23 de novembro de 2024
CAPITÃO-davi

Nome conhecido entre os defensores das escolas cívico-militares, o Capitão Davi Lima Sousa é figura frequente nos gabinetes de políticos do país. Nas redes sociais, ele tem fotos com deputados estaduais e federais, vídeos com prefeitos de diferentes cidades, e aparece em imagens ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil General Braga Netto.

O trânsito entre os políticos não é à toa. O próprio capitão já disputou duas eleições. Em 2018, quando carregava a patente de tenente do Exército, o militar tentou uma vaga de deputado do Distrito Federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), mas terminou o pleito com 1.803 votos e o posto de suplente.

Em 2022, seu nome voltou a aparecer nas urnas, já com o título de capitão, e desta vez como candidato a deputado federal pelo PL, mesmo partido de Bolsonaro. Outra vez, o militar saiu da disputa com a vaga de suplente depois de receber 3.826 votos.

Capitão Davi não é suplente de um deputado específico, mas sim da coligação que o elegeu — para os cargos eleitos pelo sistema proporcional, como o dos deputados, a regra é que os suplentes serão os candidatos mais bem votados do partido ou da coligação logo depois daqueles efetivamente vitoriosos nas urnas.

Nas duas eleições que disputou, a principal bandeira do candidato foi a militarização das escolas no país.

Em 2019, em meio ao surgimento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (PECIM), durante o governo Bolsonaro, Capitão Davi criou a Associação Brasileira da Educação Cívico-Militar (Abemil) e passou a oferecer os serviços da entidade sem fins lucrativos para prefeituras de várias cidades do país como forma de viabilizar a implantação do modelo nos colégios municipais.

No lobby para vender o formato, o militar, que é presidente da entidade, participa pessoalmente de audiências públicas e faz reuniões com vereadores e prefeitos. O site da associação chega a mostrar o passo a passo para que ela seja contratada pelos governos municipais. Como mostrou o Metrópoles, a receita tem rendido cifras milionárias à entidade: em cinco anos de existência, a Abemil já soma R$ 11 milhões em termos assinados sem licitação com pelo menos 10 prefeituras.

As parcerias firmadas deixam a cargo da associação, por exemplo, a seleção dos militares que vão atuar nas escolas e a fiscalização das regras de conduta que os estudantes devem seguir. Nas redes sociais, Capitão Davi defende o modelo aplicado pela Abemil como uma forma de combater o que ele chama de “ideologia” nas escolas.

Na última semana, o militar divulgou um vídeo em que um grupo de crianças aparece cantando uma música pró-Palestina para defender a militarização das escolas.

“Eles, na verdade, só querem que seu filho seja uma peça do tabuleiro ideológico deles. Por isso, temem o grande avanço das Escolas Cívico-Militares. Vamos cuidar bem de nossos filhos”, disse o militar na publicação. A imagem compartilhada, no entanto, não foi gravada em um colégio.

Bolsonarista aguerrido, Capitão Davi frequentemente usa suas redes para convidar seguidores a participarem de atos a favor do ex-presidente, e fez campanha para ele nas duas últimas eleições, com direito a participação em uma caravana que buscava angariar votos para a reeleição de Bolsonaro. Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito, o militar tem publicado uma série de recortes de vídeos com críticas ao petista.

“Independente e apartidária”

Procurada pelo Metrópoles, a Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil) afirma ser “independente e apartidária”, e que foi constituída com o “propósito inequívoco de implementar e manter o modelo de educação cívico-militar”. A entidade diz prestar serviços em 19 escolas em todo o país e contar com “um corpo de funcionários civis e militares da reserva, criteriosamente selecionados”.

“Reiteramos que as ações da Abemil estão voltadas para o fortalecimento da educação cívico-militar no país, promovendo a disciplina, a responsabilidade, o patriotismo e o desenvolvimento cívico entre os jovens brasileiros”, afirma. Segundo a entidade, a implantação das escolas cívico-militares passa por “processos rigorosos”, como a realização de audiências públicas, aprovação de leis municipais e consulta a pais, alunos e professores.

“A adesão ao modelo é voluntária, respeitando o princípio da legalidade e a autonomia federativa (estadual e municipal). A Abemil não interfere na criação ou alteração de leis”, diz.

Em seus contratos de consultoria, a Abemil diz fazer “visitas técnicas periódicas com o objetivo de capacitar o corpo militar e apoiar a equipe didático-pedagógica-administrativa das escolas” para “assegurar um ambiente escolar seguro e propício ao aprendizado com melhoria na qualidade do ensino”.

A associação ainda afirma que sua atuação tem rendido resultados positivos deste modelo de gestão e cita como exemplos a Escola Cívico-Militar Liceu Codoense Nagib Buzar, em Codó, no Maranhão, que alcançou a nota 5,3 no Ideb, acima das médias nacional e estadual, e a Escola Cívico-Militar Maria Cristina Sutti Lopes Moreno, em Lins, que obteve a nota 6,42 no Ideb.

A entidade diz também que o objetivo das escolas cívico-militares “não é a militarização da educação”, mas sim “a cooperação para uma educação de excelência”, e que 19 governadores, incluindo Tarcísio, “estão estadualizando as escolas cívico militares para assegurar a continuidade deste modelo”. “É importante ressaltar que o projeto de Educação Cívico-Militar não interfere em nenhum um ponto das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica instituídas pelo MEC”, conclui.

Publicado pela Revista Fórum