Por Gabriela Casseff
(Folhapress) — Manifestantes se reuniram na tarde deste sábado (15) na avenida Paulista, em São Paulo, para protestar contra o PL do Estupro, que pode equiparar a punição para o aborto à reclusão prevista em caso de homicídio simples.
Os participantes do ato apelidaram o texto de “PL da gravidez infantil” e fizeram críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Coletivos feministas, movimentos sociais e a Frente Estadual para Legalização do Aborto convocaram o ato, que começou às 15h. O protesto ocupou inicialmente uma das pistas da Paulista em frente ao Masp e, depois, iniciou uma caminhada até a praça Franklin Roosevelt, na Consolação.
“Queremos o arquivamento desse projeto nefasto”, disse Maria das Neves, integrante da União Brasileira de Mulheres.
“É um retrocesso civilizatório, usam nossos corpos como moeda de troca e avançam com a política do estupro”, continuou Neves. “Mas as mulheres brasileiras vão colocar para correr esse PL.”
O alvo dos gritos de guerra dos manifestantes era Lira, que aprovou a urgência do projeto na última quarta-feira (13), em votação-relâmpago.
“Fora, Lira”, gritavam em coro, além de “criança não é mãe e estuprador não é pai”.
Uma dessas vozes era de Juliana Bruce, 40, grávida de 18 semanas. “Esse é um movimento importante para defender crianças, mas também mulheres adultas. Queremos ter nossos direitos mantidos, não dá para retroceder. É uma aberração”, disse ela sobre o PL.
A gestora ambiental Ana Paula Cutolo Cortez, 40, levou os filhos de 8 e 6 anos ao ato. Para ela, estar na rua é uma maneira de levantar a voz contra o “silencio que favorece os opressores”.
“Sei a responsabilidade e a dedicação que é criar família, a importância de uma infância com atenção dos pais, e é terrível pensar em mulheres que não escolherem gerar uma vida se verem obrigadas a criar uma criança em contexto hostil”, afirmou.
“Ninguém quer ver uma criança sendo obrigada a parir aquilo que foi objeto de extrema violência”, acrescentou Luka Franca, do Movimento Negro Unificado.
Pai de uma menina, o psicanalista Ivan Martins, 63, afirmou que não deseja que sua filha cresça em um mundo dominado por “fanáticos religiosos que ditem o que ela pode fazer”. “Importante vir para a rua defender direitos básicos e civilizatórios, direitos da família”, disse ele.
Além de pedir o arquivamento do projeto, os manifestantes reivindicavam que mais hospitais que realizem a interrupção da gravidez acima de 22 semanas.
“Queremos atendimento do aborto previsto por lei em todas as capitais do país”, diz Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão.
A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) participavam da manifestação.