COLUNA NORDESTINADOS A LER
Por Luciana Bessa
Na década de 80, quando ingressei no espaço escolar, deparei-me com um ambiente marcado pela hierarquização: professor, manda; estudante, obedece. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas a educação permanece piramidal.
Ainda não conhecia Paulo freire, Patrono da Educação Brasileira, mas já me sentia um receptáculo de informações jogadas pelos professores. O pior de tudo é que me sentia culpada por não conseguir absorver o que supostamente me ensinavam.
Imaginava se os(as) outros (as) estudantes se sentiam perdidas como eu, ou se conseguiam “guardar” todo aquele conhecimento distribuído em sala de aula. Como sempre fui fantasiosa, deseja cadeiras em círculos para que pudéssemos ver uns aos outros e, o mais importante: cada um de nós dando sua opinião sobre o livro lido e não respondendo a uma ficha de leitura.
Na minha inocência, eu desejava que a sala de aula fosse um lugar para o debate e para a troca de experiências. Um lugar em que os professores potencializassem a leitura e descobrissem escritores.
Anos depois viria a conhecer o poeta gauche da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade. Em um de seus textos, “Um escritor nasce e morre”, ele afirma: “Foi aí que nasci. Nasci na sala do 3º ano, sendo a professora D. Emerenciana, que Deus a tenha. Até então, era analfabeto e despretensioso”.
Penso que seja assim que os jovens chegam às escolas: analfabetos e despretensiosos, mas com a expectativa de os professores criarem pontes para o universo da leitura e da escrita.
Na maioria das vezes são justamente esses profissionais, que não tiveram uma boa relação com a leitura e com a escrita, que destroem tais pontes. É preciso motivação, incentivo para ler/escrever. É preciso ter um significado e um sentido.
Quando isso não acontece, o educando se sente disperso e desmotivado, principalmente em nossos tempos em que com apenas um “Google” encontramos resumos/resenhas/vídeos sobre as obras literárias; além de ferramentas artificiais capazes de escrever textos nos mais diferentes gêneros literários: poesia, conto, crônica, cartas, etc.
Infelizmente, a educação brasileira é (re)produtora de uma ideologia dominante. Ela não é pensada para dar voz aos sujeitos que todos os dias, munidos de milhares de dificuldades, entram pelos portões da escola, não só em busca de conhecimento, mas de experiências que possam transformar suas vidas.
Enquanto não aniquilarmos a “educação bancária”, continuaremos com lousas digitais, alunos com tabletes, mas sem interesse pela leitura, com dificuldades para interpretar um texto e com pavor de escrever uma simples redação para o Ensino Nacional do Ensino Médio (ENEM).
A pergunta de milhões é: como as escolas podem formar estudantes protagonistas? Ou seja, capaz de expor e debater ideias, desenvolver sua criatividade, melhorar seu raciocínio lógico, seu senso crítico, reflexivo, ético e ampliar suas habilidades socioemocionais. Sigamos na busca por respostas!