As 12 escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro desfilarão na Sapucaí, no centro da cidade, nos próximos dias 11 e 12 de fevereiro, domingo e segunda-feira de Carnaval. Para você não perder nenhum detalhe da festa, o Brasil de Fato preparou um resumo de cada enredo que será levado à avenida nos dois dias.
Atual campeã da Série Ouro, oriunda do Grupo de Acesso, a Porto da Pedra vai ser a primeira a desfilar no domingo (11), enquanto a penúltima colocada do Grupo Especial em 2023, Mocidade Independente de Padre Miguel, abrirá a segunda-feira (12).
Este ano, a apuração dos votos do grupo especial acontece na Cidade do Samba, na região central do Rio, no dia 14 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas. Já o Desfile das Campeãs será no sábado seguinte, dia 17.
Confira os enredos pela ordem dos desfiles do grupo especial em 2024:
Domingo (11 de fevereiro)
Porto da Pedra
Carnavalesco: Mauro Quintaes
A Unidos do Porto da Pedra, fundada em 1978, volta à elite do Carnaval carioca após 12 anos no grupo de acesso com o enredo “Lunário Perpétuo – A profética do saber popular”. O Tigre de São Gonçalo vai celebrar na avenida a sabedoria popular do Nordeste a partir da influência do lunário de saberes seculares que desembarcou no Brasil no século 18.
“Sou seu lunário! Conselheiro imortal! / Já ‘folheando’ cada ponto cardeal / Alquimia de almanaque (sou eu, sou eu) / Cada toque no atabaque (sou eu, sou eu)”, diz a letra do samba em referência ao livreto que se fundiu aos saberes populares nordestinos.
Beija-Flor de Nilópolis
Carnavalesco: João Vitor Araújo
A Sapucaí será palco de um encontro mágico de personagens reais, mas que nunca se viram, das realezas de Maceió e da Etiópia com uma corte de sangue azul e branco de Nilópolis, na Baixada Fluminense. O enredo da Beija-Flor “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila” mergulha na história e herança africana do folião alagoano e rei dos carnavais Rás Gonguila.
“Herdeiro da dinastia e das lutas de zumbi / De palmares as palmeiras e marés / Da cultura e bravura dos tupis e caetés / De nobre engraxate ao novo horizonte / Real cavaleiro dos montes”, canta a escola sobre a trajetória do menino que nasceu Benedito e se consagrou carnavalesco fundador do bloco Cavaleiro dos Montes.
Acadêmicos do Salgueiro
Carnavalesco: Edson Pereira
O Salgueiro leva o Brasil indígena para a Sapucaí a partir da tragédia e da luta do povo Yanomami. Com o enredo “Hutukara”, o céu que desabou na terra-floresta, a escola percorre a cosmologia Yanomami e critica a tirania do invasor. Dos espíritos ancestrais ao desmatamento, até chegada dos garimpeiros na maior Terra Indígena (TI) do país, o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista da Funai Bruno Araújo Pereira, em 2022, também é lembrado no samba.
“Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom / Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom / Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso, / não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”! /Napê, nossa luta é sobreviver!”, canta o Salgueiro.
Grande Rio
Carnavalescos: Leonardo Bora e Gabriel Haddad
A escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, apresenta a narrativa mitológica da tribo tamoio, os Tupinambá do Rio de Janeiro, sobre a origem do mundo. Segundo um valente tupinambá, os descendentes da primeira mulher e do único sobrevivente do dilúvio aprenderam a respeitar a onça como o espírito maior. A lenda vem sendo perpetuada nos cantos e mitos de diversos povos.
“É preta, parda, é pintada, feita a mão / Suçuarana no sertão que vem e vai Maracajá, jaguatirica ou jaguar / É jaguarana, Onça Grande, mãe e pai”, diz o refrão do samba-enredo “Nosso destino é ser onça” que tem como base o estudo dos fragmentos sobre a cultura indígena do escritor Alberto Mussa.
Unidos da Tijuca
Carnavalesco: Alexandre Louzada
A Unidos da Tijuca desembarga em solo lusitano para homenagear a história e as lendas de Portugal. Terra de José Saramago, Luiz Vaz de Camões, da Virgem de Fátima e tantos outros personagens e divindades. A escola traz no enredo “O Conto de Fados”, uma reverência ao estilo musical icônico da cultura portuguesa.
“Um samba fadado / Ao mar do outro lado / A pescar histórias, memória ancestral / Viaja na bruma da branca espuma / Pra encantar no Carnaval”, diz um trecho do samba que volta no tempo em que o reino mítico de Portugal era conhecido como “Ofiússa” pelos antigos gregos, que significa terra das serpentes.
Imperatriz Leopoldinense
Carnavalesco: Leandro Vieira
Com o enredo “Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda”, a atual campeã do carnaval vai em busca do bicampeonato inspirado na cigana escrita há mais de 100 anos por Leandro Gomes de Barros. Esmeralda deixa como testamento uma espécie de manual no qual escreveu todas as formas de ler a sina de uma pessoa, desde pelas linhas na palma da mão, até pelo conteúdo de um sonho.
“Ê Cigana, a caravana está em festa / Tem fogueira, dança e seresta / Nesta avenida da ilusão / Ao som de violão e violino / O verso da mais pura inspiração / Descobri seu testamento e fiz um manual / Sonhei a vida feito carnaval / Em devaneios e magia / Cerquei por todos os lados, / Riscando a fé no talão / Apostei na coroa e no coração”, canta a escola.
Segunda-feira (12 de fevereiro)
Mocidade Independente
Carnavalesco: Marcus Ferreira
A Mocidade vai carnavalizar o fruto do cajueiro com o enredo “Pede Caju Que Dou… Pé de Caju Que Dá!” para contar as histórias e lendas do fruto e da castanha, desde os povos originários até o fruto sendo levado por europeus pela primeira vez. Também do fruto que é símbolo do movimento tropicalista, da brasilidade e da sensualidade.
A escola de Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio, promete levar para a avenida alegorias inspiradas nas obras de artistas como Tarsila do Amaral e Debret. “Eu quero um lote / Saboroso e carnudo / Desses que tem conteúdo / O pecado é devorar / É que esse mote beira antropofagia / Desce a glote, poesia / Pede caju que dá / Delícia nativa / Onde eu possa pôr os dentes / Que não fique pra semente / Nem um tasco de mordida / E aí tupi no interior do cafundó / Um quiprocó virou guerra assumida”, diz a letra do samba que caiu no gosto popular.
Portela
Carnavalescos: Antônio Gonzaga e André Rodrigues
Baseado no romance “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves, o enredo homônimo da Portela narra a saga de uma negra matriarca que se confunde a tantas outras até os dias de hoje. O enredo refaz os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luiza Mahim, através de seu filho, Luiz Gama.
“Salve a lua de Benin / Viva o povo de Benguela / Essa luz que brilha em mim / E habita a Portela / Tal a história de Mahin / Liberdade se rebela / Nasci quilombo e cresci favela!”, canta o samba-enredo.
Carnavalesco: Paulo Barros
A Vila Isabel volta ao passado com uma reedição do enredo “Gbala, viagem ao templo da criação”, desenvolvido em 1993 pelo carnavalesco Oswaldo Jardim, que morreu precocemente, aos 43 anos, em 2003. O samba de Martinho da Vila dá vida à narrativa criada à época, utilizando a cultura Yorubá como base criativa.
“Então foram abertos os caminhos / E a inocência entrou no Templo da Criação / Lá os guias protetores do planeta / Colocaram o futuro em suas mãos”, canta a Vila no enredo que reflete sobre os males da humanidade e a possibilidade de salvação através das crianças.
Estação Primeira de Mangueira
Carnavalescos: Annik Salmon e Guilherme Estevão
A verde e rosa vai homenagear a cantora Alcione, umas das maiores vozes brasileiras, com o enredo “A Negra Voz do Amanhã”. O desfile apresenta ao público as raízes, valores, tradições e, claro, o contato de Alcione com a música desde pequena no Maranhão. O samba que embala sua trajetória na avenida coloca Marrom entre os grandes nomes da história da Mangueira.
“Vai provar que o samba é primo do jazz / Falar de amor como ninguém faz / Nas horas incertas, curar dissabores / Feito uma loba impor seus valores / E seja o pilar da esperança / Das rosas que nascem no morro da gente / Sambando, tocando e cantando / Se encontram passado, futuro e presente / Mangueira! De Neuma e Zica / Dos versos de Hélio que honraram meu nome / Levo a arte como dom / Um Brasil em tom marrom que herdei de Alcione”, canta a verde e rosa.
Paraíso do Tuiutí
Carnavalesco: Jack Vasconcelos
“Glória ao Almirante Negro!” é o tema do enredo da Paraíso do Tuiutí, escola de São Cristóvão, na Zona Norte. João Cândido foi um marinheiro brasileiro que liderou o movimento de revolta contra os maus-tratos sofridos a bordo. Tomado o controle das embarcações, em plena baía carioca, os canhões virados para a cidade exigiam o fim da fome e da chibata.
“Nas águas da Guanabara / Ainda o azul de Araras / Nascia um herói libertador / O mar com as ondas de prata / Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador / Eram navios de guerra, sem paz / As costas marcadas por tantas marés / O vento soprou à negrura / Castigo e tortura no porão e no convés”, começa a letra do samba que tem Moacyr Luz entre os compositores.
Viradouro
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Fechando os desfiles de 2024 do grupo especial, a niteroiense Viradouro traz o enredo “Arroboboi, Dangbé” sobre o culto ao vodun serpente no reino de Daomé, na costa ocidental da África. O carnavalesco conta de um pacto místico que influenciou vitórias significativas de mulheres-soldados, as guerreiras Mino, consagradas na fé e nas batalhas, protegidas pelo sobrenatural.
“Eis o poder que rasteja na Terra / Luz pra vencer essa guerra, a força do Vodun / Rastro que abençoa Agoyê / Reza pra renascer, toque de Adahum / Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher / Um levante à liberdade, divindade em Daomé”, diz um trecho do samba.
Fonte: BdF Rio de Janeiro