22 de novembro de 2024
A virtuosa e difícil travessia entre a realização e a autorrealização

 

Todos querem se realizar e ser feliz de uma forma ou de outra: no casamento, no trabalho, na vida social, no plano político, no meio acadêmico etc. Mas, o que poucos sabem é que a realização simplesmente é o ponto de partida para algo maior essencial e invisível. Nesse contexto, o caminho é estreito e a porta pequena (é semelhante à trajetória dos espermatozóides): poucos alcançam a realização almejada e desejada – plenamente! A maioria fica no meio do caminho. É porque nos desviamos com as propostas, avisos, convites e sugestões utilitárias subliminares.  Uma multidão inconsciente segue na escuridão em busca de uma luz que a oriente para o destino certo e correto. E nesse processo de busca inconsciente de uma realização plena nos contentamos com a realização parcial e pequena. O grande pedaço da realização fica intocável a espera da energia adequada e concentrada para o sucesso real. E assim nos distraímos psicologicamente com um mundo de prazeres e afazeres de segundo plano, de segunda importância e de pequeno mérito. Perdemos desse modo a noção de prioridade e identidade na busca da realização que de fato nos preencha e nos encante de vez. E por isso mesmo, passamos acreditar que o consumo de bens e qualidades externas é o parâmetro principal a ser perseguido, como referência, a qualquer custo. Nos entregamos de corpo e alma para alcançar esse objetivo menor.

Uma vida inteira se passa na busca da realização que antecede e é  interrompida quase sempre na morte certa sem ser alcançada de fato. Nesse sentido, a maioria persegue a realização visível e possível dentro dos padrões normais e culturais entre o nascimento e a morte física do ser. As tentativas de mudanças de percurso são variadas e sofridas de acordo com a sociedade e a cultura herdada dos antepassados. Nos tornamos cativos, portanto, da beleza, do sucesso, do poder, do sonho, da novidade e da esperança de uma realização calcada em bases materiais, sociais e culturais moldadas pelo tempo e lugar. Inevitavelmente acabamos por definir os objetos do desejo, no lugar da felicidade plena, como metas a serem alcançadas e que reflitam o esforço de chegada e conquista. E raros são aqueles que se aventuram buscar por outra avenida diferente na louca corrida de prazeres, compensações e competições desenfreadas.

A medida que  o tempo passa nossas energias vão se acabando junto com os cabelos brancos acumulados. Os bens e as qualidades conquistadas vão ficando para trás nas lutas entre classes, religiões, ideologias, filosofias, crenças, culturas e organizações corporativas. Acreditamos que sairemos vencedores nos  conflitos projetados inconscientemente. Aprendemos acumular no futuro o que no passado desejamos conquistar como realização: carros, motos, sítios fazendas, poupanças, viagens, emoções,  momentos “felizes” etc.

Quanto mais acumulamos mais vazios nos tornamos daquilo que é essencial para as nossas vidas. E esse vazio aumenta quando a realização não se torna de fato  presente no aqui e agora.  E  por isso nos esquecemos de qual realização devemos apostar nossas energias e consciências. Ela já nos foi apresentada pelos costumes e hábitos da nossa época. Romper com esse paradigma cultural e existencial é o desafio que não estamos de todo consciente. Isto porque a verdadeira realização é ao mesmo tempo um caminho, uma verdade e uma vida de conquista e mérito pessoal: a autorealização sem perder de vista a nossa necessidade pessoal e a  dos nossos semelhantes  preservando a natureza e amando a beleza da criação humana. Um desafio incalculável, poderoso e paradoxal!

Perguntaram ao Dalai Lama…

O que mais te surpreende na humanidade?

E ele respondeu:

“Os homens…Porque perdem a saúde para juntar dinheiro,

Depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.

E por pensarem ansiosamente no futuro,

Esquecem do presente de tal forma que acabam

Por não viver nem o presente nem o futuro.

E vivem como nunca fossem morrer….

….e morrem como se nunca tivessem vivido”.

 

Bernardo Melgaço da Silva

Prof. e ex-Pesquisador do Núcleo de Estudos Sobre Ciência, Espiritualidade e Filosofia – NECEF/URCA (Universidade Regional do Cariri); Dr. Iogue da Linha Prema Yoga de Sathya Sai Baba/Escritor e autor do Livro: O DOCE AMOR DIVINO QUE FLUIU DO CÉU PARA A TERRA EM 1988 – Baseado numa história real

HTTP://bernardomelgaco.blogspot.com

 

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