e ler”, contou na mesma entrevista. Ele foi educado em escola pública, além de ter recebido uma formação católica, tendo sido coroinha em uma capela. Hoje, no entanto, se define como agnóstico.
Seu interesse pela política nasceu de seu fascínio pela música popular dos anos 70 e 80. Artistas como Los Olimareños, Alfredo Zitarrosa, Larbanois & Carrero, Daniel Viglietti e Abel García marcaram sua adolescência, apesar de sua família “não falar sobre política”.
Com o retorno à democracia, depois da ditadura que assolou o Uruguai de 1973 a 1985, Yamandú estudou quatro anos para se tornar professor de história. Porém, após vários anos trabalhando como dono de armazém, professor e assistente em escolas do departamento de Maldonado, o destino o levou a outro caminho: a política.
Em 2005, ingressou como secretário-geral da Intendência de Canelones, e, desde então, sua vida foi dedicada à gestão política e à administração pública. Em 2015, tornou-se intendente de Canelones, o segundo departamento mais populoso do país, onde governou por dois mandatos consecutivos. Nas eleições internas de 2024, foi escolhido como o candidato da Frente Ampla, e em 2025, venceu as eleições nacionais.
Yamandú se orgulha de sua capacidade de diálogo e negociação, destacada durante sua campanha, que priorizou a ideia de “unir” os uruguaios. Dois de seus maiores mentores políticos foram Mujica e sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, além de Marcos Carámbula, ex-intendente de Canelones, com quem trabalhou diretamente.
Casado com Laura Alonso Pérez, Yamandú teve, aos 45 anos, dois filhos gêmeos: Victorio e Lucía, que contaram ao programa Protagonistas que adoram quando seu pai cozinha para eles.
Quando questionado no programa de rádio “Quem é Yamandú Orsi?”, ele respondeu: “Um uruguaio otimista, progressista de esquerda, que gosta muito de estar em contato com as pessoas, dos afetos, e de poder transformar, para melhor, uma realidade que para muitos é muito dura”.