Alexandre Lucas
Pedagogo e integrante do Coletivo Camaradas
A luta pelo direito à cidade é o reconhecimento de uma cidade negada, essa é a premissa que movimenta sonhos, retrocessos e conquistas que reconfiguram as paisagens de habitat humano. Na comunidade do Gesso, no Crato-CE, a luta pelo direito à cidade vem sendo pautada como estratégia de integração de uma parte da cidade que historicamente foi excluída do processo de urbanização e humanização.
Contextualizar a comunidade é dos caminhos para entender, a sua estratificação socioespacial. A localidade foi palco de uma das maiores zonas de prostituição de região sul do Estado do Ceará, que teve origem na década de cinquenta do século passado e durou até o início da década de noventa.
Nas duas últimas décadas e fruto da luta organizada, a paisagem urbana da comunidade vem sofrendo alterações significativas que possibilitam pensar novas formas de urbanização para além do concreto e do asfalto.
A capacidade de diálogo, formulação e enfrentamento com o poder público tem sido o viés de conquistas.
A contra narrativa que se opõe a narrativa de estigmatização, coitadismo e violência foi outro elemento que evidenciou a localidade e o seu território como lugar da potência criativa, da esperança e da construção coletiva. A ação concreta de democratização estética, artística, discussão ambiental, geração de renda e organização comunitária desenvolvida pelas organizações que atuam no lugar colocou a comunidade no farol das políticas públicas.
Foi a partir deste processo que foi construído o primeiro equipamento público na localidade, uma quadra esportiva. No largo que que dar nome a localidade e o centro de gravidade para entender o seu contexto socioespacial.
Em 2018, o Coletivo Camaradas juntamente com o Projeto Nova Vida, Paraíso dos Caipiras, Terreiro do Mestre Roxinha e o Museu e Escola de Arte Raimunda de Canena elaboraram um documento sobre urbanização social, o qual foi encaminhado em formato de abaixo-assinado à gestão municipal. O documento contextualiza a comunidade e seu território e apresenta uma série de proposições que visam promover a cidadania cultural, o encontro de gerações, o trânsito humano e o diálogo intercomunitário. Dentre as proposições está a construção da Praça do Gesso, a partir de uma perspectiva de urbanização social.
A Praça do Gesso surge a partir destes diálogos com o poder e o seu formato é desenhando a partir de demandas sociais e da historicidade do lugar.
A Praça estará abraçada pelo Sítio Urbano do Gesso, reconhecido pela Lei Municipal nº 3.612, de 27 de novembro de 2019, localizado nas margens da linha férrea. Uma importante conquista ambiental e urbanística de caráter comunitário.
A Praça pode servir como o espaço para reunir as esperanças, a dignidade humana e ser palco para reinventar a vida, mas entre o espaço físico e as pessoas devemos insistir na ocupação dos sonhos para um mundo melhor. O que requer o entendimento de que a luta pelo direito à cidade deve ter norte e permanência para além das estruturas físicas.
A Praça do Gesso é fruto da luta e essa luta tem a marca de vários contextos que não exclui nem o poder público e muito menos os movimentos sociais.