A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou cerca de 10 mil consultas informais no sistema de espionagem israelense FirstMile, sem que essas informações fizessem parte de operações oficiais do órgão. O FirstMile, uma ferramenta israelense, foi empregado ilegalmente para monitorar opositores e críticos do governo Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o jornal O Globo, os registros do FirstMile indicam que a Abin utilizou o sistema entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, totalizando aproximadamente 60 mil consultas. Durante os meses que antecederam as eleições municipais de 2020, setembro e outubro, foram realizadas 35 mil pesquisas na ferramenta israelense.
O sistema, inicialmente acessado por sete computadores restritos, acabou sendo compartilhado com diversas áreas da agência, incluindo a “turma de buscas”, a “coordenação de fontes humanas” e a “fração que cuida da proteção presidencial”, de acordo com registros internos da Abin.
Um oficial da Abin realizou sozinho mais de 33 mil consultas no FirstMile, enquanto outro fez mais de 11 mil pesquisas. Há indícios de que senhas de acesso eram compartilhadas, violando as regras de segurança do órgão de inteligência. O acesso à ferramenta também evoluiu de uso local para acesso remoto, permitindo que os agentes utilizassem o sistema de qualquer lugar e dispositivo.
Em uma investigação interna, o oficial mais ativo no uso do FirstMile admitiu que nem todas as consultas estavam atreladas a um plano de operação formal, citando a “falta de gestão documental da agência” como uma dificuldade.
“As consultas no FirstMile deveriam estar relacionadas a uma operação específica registrada no sistema da Abin. Mas nem todas seguiam esse protocolo formal. Alguns pedidos de consultas eram feitos por meio de WhatsApp e por integrantes da agência de áreas que não deveriam ter acesso ao programa”, destaca a reportagem.