Em uma eleição em que a direita prevaleceu, do eterno centrão aos renovados extremistas, e a esquerda foi tida como a grande derrotada – o que não é nenhuma novidade, aliás, com a força do antipetismo que emergiu na Lava Jato -, aproveito este espaço para falar um pouco das jovens lideranças de centro e de esquerda que se projetaram nessas eleições.
Afinal, em um país em que a direita ascendeu e se radicalizou nos últimos dez anos, em um fenômeno erroneamente lido como polarização, é preciso abrir espaço para um futuro progressista. E aí estou falando da nova geração, para além de 2026, em que aparentemente ainda teremos Lula, então com 82 anos, disputando as eleições.
Para ficar nos líderes com maior destaque: além de João Campos, 30 anos, que, como esperado, conquistou a reeleição em Recife com fabulosos 75% dos votos, a chegada de Guilherme Boulos ao segundo turno e a resiliência da centrista Tábata Amaral nas eleições em São Paulo, galvanizadas pelo jovem líder de extrema direita, Pablo Marçal, credenciam os dois deputados federais a sonhar com um papel político maior.
Tabata obteve mais de 600 mil votos em sua primeira disputa para um cargo eletivo e conquistou o respeito do eleitorado com uma atitude mais propositiva e educada do que os adversários homens. Aplicada, certamente aprendeu com a campanha e deveria ser mais valorizada pelo seu partido, o PSB de Campos e do vice-presidente Geraldo Alckmin. Gilberto Kassab, o cacique do PSD apontado como o grande vitorioso dessas eleições, já estava de olho em Tabata quando ela saiu do PDT, em 2019, e o cacife dela sem dúvida aumentou.
Do lado da esquerda, faz tempo que o presidente Lula sacou o potencial do líder psolista e o chamou para junto de si. “Boulos tem 35 anos. Eu tinha 33 quando fiz minha primeira greve. Você tem futuro, meu irmão”, disse o então ex-presidente, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos naquele 7 de abril de 2018. Horas depois, Lula se apresentaria voluntariamente à Polícia Federal de Curitiba, para cumprir o primeiro dos seus 580 dias de prisão, decretada pelo então juiz Sérgio Moro.
Naquele momento, o gesto do presidente ao deputado que, como ele, tem origem no movimento social, tinha a força do legado político. Revendo as fotos daquele dia, salta aos olhos a escolha simbólica de dois jovens, pré-candidatos à presidência que não eram do seu partido, para reafirmar a fé no futuro: Boulos, do PSOL, e Manuela, candidata do PCdoB, a quem Lula abraçou logo depois da frase dita a Boulos.
Imagino a ciumeira no PT.
Agora, a eleição em São Paulo é uma grande oportunidade para Guilherme Boulos com uma grande vantagem para o psolista: pesquisas e analistas indicam que o mais provável é que a mediocridade do atual prefeito, turbinado com recursos e máquina política vença o segundo turno. Se perder, não decepciona; se ganhar, faz milagre e desponta como a maior liderança jovem da esquerda no país. Sob as bênçãos do presidente Lula, que deve se envolver mais no segundo turno da campanha.
Não é o que se espera, mas Boulos pode surpreender. Nunes tem muitas fragilidades – de acusações de corrupção e favorecimento de amigos ao caso de violência doméstica contra a esposa.
“ Os que recordam do abandono da cidade durante os três anos anteriores à campanha, como expôs principalmente Tabata, durante os debates, só o reelegem se a rejeição ideológica a Boulos for maior. E, nesse campo, a briga com Pablo Marçal não o favorece. Os eleitores do ex-coach não são exatamente guiados pela razão. Sabe-se lá o que farão.
Além disso, o deputado do PSOL já conseguiu um grande feito anterior, nas eleições municipais de 2020 quando chegou ao segundo turno mesmo não sendo o único candidato da esquerda. Perdeu de Bruno Covas, herdeiro do PSDB que dominou São Paulo por décadas, mas dobrou a votação entre o primeiro e o segundo turno.
E o candidato ainda tem lenha para queimar nesta eleição, em que deveria ter chegado no primeiro lugar no primeiro turno, não fosse a confusão dos números de PT e PSOL; sem falar nas fake news de Marçal.
Seja qual for o resultado final da eleição, Boulos pode reforçar a sua liderança também dentro do PT, que até o momento não conseguiu apresentar novos nomes com cacife eleitoral e teve que reconquistar uma veterana que votou no impeachment de Dilma para ser a vice na chapa encabeçada pelo PSOL.
A renovação de lideranças é uma boa notícia para o campo progressista que, se não brigar entre si e souber conviver com o centro, como faz o presidente Lula, pode superar a direita, que sai destas eleições fortalecida, mas dividida. Do contrário, o que nos espera é uma nova expansão da direita como promete a união entre Kassab e Tarcísio de Freitas.
Por Marina Amaral
Diretora Executiva da Agência Pública