O Brasil, conhecido por sua diversidade cultural e étnica, também enfrenta desafios significativos quando se trata de questões raciais.
Uma nota técnica recente divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a maioria das pessoas presas em flagrante durante batidas policias no Brasil são negras. Ainda nessa nota técnica os réus processados por tráfico de drogas 46,2% dos acusados são negros e 21,2% são brancos.
A realidade é que o racismo estrutural permeia várias esferas da sociedade brasileira, impactando de forma desproporcional a vida da população negra.
Os dados sobre violência contra a população negra no Brasil são preocupantes e revelam uma realidade alarmante. De acordo com o Atlas da Violência 2020, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2018, o número de homicídios de pessoas negras foi 75,7% do total de homicídios. Essa disparidade é ainda mais chocante quando consideramos que os negros representam apenas cerca de 56% da população do Brasil, conforme o IBGE.
Além disso, a violência policial contra negros é uma realidade cruel. O monitoramento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que, em 2019, 75% das vítimas de intervenções policiais no Brasil eram negras. Esses números demonstram uma clara disparidade no tratamento das forças de segurança em relação à população negra, o que evidencia o racismo institucionalizado.
O Brasil tem testemunhado inúmeros casos de racismo, tanto em níveis individuais quanto institucionais. Recentemente, um caso que ganhou grande visibilidade foi o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro, por seguranças de uma rede de supermercados em Porto Alegre. Esse episódio provocou indignação nacional e ressaltou a urgência de enfrentar o racismo em todas as suas formas.
Além disso, é comum ouvir relatos de discriminação racial em espaços públicos, como lojas, escolas e até mesmo instituições governamentais. O acesso desigual a oportunidades educacionais, empregos e serviços básicos também é uma manifestação do racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira.
Diante desses desafios, o movimento negro no Brasil tem desempenhado um papel fundamental na luta contra o racismo e na promoção da igualdade racial. Organizações como o Movimento Negro Unificado (MNU), o Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) e a Coalizão Negra por Direitos têm trabalhado incansavelmente para conscientizar a população, promover políticas afirmativas e combater a discriminação racial em todas as suas formas.
Protestos, marchas e campanhas nas redes sociais são algumas das estratégias utilizadas pelo movimento negro para denunciar casos de racismo e pressionar por mudanças. Além disso, a promoção da representatividade negra em espaços de poder e a valorização da cultura afro-brasileira são aspectos fundamentais dessa luta contínua.
O Brasil é um país marcado por profundas desigualdades raciais, onde o racismo estrutural continua a impactar negativamente a vida da população negra. Os números alarmantes de violência, os casos frequentes de discriminação e a resistência incansável do movimento negro evidenciam a urgência de enfrentar esse problema de frente. Somente através de um esforço coletivo, que envolva o Estado, a sociedade civil e as instituições, será possível construir um país verdadeiramente justo e igualitário para todos os seus cidadãos.
EDITORIAL do jornal Leia Sempre Brasil edição 207, 15/03/2024