10 de novembro de 2024
Programa Cisternas: água de qualidade beneficia famílias no interior do Ceará

Foto: Internet

O momento em que a primeira gota d’água caiu da cisterna ficou marcado na memória da agricultora Lidiane Silvino, 29 anos, do Quilombo Córrego dos Iús, na área rural de Acaraú. “Os meninos ficaram debaixo da torneira, se molharam e até tomaram banho. Era uma alegria grande, sabe?”, recorda. Mãe de três crianças, duas meninas e um menino, a produtora rural deu sinal verde à felicidade das crianças: “gente, podem aproveitar, é água boa!”.

Assim, Lidiane descreve a felicidade de sua família ter sido uma das beneficiárias do programa Cisternas no Ceará. Ao lado do companheiro Felipe Rocha, ela lembra como era a vida antes “da água no quintal de casa”. “Antes para nós era uma dificuldade muito grande, principalmente para beber água. Faltava água de qualidade para nossos filhos. Depois que a gente ganhou a cisterna, foi uma mudança muito grande. Tudo mudou”, pontua a jovem quilombola.

A metáfora de chegar a um oásis foi a mesma com a implementação da tecnologia social no quintal da família quilombola de Acaraú. “Com poucos meses que a cisterna chegou aqui, nossa vida já melhorou bastante. E a dificuldade de água já acabou. Achei maravilhoso que minha família foi beneficiada com essa cisterna, pois a gente se esforçou bastante para conseguir e ter ela aqui em casa”, celebra Felipe Rocha, 33 anos, companheiro de Lidiane.

A 67 quilômetros dali, na Aldeia indígena Tremembé de Queimadas, e distante 34 quilômetros da sede do município de Acaraú, a indígena Jaene dos Santos, 24 anos, também beneficiária do programa, lembra da primeira vez que bombeou a água da cisterna. O sorriso vem involuntariamente. “Eu coloquei o balde no chão e quando consegui tirar água, eu disse assim: ‘Olha, Mardones (companheiro), já está dando para bombear a água’. Foi uma alegria só. O sol estava quente e a água bem geladinha. Foi uma maravilha. Mudou totalmente nossa vida”, recorda a líder indígena.

O sentimento de gratidão toma conta da indígena ao falar do programa Cisternas. “Ter sido contemplada com essa cisterna foi muito gratificante. A gente já tinha sido contemplado com as cisternas de plástico, mas nem todos aqui da nossa aldeia tinham, era só alguns. E agora a gente ter conseguido que toda nossa comunidade tivesse uma cisterna dessa, é muito maravilhoso”, agradeceu Jaene.

Retomada do programa

De caráter nacional e executado em parceria da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) com entidades do terceiro setor, o Programa Cisternas tem como objetivo ampliar as condições de captação, armazenamento e utilização da água para o consumo humano, produção de alimentos e sede animal, por meio do apoio à implementação de cisternas e outras tecnologias sociais de baixo custo e de comprovada eficiência técnica. No Ceará, o programa garante acesso à água para as famílias de produtores e agricultores de 14 regiões do Estado.

As famílias de quilombolas Lidiane Silvino e Felipe Rocha e da indígena Jaene dos Santos estão entre as beneficiadas com o programa. “Com a retomada do programa, essas primeiras cisternas são destinadas aos povos tradicionais, indígenas, quilombolas, povos de terreiros e pescadores ribeirinhos. A execução do programa se dá a partir do momento que é lançado o edital na SDA. Após esse processo, as entidades disputam e executam a política”, detalha o representante do Instituto de Desenvolvimento Social e Sustentável (Idess), Wagner Rafael, entidade executora de 234 cisternas na região.

Construção coletiva

No Vale do Acaraú, a entidade vencedora foi a Idess. A região recebeu um lote de 200 equipamentos de primeira água (16 mil litros) e 34 escolares. A execução do programa se dá pela união de muitas mãos. O trabalho envolve toda a comunidade beneficiada.

 

Para a instalação dessas tecnologias, além do processo construtivo, é necessário o envolvimento, ampla mobilização social e capacitações técnicas dos beneficiários. “Para a construção das cisternas é preciso muita gente porque a gente precisa ficar mapeando para não ficar buracos e com nenhum erro. Aqui todo mundo ajudou, meu tio, meu esposo. E tudo tinha que ser feito antes do período das chuvas, era preciso agilidade para deixar tudo pronto”, frisa Jaene.

O quilombola Felipe conta também da construção da cisterna. “Aqui foi feita pela gente. Quem fez a massa foi eu e a gente ajudou em tudo. Os pedreiros vieram para fazer as placas e depois finalizaram o trabalho. Foi muito legal fazer parte da construção dela”, destaca o jovem.

“Quando diziam assim, “uma cisterna de placa”, eu pensava que ela vinha pronta e colocava num buraco igual às de plástico. Para essa cisterna, a gente vê que tem todo um processo, da criação do material, para montar a placa. E tudo tinha que ser feito com agilidade para ser entregue na época da gente aparar a água e para depois beber no período sem chuvas. Dos seis meses a gente apara água para depois nos outros meses a gente ficar bebendo. É tão lindo ver ela ficando daquele jeitinho”, ressalta Jaene dos Santos.

Dever cumprido

Com um sorriso tímido, Lidiane Silvino agradece o empenho para a construção da cisterna, que tem garantido água de qualidade para sua família e para as 14 regiões do Ceará. “Eu tenho muito para agradecer ao grupo que participou da construção da nossa cisterna, a equipe que se esforçou para que o programa chegasse até a nós. Mudou nossa vida”, comemora.

 

O Programa Cisternas atende famílias cearenses com a construção de cinco tecnologias sociais: cisterna de placas de 16 mil litros para consumo humano, escolar, enxurrada, calçadão e reuso de água cinza. O principal objetivo dessa tecnologia social é o acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente a consumo humano a famílias de baixa renda e residentes na zona rural.

“Ver Jaene falar que é muito gratificante receber uma cisterna, ver nossos amigos Felipe e Lidiane agradecendo, ver a felicidade deles no olhar, é muito significativo para nós que trabalhamos com política social. Porque a gente não vem só para executar, meio que a gente entra na intimidade deles. A gente se torna parte deles. O nosso sentimento também é de gratidão, da gente ver que está dando certo. É a volta de um programa que não deveria ter parado e para o futuro, a nossa perspectiva é continuar ajudando quem precisa e fazendo os equipamentos bem feitos”, finaliza Wagner Rafael, do Idess.